Dirigentes da Contraf-CUT também reforçaram o recado com faixas na manifestação
“Somos todas margaridas por um País melhor!”. Com este grito e muitos outros, mais de 70 mil mulheres marcharam em Brasília, nesta quarta-feira (12), pela manutenção da democracia brasileira e contra o retrocesso. As manifestantes saíram, no começo da manhã, do Estádio Mané Garrincha e foram até o Congresso Nacional, onde circularam o prédio. Muitas deram às costas à Casa Legislativa e não faltaram críticas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, além de pedidos de saída do deputado.
“Viemos dizer para este Congresso que não suportamos a forma como tem tratado as mulheres”, avisou a coordenadora da Marcha, Alessandra Lunas, da Secretaria de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Alessandra lembrou a rejeição do Congresso à emenda constitucional que garantiria a maior presença de mulheres no poder legislativo, com a reserva de 10% das vagas para deputadas, senadoras e vereadoras. “Somos 52% da população e queremos 52% do Congresso, que só tem reforçado o machismo. Este conservadorismo não representa as mulheres”, disse Alessandra.
Em Brasília, o presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, disse que a Marcha das Margaridas, “pelo tamanho e importância que possui, reafirma o papel que a mulher deve ter na política, lembrando que temos uma presidenta”. E acrescentou: “Ainda temos muitas mulheres sofrendo em vários setores. A marcha dá muita visibilidade para as questões de gênero e para a importância do debate da sociedade sobre a igualdade de oportunidades”.
Defesa da democracia
“Não vai ter golpe hoje, nem amanhã, nem nunca mais”, foi outro aviso das participantes da Marcha. Lideranças do ato defenderam a permanência de Dilma Rousseff na condução do País. Outros dirigentes da Contraf-CUT também reforçaram o recado com faixas na manifestação. “Não aceitamos retrocesso. Não aceitamos golpe. Estamos nas ruas para combater o conservadorismo político atual, que age para derrubar direitos históricos dos trabalhadores e implantar a terceirização, que já precariza as relações de trabalho e atinge a saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras”, alertou a secretária da Mulher da Confederação, Elaine Cutis.
Estava marcado ainda para a tarde desta quarta-feira o encontro com a presidenta Dilma Rousseff no Estádio Mané Garrincha. A expectativa é que a presidenta anuncie novas políticas públicas e compromissos do governo com as pautas defendidas na Marcha.
Taxação das fortunas
Ao chegar em frente ao Ministério da Fazenda, os manifestantes criticaram o ajuste fiscal, liderado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e pediram a sua saída do cargo. As margaridas afirmaram que o trabalhador tem pago a conta do ajuste e defenderam como alternativa para a crise a taxação das grandes fortunas.
Os manifestantes também criticaram a falta de investimento dos bancos no desenvolvimento do País e lembraram os altos lucros que as instituições financeiras têm registrado, mesmo neste período de queda no crescimento da economia.
No primeiro semestre deste ano, o Bradesco anunciou lucro de R$ 8 bilhões, com alta de 20,6%, em relação ao mesmo período do ano passado. O Itaú lucrou 11,9 bilhões e o Santander, 3,3 bilhões.
“Este é um ponto importante que a Marcha também traz para as ruas. Nós que trabalhamos no ramo financeiro vemos que o lucro dos bancos não são revertidos em melhorias no trabalho. A categoria bancária conquistou vários avanços, mas ainda sofremos com metas abusivas e assédio moral”, ressaltou a dirigente Lucimara Malaquias, do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Contra a violência
As margaridas também defenderam o fim da violência contra a mulher. Nos vários carros de som, espalhados pela marcha, e durante todo o encontro, mulheres do campo e da cidade deram seus depoimentos sobre situações de violência em várias regiões do País. Preocupação, traduzida em números.
De janeiro a junho deste ano, a central de atendimento à mulher (Ligue 180) da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM/PR), recebeu 32.248 relatos de violência contra a mulher, 16.499 foram de violência física (51,16%); 9.971 de violência psicológica (30,92%); 2.300 de violência moral (7,13%); 629 de violência patrimonial (1,95%); 1.308 de violência sexual (4,06%); 1.365 de cárcere privado (4,23%); e 176 de tráfico de pessoas (0,55%).
“A Marcha das Margaridas desperta as mulheres e a sociedade para as mais diversas situações de discriminação que as trabalhadores ainda sofrem. Fico emocionada em ver tantas mulheres envolvidas com o combate à violência e a defesa dos nossos direitos. Na cidade temos mais estrutura, mas no campo as mulheres parecem ter mais coragem. Esta força está presente aqui”, ressaltou a dirigente Inês Ogando, do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Mas não só as mulheres marcharam em Brasília. Os homens também se juntaram à luta. O secretário de combate ao Racismo da Contraf-CUT, Almir de Aguiar, lembrou que as mulheres negras sofrem discriminação dupla por gênero e raça e destacou a branquitude do Congresso Nacional.
“Embora representem mais da metade da população e do eleitorado, pesquisas mostram que somente 3% dos eleitos se declararam negros. Com poucas mulheres no Legislativo esta proporção fica ainda pior. São situações que também precisam mudar”, afirmou o secretário.