Luis Nassif
Conversa Afiada
A investida do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para mudar os paradigmas da política econômica, casou com o mais importante documento até agora divulgado de reavaliação das práticas econômicas após a crise de 2008.
Trata-se do artigo “O futuro da política macroeconômica: nove conclusões preliminares”, no qual Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, sintetiza os resultados da Conferência “Repensando a política macroeconômica”, organizada pelo FMI com os economistas David Romer, Joe Stiglitz e Michael Spence.
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Blanchard alerta que não se trata de um Consenso de Washington 2, mas de um questionamento sobre as lições trazidas pela crise.
Quem acompanha minhas colunas desde os anos 90 identificará nelas a maioria dos pontos agora admitidos pelo intelligentsia financeira mundial. No entanto, eram interpretados como “falta de conhecimento” pelos cabeças-de-planilha.
O que ocorria é que os ganhos provenientes do modelo anterior bloqueavam qualquer tentativa de analisar a política econômica com olhos isentos e do bom senso, do pragmatismo e da análise empírica da realidade.
Nos próximos meses, o mercado se voltará – por efeito manada – para essas novas conclusões. Será “cult” mudar o pêndulo e passa a repetir análises que, feitas anos atrás, eram tratadas como anacrônicas.
Ponto 1 – há um novo mundo, muito diferente em termos de política econômica.
Ponto 2 – Entre mercado e Estado, o pêndulo da história passou a balançar mais um pouco em direção ao Estado.
Ponto 3 – As distorções na macroeconomia são muito mais relevantes do que se imaginava. Focava-se muito o terreno da microeconomia, sem pensar no todo. Agora, descobre-se que as distorções no sistema financeiro se transformam em macro-causas. Há aqui há uma crítica ao pensamento dos últimos anos, de que todos os consumidores e/ou investidores se movem por decisões racionais, portanto os mercados se autorregulam.
Ponto 4 – uma crítica contra duas simplificações hegemônica nos últimos anos. A primeira, a de que, na política macroeconômica, deve-se adotar um instrumento para um objetivo. Ou seja, as metas inflacionárias devem visar exclusivamente o combate à inflação – e o resto que exploda. Diz o artigo que esse conceito foi jogado água abaixo pela crise, e que se tem que ir além, buscando a estabilidade financeira, adotando medidas prudenciais. A segunda simplificação é o fato de se olhar a política fiscal apenas pelos seus efeitos multiplicadores sobre a economia (a síndrome do superávit primário, no Brasil). Há potencialmente dezenas de instrumentos fiscais, cada qual com seus próprios efeitos dinâmicos.
Ponto 5 – há muitos instrumentos de política macroeconômica, mas muitas dúvidas sobre como utilizá-los. Durante a conferência havia dúvidas sobre o real conceito de liquidez. Alguns acreditam no controle do capital, outros não. Paulo Romer lembrou que se adotar um conjunto de regulamentos financeiros, mantendo-os inalterados, o mercado encontrará maneira de burlá-los – portanto tem que haver dinamismo na regulação. Michael Spence falou das dificuldades em definir a combinação ideal entre auto-regulação e regulamentação.
Ponto 6 – aí se entra no terreno complexo da economia política, as relações entre países e entre setores internos. Como criar uma estrutura multilateral reguladora que valha para todos os países? Mesmo internamente, alguns instrumentos macro-prudenciais afetam setores específicos, conjunto de indivíduos ou empresas, podendo afetá-los em relação aos demais. Dani Rodrik defendeu a utilização de políticas industriais, mas outros economistas alertaram para seus limites.
Ponto 7 – Quando se pensa para onde se poderá ir, o futuro é emocionante. Ponto.
Ponto 8 – A dúvida é na política. Como se desaprendeu como utilizar outras ferramentas econômicas, será necessário um passo-a-passo para o novo modelo. Por exemplo, em relação às metas inflacionárias, não será possível da noite para o dia definir cinco metas e sete. Ponto essencial será o pragmatismo. E o caso chinês é apontado como modelar.
Ponto 9 – Como livrar do problema dos “ciclos de crédito”, se faz parte da natureza humana esses movimentos de manda?