Setor bancário dos EUA está mais vulnerável a crises

The Wall Street Journal
Mark Whitehouse, de Atlanta

Os investidores de Wall Street podem ter começado a suspirar de alívio com o fim da crise financeira, mas economistas acadêmicos que participaram da reunião anual da Associação Americana de Economia dizem que ainda estão longe de garantir que ela não se repetirá. Nos últimos dias, os economistas reunidos aqui ressaltaram as várias maneiras em que as lições da crise ainda não foram assimiladas. Poucos acham que os governos dos Estados Unidos e de outros países realizaram os reparos necessários ao sistema de regulamentação financeira.

E alguns deles sugerem que a resposta dos governos aumentou as chances de recorrência, tornando o sistema bancário mais passível a crises, aumentando o fardo em instituições como o Federal Reserve, o banco central dos EUA, e deixando as finanças públicas mais vulneráveis. “Nossa resposta nos tornou vulneráveis a uma crise maior”, disse Tom Sargent, economista da Universidade de Nova York. “É preocupante.”

Os bancos representam a preocupação mais urgente. Ao propiciar programas gigantescos de socorro aos bancos comerciais e às corretoras, segundo a lógica, os governos deram aos executivos dos bancos um seguro contra catástrofes – e incentivo para que assumam riscos ainda maiores do que antes da crise. Mas pode demorar anos até que os políticos determinem novos mecanismos de controle, como mais exigências de capital, que evitariam que os contribuintes e o resto da economia sofram novamente da próxima vez que os bancos enfrentarem problemas.

“Se os bancos realmente acharem que estão seguros, então temos uma situação perigosa”, disse Robert Hall, da Universidade de Stanford e presidente da associação. “Os incentivos são para que se adote uma posição muito arriscada. Se vencerem, podem ficar com os lucros e, caso percam, é problema do governo.”

Os políticos estão numa posição delicada. Não podem impor novas regras imediatamente, temerosos de que possam coibir a oferta de crédito crucial para uma recuperação sustentável da economia. Mas, à medida que os bancos recuperam a força, a oportunidade política para criar uma nova arquitetura financeira pode ser perdida para sempre. “Você só tem uma janela minúscula para realmente mudar as coisas”, disse Markus Brunnermeier, da Universidade de Princeton. “Ela já está se fechando.”

Mas a crise ainda não terminou para os bancos. O cenário mais pessimista, de acordo com os testes de estresse feitos no ano passado, que restauraram a confiança nos bancos americanos, previa só dois anos de prejuízos nos bancos. Mas os bancos provavelmente devem enfrentar mais prejuízos durante vários anos, com um número crescente de execuções judiciais e de problemas no mercado de imóveis comerciais.

“Se o governo americano pudesse dizer com credibilidade (aos bancos): nunca mais vamos socorrê-los, o (sistema bancário) entraria em colapso”, disse Kenneth Rogoff, da Universidade Harvard.

Para agilizar a recuperação da saúde dos bancos, Brunnermeier, de Princeton, acredita que os governos deveriam estabelecer limites muito mais severos para o pagamento de dividendos e de bônus, que corroem o capital de que os bancos precisam para absorver prejuízos e continuar disponibilizando crédito. “Não acho que o governo agiu com a força necessária nessa questão”, disse ele. “Se o Goldman Sachs está pagando esses bônus enormes, os outros bancos são forçados a fazer o mesmo.”

Outros economistas citaram a falta de um plano para a Fannie Mae e a Freddie Mac, as combalidas gigantes hipotecárias – conhecidas como empresas patrocinadas pelo governo – que estão absorvendo somas vultosas de dinheiro do contribuinte, dentro do esforço do governo americano para manter o mercado hipotecário em funcionamento. Quando os juros de longo prazo subirem, algo inevitável, disse Anthony Sanders, da Universidade George Mason, “teremos prejuízos tremendos no balanço dos bancos e (dessas hipotecárias)”.

“A estrutura das empresas patrocinadas pelo governo deve ser eliminada porque esses incentivos inevitavelmente criam problemas”, disse Dwight Jaffee, da Universidade da Califórnia em Berkeley. Mas ele e seus colegas diferem sobre qual é a melhor solução. Jaffee quer que o governo compre as hipotecas e as transforme em títulos imobiliários, como fazem a Fannie Mae e a Freddie Mac; mas a tarefa no final deve ser transferida para a iniciativa privada.

Dois economistas do Fed, Diana Hancock e Wayne Passmore, enfatizando que não expressam a opinião oficial do Fed, sugeriram que o governo deve garantir explicitamente não apenas as hipotecas, mas também outros instrumentos financeiros, com um novo fundo de seguro, financiado por contribuições parecidas com as usadas para os depósitos bancários.

Os economistas também expressaram temores de que as medidas sem precedentes adotadas pelo governo e o Fed possam enfraquecer a ambos no futuro. As intervenções gigantescas do Fed aumentaram a sua exposição a riscos financeiros e políticos, e isso pode diminuir a capacidade do banco central de intervir e acalmar os mercados. E o custo gigantesco dos programas de resgate financeiro e econômico oneraram ainda mais as finanças dos governos das economias desenvolvidas.

Nos próximos anos, por exemplo, a dívida bruta dos EUA e do Reino Unido vai ultrapassar 90% do PIB anual desses países, um acontecimento que pode amedrontar investidores e coibir severamente o crescimento econômico. Quando os países ricos ultrapassam o patamar dos 90%, seu crescimento anual tende a ser um ponto porcentual menor, disseram Rogoff e Carmen Reinhart, da Universidade de Maryland. “Isso é muito preocupante para os EUA e outras economias desenvolvidas”, disse Reinhart.

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