Manifestação no Ceic cobra fim demissões e da rotatividade no Itaú
Descendo as escadarias do Centro Empresarial Itaú Conceição (Ceic), em São Paulo, com trajes elegantes e sob olhares curiosos, os atores (que na verdade eram os diretores da Fetec-CUT Antonio Soares, o Tonhão, e Carlos Garcia), representando a fusão Itaú e Unibanco, já demonstravam os primeiros desentendimentos da relação.
“Mas você falou que não ia demitir”, reclamava um dos interlocutores. “Você ganha o título de melhor banqueiro lá fora, mas a gestão é nossa”, choramingava o outro. A encenação humorística foi a estratégia adotada pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo para reclamar das demissões que vêm ocorrendo após a fusão dos dois bancos, em 2008.
O diretor executivo do Sindicato e funcionário do Itaú, Daniel Reis, destaca que a recente conquista do prêmio Financial Times Sustainable Awards, que reconhece as melhores políticas e práticas de sustentabilidade do setor financeiro – recebido na Inglaterra pelo Itaú -, não é justa.
“Sustentabilidade implica na utilização racional dos recursos naturais ou manufaturados, mas quando o assunto é seu maior bem, os bancários, há descarte e desrespeito na gestão dos trabalhadores. Isso é ignorado pelo jornal inglês que concedeu o prêmio. Por isso pedimos que devolvam a premiação e façam primeiro o dever de casa”, aponta Daniel.
Faixas como “pelo fim da demissão imotivada” ou ainda “brilho nos olhos só se forem lágrimas de demitidos” denunciavam a atitude do banco que tem substituído funcionários com salários maiores ou próximos da aposentadoria por outros a um custo menor. Os números repassados pelo próprio Itaú apontam que no primeiro semestre houve crescimento de 82 mil para 85 mil funcionários.
De acordo com estudos do Dieese, a diferença salarial entre admitidos e demitidos no setor financeiro, no primeiro trimestre desse ano, é de 43%. Enquanto um trabalhador demitido recebia cerca de R$ 4.086,32 o recém-admitido recebe R$ 2.330,25.
Gerentes no caixa
Para o diretor executivo do Sindicato, Carlos Damarindo, também funcionário do Itaú, as demissões prosseguem e os bancários estão expostos cada vez mais à sobrecarga de trabalho. “Enquanto se economiza na qualidade da bobina de papel ou na água no telemarketing, a correria nas agências é tão grande que gerentes operacionais estão abrindo caixas, sobrepondo uma função que não é deles, e caixas não conseguem nem fazer o intervalo de descanso a que têm direito.”
Ele conta que se nas agências há peças publicitárias com funcionários sorrindo contando histórias de sucesso, o banco demite justamente quem cumpre metas e dedica seu tempo à instituição. “A publicidade é que merece os prêmios. Consegue enganar aos europeus e clientes. Todos aparecem felizes nas campanhas, mas nas agências há muitos trabalhadores adoecendo e desiludidos com a empresa.”
Denúncia
Uma funcionária denunciou ao Sindicato que bancários são demitidos diariamente nos centros administrativos, principalmente na área de crédito imobiliário. “As pessoas estão estressadas, com medo, e quem não concorda com a atual administração é encaminhado para o prédio do Centro Administrativo Tatuapé (CAT), onde há menos exposição. Lá são assediadas moralmente e posteriormente demitidas”, alertou.
Daniel Reis ressalta que toda a demissão é inaceitável ainda mais na conjuntura de substituição de mão de obra, num cenário de expansão e lucros bilionários. “É necessário que o Itaú determine o fim das demissões. O banco precisa aceitar a proposta do Sindicato de debater o emprego.”