(São Paulo) O bancário Paulo Salvador tomou posse na última segunda-feira, dia 11, como novo presidente da Afubesp (Associação dos Funcionários do Grupo Santander Banespa, Banesprev e Cabesp). Ele substitui o deputado estadual eleito por São Paulo, Cido Sério, que solicitou licença do cargo em razão de suas novas atribuições.
Com uma longa história no movimento sindical, Salvador foi diretor financeiro eleito da Cabesp por duas gestões e integra a diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
Salvador concedeu esta entrevista exclusiva, na qual valoriza a ligação entre a Afubesp e outras entidades sindicais e afirma: “Precisamos atrair tanto jovens de idade quanto novos de banco e isso vai exigir um refazer da associação”. Confira os principais trechos abaixo.
Como é assumir a presidência de uma entidade com a história e a importância da Afubesp?
Acompanhei de perto toda a evolução da Afubesp, desde quando montamos chapa em 86 e saímos vitoriosos. A direção foi delegada a um grupo de pessoas, mas eu fazia parte de um outro grupo que acompanhava de perto essa gestão. O fato de me tornar presidente aumenta barbaramente a responsabilidade. O caminho é o mesmo das responsabilidades que o ser humano enfrenta, como pilotar um avião ou educar filhos. É preciso fazer com cuidado, com base científica e valorizando as pessoas. A gente é representante e isso exige prestação de contas, resultados, lidar com pessoas de diferentes segmentos.
Quais os principais desafios que você encontra nesse momento?
Um desafio maior é que eu chego na Afubesp bem no finalzinho da transição de Banespa para Santander. Ano passado o banco retirou o nome Banespa, apesar de divergências dentro da direção, mas a posição da matriz na Espanha prevaleceu, com uma política de padronizar internacionalmente a marca. Isso exige reinventar e colocar as entidades nesse banco novo, jovem, que tem apenas sete anos de existência, mas fazer isso preservando um contingente grande de 20 mil banespianos, entre pessoal da ativa e aposentados, que têm direitos que a gente conquistou e que precisam ser mantidos. Temos que renovar, remoçar a associação, com pessoas e idéias novas. Não se trata mais de um banco estatal, mas de um privado, que batalha para se inserir num mercado competitivo, tem conteúdo ideológico diferente. Precisamos atrair tanto jovens de idade quanto novos de banco e isso vai exigir um refazer da associação. O mesmo vale para as demais entidades. A associação e os sindicatos precisam ter uma parceria permanente. A associação só pode dar certo se entrelaçar-se com todas as entidades, associações de aposentados, clubes e sindicatos. Precisa ser uma parceria estratégica, duradoura, um casamento.
Esse é o principal desafio da gestão?
O primeiro, o mais básico de todos os desafios, é estabelecer canais de comunicação com esse novo contingente dentro do banco. Precisamos ter um canal que leve as mensagens e pelo qual a gente ouça essas pessoas. A forma antiga, do Banespa, já não funciona direito. É preciso então lançar mão de jornais, sites, torpedos, formas que sejam atrativas. A pessoa entra no banco e quer estudar, ter seu salário, e precisamos inserir essas questões. No médio e longo prazo, há outras questões. O Santander tem um lema de que quer ser o melhor banco do mundo. Nós queremos que seja o melhor banco do mundo para se trabalhar. Ou seja, que o RH seja o melhor RH do mundo, que a política de benefícios seja a melhor do mundo, a política de remuneração. E estamos longe disso ainda, muito longe.
Uma marca forte na gestão de Cido Sério foi a atuação da Afubesp em áreas fora das preocupações diretas dos bancários, como a construção de cisternas e o apoio a entidades sociais. Isso deve continuar?
É necessário que se mantenha. É importante porque a sociedade pede isso hoje. A principal marca das associações e dos sindicatos a partir da década de 90 é a cidadania, uma Afubesp cidadã. Isso é, de certa forma, entender as pessoas com seres integrais, que têm as necessidades básicas da vida, de alimentação, transporte, moradia, educação, lazer. Só a questão interna do emprego e do salário não envolve a cidadania por completo. Hoje isso chega ainda a questões de segurança, meio ambiente e outras. Nós não vamos conseguir isso só como espírito corporativo, porque o trabalhador está inserido no mundo integral. Precisamos abraçar, com cautela, com cuidado, os movimentos sociais. Aquele movimento de construir cisternas, por exemplo, com pequeno investimento financeiro tornou-se um exemplo seguido por bancos e outras entidades. Outro exemplo é o investimento em crianças e adolescentes. A sociedade tem que cuidar das crianças, de nossos filhos e dos outros. Também a velhice, os mais frágeis precisam de apoio. É preciso fazer investimentos na área de educação.
Em relação aos direitos do trabalhador, quais as prioridades?
As pessoas querem antes de mais nada reconhecimento. Várias pesquisas da área de pessoal mostram que o salário aparece em terceiro ou quarto lugar com preocupação dos trabalhadores. É importante, mas às vezes as empresas raciocinam que só o beneficio material parece ser suficiente, mas isso é enganoso. Primeiro, precisamos brigar por resultados concretos – auxílio-educação, PLR, salários melhores. Mas os bancários querem ainda mais reconhecimento, crescimento na carreira. Essa é a característica das melhores empresas. O assédio moral não funciona. Às vezes você consegue resultados mais expressivos com um ambiente melhor. Mas precisamos buscar resultados práticos. Tem um conjunto de serviços básicos das associações, que começa com a cultura, cinema, teatro, e é muito importante. Sou partidário de requisitar o tíquete cultural, como o de alimentação, para as pessoas irem a jogos de futebol, ao cinema. Em vez de financiar a produção do cinema ou do teatro, financiar o público. A pessoa ter acesso a uma pousada para passar o fim de semana que cabe no orçamento dela, é muito bom. Se a gente conseguir isso, de a pessoa falar “consegui isso porque a associação disponibilizou pra mim”, isso é bom para caramba. É trabalhar para a felicidade das pessoas.
Fonte: Contraf-CUT