Mobilização em frente à Assembleia Legislativa de São Paulo
Trabalhadores e representantes de entidades empresariais se reuniram nesta quarta-feira (4), em São Paulo, para o Grito de Alerta, um protesto para cobrar o fortalecimento da indústria nacional. Segundo os organizadores – centrais sindicais e associações do setor industrial -, entre 90 mil e 100 mil pessoas participaram do ato, realizado no estacionamento da Assembleia Legislativa.
A manifestação integra a agenda fechada pelas entidades contra a desindustrialização, e foi realizada no dia seguinte ao anúncio de uma série de medidas por parte do governo federal na tentativa de fortalecer a produção nacional.
O presidente da CUT, Artur Henrique, considera que falta uma atuação mais forte de estados e municípios na garantia dos empregos no setor. “O governo do estado de São Paulo tem um papel fundamental para fazer propostas de redução de ICMS, investimento em crédito para que a indústria possa se desenvolver”, disse.
“As medidas tomadas pelo governo federal são importantes, mas temos de manter pressão para garantir reforma tributária, temos de continuar a pressão para reduzir a taxa de juros”, destacou Artur.
Os juros definidos pelo Banco Central foram, mais uma vez, apontados como um dos fatores que inibem o crescimento. Após cinco quedas seguidas, a Selic está em 9,75% ao ano, menor patamar desde 2010. Ao anunciar as medidas à indústria, ontem (3), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a indicar que os incentivos são suficientes para garantir um crescimento da economia entre 4% e 4,5% em 2012.
O pacote, estimado em R$ 60 bilhões, tem o objetivo de reduzir o custo de produção e melhorar a competitividade externa dos produtos brasileiros. O BNDES aumentou os recursos à disposição do setor privado em R$ 45 bilhões, o que deve aproximá-lo do resultado do ano passado, com desembolsos projetados entre R$ 130 bilhões e R$ 140 bilhões.
Mas, para os industriais, será preciso fazer mais para atingir a meta de expansão da economia. “A taxa de juros é o maior câncer que nós temos. É a maior transferência de renda que um país já fez a um setor. Nos últimos 16 anos foram R$ 3 trilhões”, afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto. “O nível da taxa de juros que temos no Brasil é muito forte, mata nossa possibilidade de crescer.”
A alta carga tributária foi apontada pelos empresários como outro problema. Além disso, argumenta-se que o real sobrevalorizado estimula as importações, responsáveis por uma concorrência nociva aos produtos nacionais. “Os produtos asiáticos invadiram nosso mercado e muitas empresas estão fechando as portas. Estamos reivindicando a valorização do produto nacional e a manutenção do emprego”, apontou o mecânico de manutenção Adão de Brito.
O presidente da Força Sindical, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), reforçou que as medidas apresentadas pelo governo atendem parcialmente às reivindicações dos setores produtivos, mas estão aquém do que trabalhadores e empresários esperavam. “O governo começa a mexer no que a gente vem falando. Começa a atender algumas reivindicações. Mas o governo tem de agir no grande problema, que são os juros e o câmbio.”
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, considera que a garantia do emprego na indústria representa um caminho importante para a manutenção da qualidade de vida. “As mobilizações têm de continuar. Para desenvolver o consumo precisamos melhorar o crédito. É um absurdo ter hoje 4,5% de inflação no ano e os bancos cobrarem 300% no cartão de crédito”, disse.