Um dos locais mais tradicionais da história e da vida gaúcha e porto-alegrense, a Praça da Alfândega, no Centro da Capital, sediou nesta quarta-feira (22), um debate de importância vital para a população e para a maioria dos municípios do estado. Sob uma ampla tenda instalada em frente ao Banrisul, o programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba, discutiu os riscos do Banco do Estado do Rio Grande do Sul ser privatizado ou federalizado, sob os governos de matriz neoliberal de José Ivo Sartori, no estado, e de Michel Temer, na esfera federal.
Os apresentadores da Rádio Guaíba, Juremir Machado da Silva e Taline Oppitz, conduziram o debate com o presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, o presidente do Sindicato dos Bancários, de Porto Alegre, Everton Gimenis, e os deputados estaduais Gilberto Capoani (PMDB) e José Nunes (PT), coordenador da Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul Público.
População precisa estar informada
O presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, destacou a importância do Banrisul para o estado e para o Brasil, enquanto banco público. Paranaense, fez uma analogia da situação do Banrisul com o episódio do Banestado, que se tornou um dos maiores escândalos nacionais nos anos 90 – com prejuízos aos cofres públicos muito superiores aos da Lava Jato, por exemplo. O banco, durante o governo federal de FHC e do governador Jaime Lerner, terminou sendo privatizado e absorvido pelo Itaú.
Roberto von der Osten explicou que além do prejuízo causado pela corrupção, o final do Banestado foi uma grande perda para o estado. “O Paraná é até hoje um estado basicamente agrícola. E esta situação prejudicou os paranaenses, porque banco privado não financia produção agrícola nem política habitacional”, pontuou o líder sindical. “É muito importante este debate aqui na praça, em Porto Alegre e em todo do estado, sobre a tentativa de privatização do Banrisul. A população precisa ser bem informada dos prejuízos que uma privatização pode provocar”, arrematou.
Respondendo a uma indagação do jornalista Juremir, o deputado José Nunes (PT) afirmou que, ainda que todos na mesa defendam a importância do grande banco público gaúcho, o risco da privatização existe sim. “Há a possibilidade concreta de uma privatização, se considerarmos a postura ideológica tanto de Temer quanto de Sartori. E mais ainda: na renegociação da dívida dos estados com a União, o governo Temer praticamente exige que empresas estatais do setor energético, de saneamento e os bancos públicos sejam inseridas no acordo”, destacou.
Importância de resistir
Já o presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre,Everton Gimenis, recorreu aos idos dos anos 90 para lembrar que na época do governo Britto, seu líder na Assembleia Legislativa era o então deputado José Ivo Sartori. “Britto foi para a TV garantir, entre lágrimas, que não iria vender nenhuma estatal, e que seus opositores estavam mentindo”, recordou Everton Gimenis. “Sartori dizia o mesmo na Assembleia. Mas, simplesmente, eles venderam sim a CRT e parte da CEEE. E Britto só não privatizou o Banrisul porque perdeu a eleição. Não dá para confiar em Sartori e seu governo. É importante resistir”, concluiu.
Mas o sindicalista também chamou a atenção para um fato importantíssimo: “Por ser público, o Banrisul é a única instituição bancária que está presente em 347 municípios do estado, sendo que em 87 das cidades menores ele é o único banco que a população pode contar”, relatou, para surpresa de muitos ouvintes do rádio e do público presente à praça.
Estado perde sem o banco
Único membro da base de apoio de Sartori na Assembleia presente ao debate radiofônico, o deputado peemedebista Gilberto Capoani explicou por que fez questão de colocar sua assinatura na Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul Público. “Fui bancário de carreira por mais de vinte anos, no Banco do Brasil, e conheço o setor. No governo Rigotto fui diretor do Banrisul e sei da sua importância para o Rio Grande do Sul. Mesmo estando ciente da situação do estado, fui ao governador Sartori e lhe comuniquei que sou contra qualquer projeto de privatização do nosso banco. Também disse isto à minha bancada. E se houver plebiscito, vou percorrer o estado em defesa da instituição”, definiu.
Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul Público
Além do debate na Praça da Alfândega, esta quarta-feira (22) marca a instalação da Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul Público, a partir das 18h, no Auditório Dante Barone da Assembleia Legislativa. Trata-se de uma esfera pública para debater, dentro do parlamento gaúcho e em todo o Estado, saídas para a crise fiscal do Estado sem que haja necessidade de vender o patrimônio público, como o Banrisul, a CEEE, a Sulgás, a CRM e a Corsan.
O governo do Estado tenta reunir 33 votos para derrubar a obrigatoriedade de plebiscito para a venda do Banrisul, disposto no artigo 22 da Constituição Estadual, que obriga a convocação de plebiscito.
“A Contraf-CUT e toda a categoria bancária estão mobilizados em defesa do Banrisul e todos os bancos públicos. Não só a privatização, mas a intervenção do governo Temer no banco público só traria prejuízos para os trabalhadores e todo a população. Negociar a dívida dos estados, em troca das insituições públicas é um violento retrocesso para o país. Estamos na luta para impedir que isto aconteça”, conclui Roberto von der Osten.