Se o hábito de ir ao banco costuma ser um mal necessário nas grandes cidades, devido às filas e ao estresse generalizado, as agências do interior têm se tornado locais cuja segurança é cada vez mais incerta para clientes e funcionários.
Em municípios pequenos de Mato Grosso, quadrilhas têm encontrado terreno pouco guarnecido de força policial, mas têm apresentado um outro nível de violência, mais “arrojada’, dentro da qual o uso de escudos humanos chama a atenção da polícia tanto como inovação quanto como pista para relacionar crimes distintos no Estado.
O escudo, de acordo com o diretor de Interior da Polícia Civil, Jalles Baptista, tem sido um elemento novo, uma “modalidade diferente” nas ações de assaltantes de banco no Estado. É um sinal de como as quadrilhas estão diferenciando sua forma de agir no interior, muitas vezes em cidades que até poderiam se dizer pacatas, mas em cujas agências, clientes e funcionários agora convivem com um temor a mais.
O artifício de violência foi visto duas vezes recentemente e é uma das semelhanças apontadas pela polícia entre estes episódios. Há possibilidade de que o mesmo grupo criminoso esteja por trás dos dois.
O primeiro episódio foi em Tabaporã (a 643 quilômetros de Cuiabá), no último dia 4, quando uma quadrilha de oito a nove homens invadiu o Banco do Brasil da cidade durante a manhã, rendendo clientes e funcionários para servir de proteção contra a polícia até fugir para a mata. Planejada e realizada desta maneira, por homens encapuzados e com armamento pesado, a ação foi inédita na região. Por conta disso, a população assustada se reuniu numa audiência pública nesta sexta-feira justamente para debater a segurança pública da cidade.
Quatro dias depois de Tabaporã, em São José do Rio Claro (a 315 quilômetros), um bando de número semelhante assaltou as agências do Sicredi e do BB. Entre um assalto e outro, os criminosos demonstraram extrema ousadia: na avenida principal da cidade, utilizaram clientes e funcionários rendidos como proteção enquanto caminhavam por cerca de 500 metros da primeira agência à segunda, até o momento de fugir. O prefeito Massao Paulo Watanabe chegou a solicitar à Polícia Militar aumento do efetivo na cidade – pelo menos cinco assaltos já ocorreram no município de 30 anos de idade.
Devido à suposta facilidade com que podem agir nos municípios pequenos, as quadrilhas têm empreendido uma varredura a estes alvos. Não só em Mato Grosso. Para Baptista, este é um panorama nacional e a polícia percebe características em comum entre os grupos, como armamento sempre pesado (em Tabaporã, foram utilizadas metralhadoras, escopetas e fuzis) e fugas por rotas alternativas das cidades.
SEQUELAS
Esta onda de assaltos às agências do interior é nítida, observa o presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários e do Ramo Financeiro (SEEB), Arilson da Silva. Ele considera que os locais estão se tornando “áreas de risco”, o que afeta diretamente o comportamento dos funcionários. São sequelas deixadas pelo medo, que geralmente se resumem numa preocupação quase permanente com o risco de acontecer um novo crime.
O Sindicato costuma acompanhar os trabalhadores vítimas dessas situações, nas quais alguns comportamentos frequentemente são observados: muitas se recusam a voltar às atividades, o que desencoraja gente nova que eventualmente ocupe estes postos; outras sentem calafrios e temor por qualquer ruído.
“Profissão de bancário tá virando profissão-perigo”, aponta o sindicalista. A maioria dos trabalhadores comprometidos psicologicamente, além de o Sindicato ajudar com tratamento, acaba sendo transferida pelo banco a outras agências.