A Folha de S.Paulo publicou nesta quinta-feira (9) uma reportagem de página inteira, com chamada na capa, sobre a retirada de portas giratórias com detectores de metais em agências do Itaú Unibanco e Bradesco.
Para a Contraf-CUT e a Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), essa medida absurda, iniciada no ano passado por ocasião das reformas nas unidades do Itaú em cidades sem lei municipal que obrigue a colocação desse equipamento, aumenta a insegurança e coloca ainda mais em risco a vida de trabalhadores e clientes.
Na reportagem, a presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira Leite, afirma temer uma volta da onda de roubos a bancos. Para o presidente da CNTV, José Boaventura Santos, “é um retrocesso”. “Um atentado contra a vida dos funcionários e dos clientes.”
Mais insegurança
Segundo a matéria, “os principais bancos privados do país iniciaram um processo de retirada das portas com detectores de metal das agências espalhadas pelo país”.
“Feita de forma gradual e sem alarde, a ação é um refluxo da disseminação destes equipamentos deflagrada nas décadas de 1980 e 1990, quando o Brasil via recordes de roubos a bancos. Naquela época, São Paulo registrava mais de 1.200 roubos por ano. Em 2011, foram 251 casos registrados”, destaca a reportagem.
Na avaliação de Ademir Wiederkehr, secretário de imprensa da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária, esses números comprovam a eficácia das portas giratórias, pois a queda ocorreu justamente após a sua instalação. “A retirada das portas pode aumentar os assaltos, na medida em que as quadrilhas vivem atacando as agências e postos de atendimento mais vulneráveis e inseguros”, alerta.
Desculpa insustentável
Consta na reportagem que, “segundo fontes ouvidas pela Folha, apesar da queda nas ocorrências, as portas giratórias estão sendo retiradas devido ao grande número de processos judiciais. São ações de danos morais de clientes constrangidos diante de dificuldades de acesso às agências após o travamento das portas”.
“O Tribunal de Justiça de São Paulo diz não saber quantas ações desse tipo correm nos fóruns. Pesquisa feita pela Folha aponta que mais de 1.000 já foram julgadas no Estado. Parte os bancos vencem, mas são obrigados a manter batalhões de advogados para defendê-los. Os processos pesquisados renderam de R$ 5.000 a R$ 15.000 em indenizações.”
Ainda segundo a reportagem, “são casos em que as pessoas foram impedidas de entrar em bancos por portarem marcapassos, pinos metálicos na perna e até casos de policiais barrados quando foram atender ocorrências”.
Para a Contraf- CUT, essa desculpa dos bancos não se sustenta, sobretudo porque os bancos sequer apresentam dados para justificar. “Tais processos judiciais são certamente insignificantes diante de milhares de ações trabalhistas e de milhares de reclamações de clientes contestando as altas taxas de juros e a cobrança indevida de tarifas”, ressalta Ademir.
“Além do mais, a vida não tem preço”, enfatiza o dirigente sindical.
Descaso dos bancos
Conforme a reportagem, “novas agências estão sendo construídas já sem os equipamentos. As antigas estão sendo reformadas para a retirada. Isso vale para todos os tipos de agência e não apenas para as chamadas ‘prime'”.
“O Itaú confirma. Diz que retirará essas portas em todas as agências do país. Só manterá onde for obrigado por lei [municipais ou estaduais] ou por insegurança. Já o Bradesco nega, apesar de casos registrados pela reportagem”.
“De 12 agências do Bradesco visitadas pela Folha em São Paulo, 9 não têm mais portas giratórias. No Itaú, 4 – em 9 unidades – também não têm. No total, de 48 agências de várias bandeiras, 15 estão sem o equipamento.”
Ademir explica que a retirada das portas ocorre em São Paulo porque não existe lei municipal, apesar da luta do Sindicado dos Bancários na Câmara Municipal. Teve até uma lei aprovada, mas foi vetada pelo prefeito Gilberto Kassab, em 2007, após pressão dos banqueiros.
