Dor crônica constante de difícil controle. Esta é a melhor definição para os trabalhadores que sentem diariamente o drama do desenvolvimento de LER/Dort – Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort). A quinta-feira, 28 de fevereiro, é marcada pelo Dia Internacional de Prevenção às LER/Dort.
É dessa maneira que vive uma funcionária do Itaú, apenas um exemplo de bancários adoecidos em diversas instituições financeiras. “Os movimentos do meu ombro ficaram limitados. Não consigo mais digitar. Fui fazer o exame periódico e conversei antes com meu chefe. Ele dizia para eu não comentar sobre o problema de saúde no serviço médico do banco”, relata, sobre o descaso.
Afastada diante da gravidade do problema, procurou um ortopedista e iniciou tratamento que culminou em cirurgia no tendão do ombro. Após dois anos, ainda não consegue movimentar bem o braço.
A bancária também precisou operar a mão para tentar solucionar síndrome do túnel do carpo. Recebeu alta pelo INSS e pelo médico do trabalho do banco, o qual a orientou a voltar às mesmas atividades que exercia ao adoecer. “O médico do banco me disse: ‘não posso fazer nada por você’ e, antes mesmo da consulta, pediu para eu ir preparada para voltar ao trabalho”. O desafio pela saúde continua. Uma nova cirurgia, na outra mão, está marcada para abril.
“Essa é uma doença infelizmente comum entre os bancários e responsável pela perda de movimentos em diversos casos de trabalhadores já atendidos no Sindicato, o que gera também transtornos mentais pela incapacidade e frustração que precisam enfrentar ao tentar realizar movimentos”, ressalta a secretária de Saúde do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Marta Soares, referindo-se à lesão que se dá quando o nervo mediano, que passa pela região do punho chamada túnel do carpo, fica submetido à compressão, provocando dormência e formigamento.
Marta ressalta que o agravamento das doenças causadas por esforços repetitivos dentro das instituições financeiras se deve também à falta de programas de prevenção, os quais deveriam ser organizados pelos empregadores. “Hoje, o modelo organizacional imposto pelos bancos simplesmente ignora a existência das LER/Dort, como se o adoecido fosse descartável. Não há prevenção, só existe uma gestão que preza pelas metas exacerbadas”.
Para a médica pesquisadora da Fundacentro, Maria Maeno, entre os principais agravantes estão: “diminuição do contingente de trabalhadores, intensificação do ritmo e aumento do volume de trabalho, além da exigência de cumprimento de metas definidas unilateralmente”.
Ela ressalta que campanhas contra acidentes ou doenças dentro dos bancos só têm sentido se houver verdadeiramente vontade de se prevenir esses eventos. “O sentido das campanhas não pode ser o de alertar os trabalhadores para os perigos, riscos e situações se não houver concomitantemente mudanças das condições que propiciam os acidentes e adoecimentos. O empenho tem de ser de mudanças na organização do trabalho”, diz a médica.