Financial Times
Jennifer Hughes e Michael Mackenzie, de Londres e Nova York
As taxas dos empréstimos bancários europeus subiram ao mais alto nível em um ano, num movimento que poderá elevar ainda mais o valor do euro contra o dólar, depois de Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE) sinalizar sua falta de preocupação.
Embora o BCE tenha mantido ontem sua taxa básica de refinanciamento em 1%, como esperado, o euribor de três meses, taxa monitorada de perto, pela qual os bancos concedem empréstimos uns aos outros, subiu para 0,904%, nível mais alto desde julho de 2009. A taxa de empréstimo bancário deu um salto, de aproximadamente um terço, desde o começo de maio.
Perguntado sobre a alta, Trichet observou um aumento radical na atividade do mercado financeiro nas semanas recentes e descreveu a alta no euribor como “parte da normalização da situação”.
Altas nas taxas interbancárias têm sido interpretadas como uma medida da tensão no sistema bancário nos últimos três anos, já que as taxas mais altas representavam as opiniões dos bancos sobre o nível de risco dos seus pares.
Analistas, porém, apoiaram a opinião de Trichet, de que a alta recente nas taxas de empréstimo refletia um retorno a condições mais normais de mercado. Eles destacaram o aumento na atividade e uma falta de transtornos no mercado financeiro no mês passado, quando o BCE retirou o primeiro dos seus empréstimos de um ano, obrigando os bancos a restituir fundos no valor de 442 bilhões (US$ 581 bilhões).
“O fato de as pessoas não terem ficado desesperadas para tirar proveito da liquidez do BCE efetivamente significa que as tensões afrouxaram e que o mercado financeiro pode lidar com liquidez ligeiramente menor”, disse Eric Wand, analista da consultoria 4Cast.
Os diferenciais nas taxas de juros poderiam explicar parte do rali de dois meses do euro ante o dólar, onde as taxas equivalentes de três meses na forma do libor dos EUA vêm declinando. O nível de 0,42% de ontem para o libor dos EUA foi o menor desde o começo de maio e empurrou o spread entre as duas taxas ao seu ponto mais alto desde setembro.
A queda nas taxas dos EUA ocorreu em meio a especulações de que o banco central dos EUA pode afrouxar ainda mais a política monetária quando se reunir, na terça-feira.
A queda nos rendimentos de curto prazo nos EUA, que agora se estende às notas do Tesouro de cinco anos rendendo 1,6%, numa queda ante os 2,1% em meados de julho, abalou a confiança no dólar. Analistas questionaram, porém, quanto o rali do euro precisará avançar. “Está ótimo para Trichet neste momento, mas suponho que, se o euro atingir US$ 1,35, começaremos a ver objeções de exportadores sobre condições rígidas demais”, disse Marc Chandler, analista de câmbio na Brown Brothers Harriman.