Ainda segundo a reportagem, “equipes de segurança dos bancos, incluindo do Bradesco, comunicaram a retirada das portas aos policiais da Delegacia de Roubo a Banco. Segundo o delegado Rodolpho Chiarelli Junior, funcionários ligados à segurança bancária confirmam que a principal motivação são os processos de indenização”.
Agências “mais amigáveis” para quem?
Segundo a reportagem, “o Itaú afirma que o processo de retirada das portas giratórias faz parte de uma política para tornar as agências mais ‘amigáveis’ para os clientes”.
“Agências vulneráveis e inseguras ficam mais amigáveis para bandidos que assaltam agências e postos e praticam a ‘saidinha de banco’, uma vez que terão um obstáculo a menos para praticar ações criminosas”, aponta o diretor da Contraf-CUT. No ano passado, de acordo com levantamento da Contraf-CUT e CNTV, 49 pessoas foram mortas em assaltos envolvendo bancos em todo país.
Remodelação insegura
Ainda conforme a reportagem, além da retirada das portas giratórias, “o banco diz que as agências passam por uma remodelação também para tornar menos ostensivas as guaritas da vigilância. Essa política surgiu após a fusão com o Unibanco, que já não utilizava portas com detector de metal”.
“O banco diz que, apesar das mudanças, o nível de segurança será mantido. Afirma também que as portas serão substituídas por outros equipamentos, mas não informa quais”.
Na matéria, “o Bradesco nega ter uma política para retirada das portas. Em nota, diz que as agências sem os equipamentos seguem “um plano de segurança próprio aprovado pela Polícia Federal”.
Números sobre investimentos não batem
A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) afirma que a segurança de seus funcionários e clientes é “uma preocupação central” dos bancos associados e, por isso, há um investimento anual de R$ 9,4 bilhões nessa área.
A Subseção do Dieese na Contraf-CUT avaliou os números dos balanços dos primeiros nove meses de 2011 dos cinco maiores bancos do país (Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander). Enquanto lucraram no período R$ 37,9 bilhões, destinaram R$ 1,9 bilhão para despesas com segurança e vigilância.
O Itaú bateu novo recorde e lucrou R$ 14,620 bilhões no exercício de 2011. No entanto, gastou R$ 482 milhões com segurança e vigilância, o que representa somente 3,30% em relação ao lucro do ano.
Já o Bradesco lucrou R$ 11,02 bilhões no ano passado. Por sua vez, investiu R$ 333 milhões em segurança e vigilância, o que significa apenas 3,02% em comparação ao lucro anual.
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“Os números da Febraban não batem com os balanços. Vamos cobrar esclarecimentos e explicações na retomada da Mesa Temática de Segurança Bancária, ainda sem data agendada pela Fenaban”, salienta Ademir. “Além disso, os bancos precisam investir mais em segurança, pois hoje aplicam muito pouco diante de seus lucros estrondosos”, completa.
Trabalhadores apoiam portas giratórias
Questionada pela Folha, a Febraban não comentou a retirada das portas giratórias das agências. Também em nota, mencionou que a lei federal 7.102 estabelece que a implantação das portas giratórias é opcional. “Um entre outros dispositivos mecânicos ou eletrônicos de segurança.”
Para a Contraf-CUT e a CNTV, as portas giratórias deveriam ser obrigatórias para todas as agências e postos de atendimento bancário, sendo uma das propostas dos trabalhadores para o projeto de lei que cria o estatuto de segurança privada, que está em estudo no Ministério da Justiça, a partir de iniciativa da Polícia Federal.
“Além disso, apoiamos projetos de leis municipais e estaduais que determinam a instalação de portas giratórias e outros equipamentos, como forma de prevenir assaltos e sequestros e proteger a vida de trabalhadores e clientes”, conclui Ademir.