Carolina Mandl e Fabiana Lopes
Valor Econômico | De São Paulo
Imunes até agora ao ambiente macroeconômico mais desfavorável a seus negócios, os três maiores bancos privados do país – Itaú Unibanco, Bradesco e Santander – lucraram R$ 9,2 bilhões no segundo trimestre deste ano, valor 30,9% maior na comparação com igual período de 2013. Em relação ao período de janeiro a março, a alta foi de 9,8%.
A expansão mais modesta do crédito levou os bancos a buscar outras estratégias para lucrar mais. Maior controle da capacidade de pagamento dos tomadores de crédito, remarcação de preços, vendas de mais produtos e contenção de gastos administrativos garantiram às instituições financeiras resultados que superaram inclusive a previsão dos analistas mais otimistas.
Em 12 meses, o estoque de empréstimos do trio alcançou R$ 969,9 bilhões, o que representou um crescimento de 7,4%. No trimestre, a variação foi de 0,98%. Em ambos os casos, os grandes bancos privados ficaram abaixo da variação média do sistema financeiro nacional. Segundo dados do Banco Central, o crédito no país avançou 11,8% no ano e 2,5% em três meses.
Um importante aliado do trio de bancos foi o controle da qualidade dos ativos. As despesas de Itaú Unibanco, Bradesco e Santander com créditos de má qualidade caiu 8,5% em um ano, para R$ 11,1 bilhões.
Há mais de dois anos, os bancos passaram a adotar modelos de risco mais rigorosos na análise de quem está interessado em pegar dinheiro emprestado. Também passaram a dar preferência a modalidades como o crédito consignado, cujo desconto do pagamento se dá direto na folha de salários, e o financiamento imobiliário, que tem a garantia da casa comprada.
Até mesmo as atividades com tesouraria voltaram a ter destaque nos balanços, depois de abaladas por diversos trimestres pelos cortes na taxa básica de juros, a Selic. No Bradesco, essa linha contribuiu no último trimestre com quase R$ 200 milhões a mais do que em igual período do ano passado. No Itaú, a importância foi ainda maior, com ganhos adicionais de R$ 612 milhões.
Juntas, as operações de crédito e de tesouraria renderam aos três maiores bancos privados R$ 32,3 bilhões no segundo trimestre, com crescimento de 9,3% em 12 meses e de 6,2% no trimestre. Do trio, apenas o Santander mostrou uma retração da chamada margem financeira.
Fora da atividade de intermediação financeira, os bancos se empenharam na venda de produtos para engordar a última linha do balanço, uma tendência já vista em períodos anteriores. As receitas de serviços ficaram em R$ 14,3 bilhões, 10,3% maiores do que entre abril e junho do ano passado. Em seus relatórios de administração, os bancos destacaram os recursos que vieram de cartão de crédito e de pacotes de contas correntes cujas tarifas podem ser convertidas em créditos para celular.
Enquanto os correntistas contribuíram para tornar o lucro mais polpudo, os bancos trabalharam na contenção das despesas. Em 12 meses, os gastos administrativos e de pessoal tiveram um crescimento de 6,4%, somando R$ 19,4 bilhões, em linha com a inflação medida pelo IPCA no período.
Os resultados vistosos não são suficientes para dissipar a preocupação dos analistas em relação ao que está por vir. Bradesco e Santander, por exemplo, mostraram uma piora no índice de inadimplência na comparação trimestral. Tanto consumidores quanto empresas atrasaram mais os pagamentos. Ambos os bancos insistem, porém, que o movimento não representa uma tendência para o fim do ano. O Itaú mostrou um indicador de atrasos menor.
Para os próprios bancos, a garantia de dias melhores para os bancos daqui para a frente também dependerá cada vez mais da atividade econômica no país. “Não dá para achar que vamos continuar crescendo de forma sustentável sem um ambiente macro favorável”, afirmou Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores do Itaú Unibanco, durante entrevista a jornalistas ontem.