Não é novidade, mas nesse trimestre as instituições financeiras que atuam no País deram mais uma lição de como ganhar dinheiro sem correr grandes riscos.
“Um banco é uma instituição pertencente ao Sistema Financeiro Nacional, regulado pelo Banco Central do Brasil e que cumpre as seguintes funções: Rentabiliza as economias e poupanças das pessoas e empresas através do pagamento de juros; Financia o consumo e o investimento das pessoas e empresas cobrando para isso juros e comissões; Realiza serviços de pagamentos e recebimentos também para seus clientes pessoa física ou jurídica e para isso cobra tarifas.”
Essa é a definição da atividade bancária segundo a própria Federação Brasileira de Bancos (Febraban). De todas essas funções, no entanto, os bancos só tem cumprido bem a terceira, principalmente na cobrança de tarifas. Mas no que diz respeito a rentabilizar economias, e principalmente, financiar consumo e investimentos, o setor tem deixado a desejar.
E a deficiência no crédito é a mais grave. E mais grave ainda é verificar que essa deficiência é planejada. Os bancos se especializaram em conceder financiamentos somente a quem não precisa. E como a estratégia tem dado certo, com os lucros das grandes instituições cada vez maiores, não há porque muda-la.
Ao analisar os balanços de Bradesco, Itaú Unibanco e Santander, verifica-se que só o primeiro registrou crescimento no crédito direcionado para micro, pequenas e médias empresas em 12 meses. E um avanço bem modesto, de 3,7% entre o final de junho de 2013 e o final de junho de 2014. A carteira total do banco, no mesmo período, avançou 8,7%.
No caso do Itaú e Santander, as carteiras para as empresas de menor porte caíram 4,1% e 12,1% no mesmo período, respectivamente. Enquanto isso, as operações liberadas para grandes empresas subiram nos três bancos. No Bradesco, o avanço foi de 9,9% em 12 meses, no crédito para grandes corporações. No Itaú, o crescimento foi de 14,5%. No Santander Brasil, houve um incremento de 12,5%.
É fácil perceber a preferência dos bancos na hora de conceder empréstimos. Os bancos alegam que há também uma demanda menor por parte das pequenas empresas, por conta das incertezas do cenário econômico. Mas os próprios empresários dizem que precisam, cada vez mais, recorrer a outros meios, como as factorings, para conseguir algum tipo de financiamento de seu capital de giro.
Na verdade, há ao menos duas soluções possíveis para esse problema. A primeira é criar um programa sério de incentivo ao mercado de capitais. É o meio mais eficaz e barato para que grandes empresas consigam novos recursos, e pode ser até mesmo um caminho para algumas pequenas e médias empresas. Com isso, os bancos vão precisar diversificar mais suas ofertas de crédito, já que as grandes corporações vão ter maior facilidade de buscar recursos com investidores.
Na outra ponta, o Banco Central precisa flexibilizar a regulamentação para cooperativas de crédito, e também criar regras mais claras para a atuação das entidades de fomento mercantil. Com isso, a autoridade monetária criaria um ambiente de maior competição no Sistema Financeiro, e as pequenas empresas teriam mais alternativas para acessar linhas de crédito. E também baixar os juros, para que os bancos tenham que realmente emprestar recursos para manter a rentabilidade, e também para atrair os investidores para o mercado de capitais.
Parece complicado, mas é um ciclo relativamente simples. Os bancos precisam sentir a necessidade de emprestar, de correr mais riscos. Hoje, eles ganham muito, com riscos muito baixos. Praticamente um paraíso, cheio de árvores de dinheiro que caem facilmente no colo dos banqueiros.
Renato Carvalho é editor de Política Econômica e Finanças no DCI, de São Paulo.