DCI
Bruno Cirillo
São Paulo – Diretores e conselheiros dos principais bancos brasileiros receberam aumentos expressivos na remuneração anual, em 2010. A maior alta foi no Bradesco, onde o conselho de administração, que havia faturado R$ 18,5 milhões em 2009, obteve R$ 32 milhões no ano passado – um acréscimo de 72,9%. A valorização do órgão não corresponde à nomeação de novos membros, pois nesse período apenas um conselheiro somou-se ao grupo, composto por sete cadeiras com média salarial de R$ 380,9 mil por mês.
A diretoria estatutária do segundo maior banco privado do País ganhou R$ 138 milhões em 2010. Esse valor, 48,8% maior que no ano anterior, foi dividido entre 82 executivos. A renda média de cada diretor, portanto, ficou em R$ 4,5 milhões por ano ou R$ 140,2 mil por mês – o equivalente a 257 salários mínimos.
Para este ano, a assembleia de acionistas do Bradesco estabeleceu o montante de R$ 500 milhões para remunerar seu conselho e sua diretoria. Isso representa um aumento de 47% sobre a soma dos valores que os órgãos receberam no ano passado.
“Essa liberalização da remuneração foi um dos motivos da crise de 2008”, lembrou Miguel Pereira, o secretário de organização da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf). Para o sindicalista, os altos salários prejudicam a sociedade porque são extraídos das contas correntes, ou seja, não pertencem ao banco. “A matéria-prima é o dinheiro da sociedade”, disse Pereira.
O conselho de administração do Itaú é presidido por Pedro Moreira Salles, o antigo maior acionista do Unibanco, posto no órgão administrativo por causa da fusão entre as duas instituições financeiras, realizada há três anos. Em 2009, Salles e os outros oito conselheiros do Itaú compartilharam R$ 7,3 milhões – média de R$ 67,5 mil por mês, cada um. No ano passado, com um membro a menos, o órgão viu sua remuneração aumentar 12,3%, atingindo R$ 8,2 milhões – média de R$ 85,4 mil .
Já a diretoria estatutária do Itaú sofreu queda na remuneração, no comparativo dos últimos dois anos. O montante de R$ 126,7 milhões foi reduzido em 30,9% e chegou a R$ R$ 87,6 milhões, em 2010. Cada diretor passou o ano com uma renda média de R$ 486,6 mil por mês, posto que o banco tenha 15 diretores. Esse valor é suficiente para o governo federal conceder 3.442 bolsas-família, cujo teto é de R$ 242.
“Toda remuneração tem dois objetivos: compensar o nível de responsabilidade do cargo e os resultados obtidos e manter o quadro que é importante para a organização”, explicou Magnus Apostólico, o diretor de relações trabalhistas da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). As recompensas apresentadas nesta reportagem estão na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ligada ao Ministério da Fazenda.
No ano passado, a quantia paga aos 48 conselheiros administrativos do Santander foi de R$ 4,1 milhões. (O comparativo a 2009, neste caso, não é possível, pois o valor daquele ano não consta na CVM.) Os membros do conselho ganharam, em média, R$ 5 milhões no ano ou R$ 37,9 mil por mês.
Já a remuneração anual dos diretores do banco espanhol cresceu 43,5%, entre 2009 e 2010. Subiu de R$ 168,5 milhões para R$ 242,4 milhões, com 48 executivos dividindo a quantia. A média mensal por membro foi de R$ 420,8 mil, o equivalente a 15 vezes o salário dado no Supremo Tribunal Federal, cujos juízes têm status de ministro e recebem o teto salarial da República (R$ 26.723).
Em abril, a assembleia de acionistas do Santander fixou o montante de R$ 283,5 milhões para a remuneração de seu conselho e sua diretoria, somados, neste ano. É um novo aumento, de 15%.
Quem ganha menos nas esferas superiores dos bancos são os conselheiros fiscais, que ficam de olho na gestão dos executivos. O Itaú destinou R$ 633 mil aos seis membros do órgão no ano passado: média mensal de R$ 8,7 mil por cabeça. O Bradesco pagou um pouco a mais: cerca de R$ 12 mil por mês, na média, a cada um dos três integrantes do conselho fiscal. O Santander não dispõe desse tipo de órgão ou agente.
BB à parte
O Banco do Brasil, que tem 59,2% das ações controladas pelo governo federal, não concede reajustes tão altos, como os privados, a seus dirigentes. Os seis membros do conselho administrativo (quatro deles indicados pelo Tesouro Nacional) receberam um total de R$ 236 mil, em 2009. Essa quantia cresceu 8% no ano seguinte, sendo fixada em R$ 255 mil. A remuneração dos conselheiros do banco não pode ultrapassar o equivalente a 10% do salário do presidente, que é de R$ 44,5 mil.
Na diretoria, os 36 executivos são bem remunerados: em 2010, receberam R$ 26,1 milhões – 3,1% a mais que em 2009, quando o ganho foi de R$ 25,3 milhões. A média na remuneração de 2010 era de R$ 60,4 mil para cada membro da diretoria estatutária do BB.