O Banco Central Europeu (BCE) anunciou nesta quarta-feira (21) um empréstimo de 489 bilhões de euros a 523 bancos afetados pela crise na zona do euro pelo período de três anos. A expectativa é que os recursos estimulem a recuperação das instituições, levando à compra de títulos da dívida da Espanha e da Itália. Em 2009, numa operação semelhante, apenas metade dos fundos liberados aos bancos foi usada para adquirir papeis das nações endividadas.
Embora a operação seja recebida com otimismo pelos mercados, o valor demonstra a gravidade da crise. Até então analistas calculavam que a demanda de liquidez dos bancos ficaria entre 160 e 250 bilhões de euros.
Esta é a primeira vez que o BCE empresta fundos a três anos para bancos, e o montante representa a maior quantia de recursos já injetada no sistema financeiro europeu desde a criação da instituição.
O órgão deixou claro que fornecerá aos bancos da zona do euro todo os fundos que necessitem e em condições muito vantajosas, com o fim de aquecer o fluxo de crédito a empresas e famílias.
Entre os efeitos que o BCE espera atingir estão o aumento da confiança internacional nos bancos europeus (cujas notas de crédito vêm sendo sistematicamente reduzidas pelas agências de risco), a redução da ameaça de quebra e o estímulo à compra dos títulos das dívidas da Espanha e da Itália.
Dúvidas
Segundo o jornal “Financial Times”, há insegurança nos mercados quanto à eficácia da medida.
Há dúvidas se os bancos vão de fato aproveitar a liquidez trazida pelo empréstimo do BCE para a compra de títulos da Espanha e da Itália ou se devem utilizar os recursos apenas para sanear suas próprias contas.
Em 2009, numa operação semelhante por parte do BCE, em meio à crise, 442 bilhões de euros foram emprestados aos bancos europeus no período de um ano. Do montante, somente a metade foi utilizada para a compra de títulos de nações endividadas –sobretudo da Espanha e da Grécia– aponta um estudo do Deutsche Bank citado pelo “Financial Times”.
“Embora isto possa ajudar a resolver alguns sinais de tensão nos mercados de crédito e estimular os bancos a concederem crédito, continuamos céticos quanto à ideia de que a operação amenizará a crise da dívida soberana (…)”, disse Jonathan Loynes, economista-chefe de Europa da Capital Economics.
Em meio às incertezas, muitos analistas argumentam que a crise só será de fato amenizada caso o próprio BCE faça compras mais agressivas e diretas dos títulos dos países endividados, algo que o órgão vem evitando.
Segunda Operação
O empréstimo anunciado nesta quarta-feira é a primeira das duas operações com vencimento a três anos (36 meses) que a instituição financeira vai realizar. A segunda será em fevereiro.
A ação será realizada mediante um procedimento de leilão com adjudicação plena e a uma taxa de juros fixa, que será indexada à média à qual ficar situada a taxa de juros reitora do BCE no período em que o empréstimo estiver em vigor.
Atualmente, as taxas de juros estão fixadas em 1% na zona do euro, mas ao longo dos três próximos anos podem ocorrer mudanças.
Espera-se que a participação neste leilão seja “muito elevada”, segundo Christoph Rieger, analista do Commerzbank, a segunda maior entidade financeira alemã por ativos.