Quadrilhas portando armas de alto poder de destruição, como fuzis e metralhadoras, continuam levando pânico aos moradores das cidades do interior do Pará. Só nos dois primeiros meses deste ano, foram sete ataques. No ano passado, foram necessários cinco meses para que os assaltantes igualassem o número de investidas registradas apenas neste começo de 2011. Este ano, houve, ainda, o arrombamento de uma agência bancária.
Para roubar o dinheiro dos bancos, as quadrilhas adotam duas estratégias. Uma delas é conhecida como “vapor” ou “tora”. É quando eles dominam policiais, fazem reféns os moradores das cidades, usando-os como escudos, e atiram para o alto e nas próprias agências, espalhando, assim, terror.
A outra tática é a modalidade batizada de “sapatinho”, em que os gerentes e as famílias deles são mantidos reféns, até que o bancário vá até a agência e retire as somas em dinheiro.
No ano passado, foram registrados 21 ataques a agências bancárias em todo o Estado. A maioria (11 casos) foi o roubo, na modalidade “vapor”, acompanhada de perto pela prática do “sapatinho” (7 ocorrências). Houve, ainda, duas tentativas de roubo e um arrombamento. Esses números aumentaram em relação a 2009. Naquele ano, foram 14 assaltos, segundo o Sindicato dos Bancários do Pará e Amapá.
Diretor da Delegacia de Repressão de Roubos a Bancos (DRRB), da Divisão de Repressão ao Crime Organizado, o delegado Luís Xavier diz que a maioria das 21 ações criminosas do ano passado foi praticada nas regiões sul e sudeste, como Marabá e Redenção.
As quadrilhas preferem essas áreas por causa do baixo efetivo de policiais. Mas não apenas por isso, explica ele. É que o Pará possui uma extensa área territorial, que faz fronteira com outros Estados. São fronteiras “secas” (terrestres) e por água, havendo, portanto, uma infinidade de rotas de fuga. Para completar, as fronteiras são pouco vigiadas.
Luís Xavier diz que a orientação do governo estadual é que, após qualquer assalto a banco, seja “vapor” ou “sapatinho”, um delegado da DRRB vá até o município em que o crime ocorreu e, em parceria com os policiais da cidade, faça a investigação. Identificados, esses bandidos devem ter suas prisões preventivas solicitadas à Justiça. “E eles serão presos onde quer que estiverem”, afirma o delegado. “Eles podem estar escondidos no Pará, Maranhão, Piauí, Tocantins, Goiás e Mato Grosso, que nós iremos atrás”, reforça.
Desses Estados, aliás, é oriunda grande parte dos integrantes dos bandos. O delegado Xavier cita como exemplo a quadrilha presa, mês passado, em Imperatriz (MA) e acusada de assaltar o Banco do Brasil de Baião, no dia 8 de fevereiro deste ano.
A quadrilha roubou aproximadamente R$ 400 mil da agência e, em uma espécie de arrastão, também levou dinheiro dos Correios e de uma padaria. O bando é formado por paraenses, maranhenses e cearenses. “Onze deles estão identificados (e já estão com mandados de prisão pedidos à Justiça), dos quais seis já foram presos”, diz.
Um desses bandidos, apontado como líder da quadrilha, é Francisco dos Santos Silva, o “Super 15”. O apelido é por causa do tipo de arma que ele usa nessas ações: um fuzil AR-15, que não foi apreendido. Segundo o delegado Xavier, “Super 15” e seus comparsas ficaram seis meses em Baião, levantando informações sobre o número de policiais da cidade e a rotina bancária, verificando, ainda, as rotas de fuga.
“Para não despertar suspeitas, ele e seus comparsas tiravam uma de vender relógios e DVDs”, disse o delegado. Assim como os bandidos não têm rivalidade entre si e trocam informações o tempo todo quando os alvos são as agências bancárias instaladas em cidades vulneráveis, os policiais paraenses também mantêm intercâmbio com seus colegas de outros Estados. E essa parceria, destacou o delegado, tem sido fundamental para a prisão dos criminosos.
Algumas armas usadas em assaltos eram dos vigias dos bancos
Em 2010, os policiais da Delegacia de Repressão de Roubos a Bancos (DRRB) prenderam 62 acusados deste tipo de crime e apreenderam 15 armas – quatro fuzis, três cartucheiras calibres 12, quatro pistolas e quatro revólveres. Alguns dos revólveres foram roubados de vigilantes desses bancos. Os investigadores também apreenderam 123 munições dos mais diversos calibres e dez veículos (carros e motos). Este ano, os policiais já prenderam 22 acusados de assaltos a bancos e apreenderam cinco armas – um fuzil, três pistolas e um revólver, além de dois carregadores de fuzil magal.
O delegado Luís Xavier diz que, em média, cada quadrilha que pratica o “vapor” é formada por 10 a 15 bandidos. Ao sair das cidades, eles se escondem na mata. É o que eles chamam de “retiro”. Os assaltantes erguem barracas de lona e lá ficam escondidos.
Para a mata, levam uma espécie de kit de sobrevivência: comidas enlatadas, farinha, açúcar e café, por exemplo. Os bandos podem ficar na mata de cinco a dez dias. Depois, começam a sair aos poucos, cada um com a parte que lhe cabe no roubo. Em média, cada assalto a banco pode render R$ 300 mil.
De acordo com Luís Xavier, as armas usadas nesses roubos são alugadas. São armamentos de grosso calibre e com valor de mercado muito alto. Esse armamento é alugado nos Estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. O aluguel de um fuzil AR-15, por exemplo, pode variar, dependendo da situação, de R$ 3 mil a R$ 10 mil. Já o aluguel de um fuzil calibre ponto 50, que derruba até avião, sai por R$ 30 mil.
