(Rio) A instalação de portas giratórias nas agências bancárias é uma reivindicação antiga do movimento sindical. A resistência dos bancos foi grande, mas, hoje, boa parte das unidades é equipada com o dispositivo. Mas os problemas são constantes e a situação que culminou com o assassinato do jornaleiro Jonas de Souza na última sexta-feira, no Itaú do Rio, é apenas um dos exemplos de como o mau uso deste recurso pode acabar mal.
As portas giratórias reivindicadas pelos bancários são bem diferentes das instaladas na maior parte das agências. “Esta que vemos em quase todos os lugares não passa de uma porta de hotel adaptada, com um controle de travamento. Ela não oferece grande segurança”, revela Vera Luiza Xavier, diretora do Sindicato do Rio e funcionária do Itaú. “A porta que reivindicamos é eficiente e muito mais cara”, completa a sindicalista.
Gutemberg de Oliveira, diretor da Fetec-SP e membro da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada – CCASP – detalha como funciona o dispositivo. “Independente do modelo – se é giratória ou com eclusa – o que faz a diferença é o sistema de detecção do metal. O problema mesmo é que a porta de segurança, para ser realmente segura, não pode ter intervenção humana”, explica o sindicalista.
“Esta porta que há por aí não passa de um gatilho. É preciso que o sistema seja sensível o bastante para avaliar o peso dos metais e verificar se equivale a armas de fogo de diversos portes”, completa Vera Luiza.
Prevenção
A porta giratória foi adotada em muitos bancos por permitir maior agilidade. Quando o sistema de detecção de metais é adequado, a prevenção de assaltos é significativa. “Temos relatos da base de que a porta evitou que assaltos se consumassem. E isso é mais segurança não só para os bancários, mas também para os clientes e para os próprios vigilantes”, destaca Gutemberg.
Nas agências do antigo Bank Boston, hoje operando com bandeira Personalité, as portas usadas são as de melhor qualidade e a operação não apresenta grandes problemas. “Além de não oferecer segurança, a intervenção humana no travamento da porta acaba tornando muito subjetiva a avaliação dos vigilantes de quem é perigoso ou não”, ressalta Gutemberg.
O que deveria acontecer – e é isto o que reivindica o movimento sindical bancário – é a instalação de portas giratórias com travamento automático e detectores de metais sensíveis, capazes de distinguir entre uma caneta e uma arma.
“Se o cliente vai ao banco com uma quantidade maior de objetos de metal, não vai mesmo poder entrar, a menos que deposite tudo na caixa de acrílico acoplada à porta”, define o dirigente.
Na opinião do sindicalista, o descontentamento dos clientes com as portas giratórias não passa de uma questão de cultura. “Nos aeroportos, por exemplo, ninguém reclama por ter que passar no detector de metais antes do embarque. Os passageiros já sabem que se trata de uma rotina e que é para o bem deles mesmos”, compara Oliveira.
“O problema é que os bancos não investem na conscientização dos clientes. Mandam toneladas de folhetos sobre seus produtos, mas nenhum material sobre a segurança bancária e os dispositivos que garantem o bem-estar de bancários e clientes”, avalia o sindicalista. “Se o cliente barrado se aborrecer e isto gerar uma situação de conflito com o segurança da unidade, a culpa é do banco que não orientou o seu público”, defende Gutemberg.
Varejão
A discussão é longa e está longe de se esgotar. E, como se observa o uso da porta segura em algumas agências, sobretudo do segmento mais elitizado, traz de volta a questão do preconceito social. “No BankBoston e no Personalité estes problemas não acontecem. E não me diga que não entram contínuos nestas agências. Mas as portas giratórias do Itaú estão entre as piores que existem. A porta improvisada, de segunda categoria, fica é nas agências do banco de varejo voltado para o povão”, conclui Vera Luiza.
Fonte: Feeb RJ/ES