Ao apresentar a última edição do Global Financial Stability Report (Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global), Viñals disse que a lenta recuperação em curso reduziu os riscos à estabilidade financeira global, mas o crescente risco soberano (a avaliação da capacidade do governo honrar suas dívidas) permanece uma ameaça.
“Apesar da recente melhora na saúde do sistema financeiro global, a estabilidade ainda não está garantida”, disse Viñals.
Segundo o relatório, a ameaça do risco soberano é fruto do rápido crescimento da dívida pública em alguns países durante a crise econômica mundial.
Nova fase
De acordo com Viñals, caso não sejam tomadas medidas para conter o aumento do risco soberano, há o risco de a crise financeira chegar a uma “nova fase”.
O relatório afirma que grande parte do sistema financeiro continua dependente das medidas de ajuda lançadas pelos governos durante a fase mais aguda da crise.
Os gastos dos governos para ajudar instituições financeiras se somaram ao ritmo lento da recuperação econômica e às ainda altas taxas de desemprego, diz o documento.
O FMI reduziu de US$ 2,8 trilhões para US$ 2,3 trilhões sua estimativa de redução do valor contábil de ativos dos bancos durante a crise, mas afirma que os bancos ainda devem enfrentar dificuldades de financiamento nos próximos anos, especialmente à medida que a ajuda governamental for retirada.
Brasil
O relatório do FMI diz que os fortes ingressos de capital registrados em países como Brasil, China, Índia e Indonésia geraram temores de inflação e da formação de bolhas especulativas, o que poderia comprometer a estabilidade financeira e monetária.
Até agora, o FMI diz não ter evidências da formação de bolhas nesses países, mas recomenda medidas para restringir a entrada de capital externo.
“Se o atual ambiente de baixas taxas de juros, liquidez abundante e fluxos de capital persistir, a história sugere que bolhas podem se formar no médio prazo”, diz o relatório.
No caso específico do Brasil, Viñals disse que as autoridades já implementaram as medidas necessárias para reduzir o risco de ativos supervalorizados.
“Não temos recomendação alguma a fazer ao Brasil”, afirmou Viñals.
Reunião de primavera
A apresentação do relatório marca o início da reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial, em Washington.
O encontro ocorre em meio a uma ainda lenta recuperação da economia mundial, marcada por altas taxas de desemprego em muitas economias avançadas.
A reforma do sistema financeiro internacional e nas próprias instituições deverão estar em debate.
Países como o Brasil vêm pressionando por mudanças no FMI e no Banco Mundial que dêem mais voz e mais poder de decisão a economias emergentes e em desenvolvimento.
Na sexta-feira, uma reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20 será realizada em Washington, com a participação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.