O delegado lembrou que, em 2008, os assaltantes usaram uma arma como essa, cujo valor de mercado chega a R$ 300 mil, para tentar roubar um carro-forte na Alça Viária. Os vigilantes reagiram e tudo indica que um dos bandidos morreu. O corpo, nunca encontrado, teria sido jogado pelos comparsas em um rio. O fuzil calibre ponto 50 é alugado em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Delegado identifica preferência pela modalidade “sapatinho”
O delegado Xavier diz que muitos bandidos que praticam o “vapor” estão mudando para o “sapatinho”. É que o primeiro crime causa uma comoção social muito grande. Por esse motivo, os bandidos sabem que serão procurados e que prendê-los será questão de honra para a polícia. Já na outra modalidade não existe todo esse clamor, embora os danos também sejam grandes às vítimas.
O titular da DRRB lembra que, no “vapor”, os bandidos ofendem as vítimas, para as quais também falam palavrões. Ele afirma que, no assalto a banco em Garrafão do Norte, em janeiro de 2010, os criminosos foram além: na fuga, mostraram as nádegas para a população.
Mais tarde, foram presos, mas nenhum deles assumiu ter agido com deboche. Para dificultar as investigações, esses bandidos usam capuzes, máscaras, luvas, roupas de mangas compridas e camufladas, além de coletes à prova de bala. No assalto ao Banco do Brasil em Baião, este ano, os assaltantes abandonaram dois carros. Revoltados, os moradores quebraram um carro e tocaram fogo em outro.
No caso do “sapatinho”, embora o número de vítimas seja menor, o dano psicológico também é expressivo. Até os policiais têm dificuldades em conversar com as vítimas, tamanho é o trauma. O gerente e seus familiares ficam, muitas vezes, mais de 13 horas em poder dos bandidos, que os ameaçam o tempo todo.
“Por isso, e de imediato, é difícil conseguir qualquer informação das vítimas. O abalo psicológico é muito grande”, diz o delegado Xavier.
Estado aparece na 13ª posição do ranking de ocorrências
Uma pesquisa inédita, realizada pelo Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região, revelou que, em 2010, houve 1.130 casos de assaltos a banco e arrombamentos de caixa eletrônico em todo o País. A pesquisa compreende o período de janeiro a dezembro de 2010.
Nesse ranking, o Pará aparece em 13º lugar, com 27 ocorrências (número que não confere com os dados em poder da polícia e do Sindicato dos Bancários do Estado, que contabilizam 21 ataques no ano passado).
O levantamento também mostra que cidades do interior são as preferidas pelos assaltantes, pois as agências dispõem de menos equipamentos de segurança e o efetivo policial não é suficiente. As ocorrências mais graves geralmente são precedidas por sequestro e seguidas de ações violentas com reféns.
Mas, de acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), em 2009 foram registrados apenas 430 casos de assalto. “Os dados são contraditórios, pois não é possível terem triplicado em 2010. Isso comprova que os banqueiros não se importam com funcionários e clientes, pois, se realmente mostrassem a realidade dos casos, revelariam a deficiência do sistema de segurança das agências. O dinheiro que é roubado tem seguro, por isso eles resistem em investir mais para proteger a vida das pessoas”, afirma João Soares, presidente do SindVigilantes de Curitiba e Região.
Assaltos a banco no Pará em 2011
18 de janeiro – Banco do Brasil (São Félix do Xingu): sapatinho
19 de janeiro – Banco do Brasil (São Geraldo do Araguaia): sapatinho
2 de fevereiro – Banco do Brasil (Santana do Araguaia): vapor
7 de fevereiro – posto de atendimento bancário do Banpará de Brejo Grande do Araguaia: vapor
7 de fevereiro – agência dos Correios (correspondente bancário do Bradesco), Santa Maria das Barreiras: vapor
8 de fevereiro – Banco do Brasil (Baião): vapor
10 de fevereiro – Banco do Brasil (Rio Maria): sapatinho
10 de fevereiro – Banco do Brasil (Santo Antônio do Tauá): arrombamento
Fonte: DRRB/Polícia Civil
Assaltos a banco no Pará em 2010
9 de janeiro – Banpará (Garrafão do Norte): vapor
14 de janeiro – Banco da Amazônia (Redenção) sapatinho
1º de março – Banco do Brasil (Baião): vapor
9 de março – Banco do Brasil (Jacundá): vapor
23 de abril – Banpará (Brejo Grande): sapatinho
6 de maio – Banco do Brasil (São Domingos do Araguaia): vapor
7 de maio – HSBC (Marabá): tentativa de sapatinho
16 de julho – Banpará (Sapucaia): sapatinho
3 de agosto – Banpará (Santarém): sapatinho
4 de agosto – Banco do Brasil (São Domingos do Araguaia): vapor
9 de agosto – Banco da Amazônia (Eldorado dos Carajás): vapor
9 de agosto – Banpará (Eldorado dos Carajás): vapor
13 de agosto – Bradesco (Palestina do Pará): vapor”
29 de agosto – posto bancário do Real (Belém): arrombamento
14 de outubro – HSBC (Redenção): sapatinho
20 de outubro Banco do Brasil – (Bom Jesus do Tocantins): vapor
20 de dezembro – posto de atendimento bancário do Banpará de Tracuateua: sapatinho
23 de dezembro – Banpará (Castanhal): sapatinho
Em 9 de setembro foram dois roubos (Bradesco e Banco do Brasil, em São Félix do Xingu) e uma tentativa de assalto (Banco do Brasil de Ananindeua). Na ação criminosa em Ananindeua, os bandidos não conseguiram roubar o malote, mas mataram o vigilante.