São Paulo – Tem o bloco de marchinhas carnavalescas que desfila há 36 anos no Largo da Batata em Pinheiros. Tem aquele que vai sair pela primeira vez só com músicas do cantor inglês David Bowie. Também dá para acompanhar o bloco que só toca música brasileira ou o que homenageia Caetano Veloso. Para abrir o carnaval, tem a bateria formada só por mulheres. Os mais de 350 blocos de carnaval que desfilam em São Paulo neste ano têm histórias, estilos e tamanhos diversos. A estimativa do governo municipal é que 2 milhões de foliões participem das festas, entre 29 de janeiro e 14 de fevereiro.
O designer Luiz Franco é um dos idealizadores do bloco Tô de Bowie. “A ideia surgiu na terça-feira de carnaval do ano passado. Éramos um grupo de oito amigos, a gente já tinha acompanhado vários blocos e decidimos sair naquele dia com a marca do raio que é característico do David Bowie”, relembrou. O sucesso da fantasia fez o grupo pensar em montar um bloco que tocaria as músicas do cantor inglês em uma bicicleta com caixas de som. O que não esperavam é que as manifestações de interesse no evento criado no Facebook chegassem a mais de 50 mil.
“Após a morte dele [de David Bowie, em janeiro deste ano], houve um boom nas confirmações, e o número só vem aumentando”, relatou Franco. Na avaliação dele, a maior procura tem a ver com o nome do cantor ter ficado mais em evidência, mas também pela aproximação com o carnaval. O designer explica que, há três meses, ele e dois amigos se revezam na organização do bloco. “Tivemos que correr atrás de patrocínio, porque o negócio cresceu, e a gente não podia mais fazer apenas com uma cota entre amigos.”
O Pinto do Visconde abriu carnaval de rua em SP, na sexta-feira 29, no bairro do Brás, centro paulistano. Desde 1981 desfilando pelas ruas do bairro de Pinheiros, na zona oeste, o Vai Quem Qué, por outro lado, se orgulha em não contar com patrocínio “de empresas, políticos ou governos”. Pela internet, o grupo busca juntar R$ 12 mil para sair com o bloco. Até quarta 3, R$ 4,8 mil estavam garantidos. “Quem faz o Vai Quem Qué existir é a vontade coletiva de ocupar as ruas e fazer festa no carnaval”, diz o texto no vídeo de divulgação do bloco.
O Tarado Ni Você – bloco que homenageia o cantor baiano Caetano Veloso – desfila pelo terceiro ano e terá como lema "Somos Todos Tieta". “Vemos muitas questões homofóbicas, de preconceito, então escolhemos esse lema”, explicou o fotógrafo Thiago Borba, um dos idealizadores do bloco. A agremiação, que reuniu 7 mil pessoas em 2014, tem expectativa de reunir um número maior do que em 2015, quando 40 mil pessoas seguiram o bloco. “Já não existem dúvidas de que existe, sim, um carnaval em São Paulo e um público disposto a ficar aqui para curtir.”
Abertura – É ao som de tambores, tocados apenas por mulheres e representações de orixás sobre pernas de pau em encenações inspiradas na cultura africana, que se apresenta o Ilú Obá de Mim. Há 11 anos, a apresentação – na sexta 5 – marca a abertura do carnaval paulistano. A homenageada deste ano é a cantora Elza Soares, que fará um show antes do desfile, na Praça da República. A bateria tem quase 300 mulheres. “A ideia é, através da cultura negra, empoderar mulheres por meio dos tambores”, diz Beth Beli, fundadora e diretora artística do Ilú.
No ano passado, o bloco reuniu cerca de 15 mil pessoas no Vale do Anhangabaú, no centro da capital paulista. Beth festeja o aumento dos blocos de rua de São Paulo. “[Isso] é importante para a cidade, ajuda com o turismo. Não é só o Sambódromo. [O carnaval de rua] deixa mais popular uma coisa que nasce popular, mas que hoje é uma indústria de dinheiro. Voltamos à tradição”, disse. Para ela, no entanto, que é preciso melhorar a estrutura a cada ano.
Cidadania – Waldenyr Caldas, professor de Sociologia da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), explica que esse modelo do carnaval de rua surge como alternativa a um modelo empresarial das escolas de samba. Ele não qualifica de bom ou ruim o que ele chama de “mercantilização” do carnaval, mas acredita que o exercício da cidadania faz surgir propostas mais espontâneas que permitem maior sociabilidade. “O carnaval de rua cria uma cumplicidade entre as pessoas. Isso é da maior importância. É produto da cidadania, da politização do cidadão brasileiro”, apontou.
Estrutura – Ao todo, 29 regiões receberão pelo menos um bloco (veja na imagem acima). A Sé concentra o maior número, com 91, seguido por Pinheiros, com 69. Guaianases e Sapopemba estreiam neste ano com um em cada. A cidade vai receber também cinco palcos, um em cada macrorregião, para ajudar na dispersão dos foliões (veja abaixo os endereços).
Clique aqui para ver a programação dos blocos.
PALCOS
ZONA SUL – M’ Boi Mirim
Endereço: Avenida Inácio Dias da Silva s/nº (em frente a Casa de Cultura de M’Boi Mirim)
Período: de 6 a 9 de fevereiro, das 16h às 22h
ZONA NORTE – Pirituba
Endereço: Cohab de Taipas – Rua Gonzales Catan, altura do 82
Período: de 6 a 9 de fevereiro, das 16h às 22h
ZONA LESTE – Itaquera
Endereço: Praça da rua Giácomo Quirino
Período: de 6 a 9 de fevereiro, das 16h às 22h
CENTRO –
Endereço: Vale do Anhangabau – embaixo do Viaduto do Chá
Período: de 6 a 9 de fevereiro, das 18h às 23h30
ZONA OESTE – Pinheiros
Endereço: Largo da Batata
Período: dias 30 e 31 de janeiro e de 6 a 9 de fevereiro, das 18h às 23h30