Santander fecha parceria com processadora de cartões de crédito

Valor Econômico
Adriana Cotias, de São Paulo

O Santander formalizou ontem, 14 de janeiro, a parceria com a processadora GetNet e vai dar o pontapé na sua operação de credenciamento de lojistas para a bandeira MasterCard. Segundo comunicado ao mercado, a intenção é atuar na linha de frente, usando o serviço de adquirente para aumentar a sua base de clientes pessoa jurídica, enquanto a GetNet vai fornecer a retaguarda de captação e processamento das transações de débito e crédito.

Para tanto, o banco conta com uma capilaridade de 3,5 mil agências, contando a rede do Banco Real. Pelos cálculos da área de pesquisa do Goldman Sachs, o banco espanhol tem condições de alcançar cerca de 225 mil estabelecimentos comerciais até 2015 e uma participação de mercado de 10%. A previsão é de que o início das atividades se dê ainda no primeiro semestre.

Embora a estreia do Santander no credenciamento seja um marco na abertura do mercado, do lado dos bancos esse pode ser um movimento único, segundo o presidente da Cielo, Rômulo Dias. O HSBC, que, entre os grandes nomes do varejo local, também está habilitado para credenciar MasterCard, ensaia uma aproximação tanto com Redecard quanto com Cielo e esse é o modelo mais provável para o mercado brasileiro, acredita Dias. “Em cinco anos, vamos ter, no máximo, dois novos players.”

O fim da exclusividade entre bandeiras e adquirentes, oficialmente esperado para julho, quando a Cielo passa a ter liberdade para credenciar outras bandeiras além da Visa, deve fortalecer o papel dos bancos como originadores desse tipo de serviço.

De acordo com Dias, Banco do Brasil (BB) e Bradesco, que compõem o grupo de controle da companhia, e mesmo outras instituições que emitem Visa, como o Itaú (que detém metade do capital da principal concorrente, a Redecard), já trabalham ativamente na afiliação de estabelecimentos comerciais.

Pela distribuição, ganham uma comissão, que acaba por se somar à tarifa de intercâmbio – percentual do volume de transações pago pelas bandeiras – na composição de receitas dos emissores.

Com a maior concorrência entre as duas principais empresas de credenciamento e a entrada de possíveis novos players, a relação com os diferentes canais de prospecção pode ser sensivelmente alterada. “Os bancos, ao garantirem que o lojista trabalhe com nossa rede, são remunerados pela afiliação e pode haver, aqui e acolá, algum tipo de renegociação”, prevê Dias.

Hoje o Bradesco, com cerca de 5.900 pontos de atendimento entre agências e postos, e o Banco do Brasil, com quase 12.400, com forte presença no Norte e Nordeste, regiões de baixa penetração no uso de cartões de crédito e débito, são uma das forças da Cielo para expansão da sua base de lojistas.

Para Dias, tal capilaridade é uma dos trunfos da empresa no ambiente de acirramento da competição que se desenha no país. “São instituições com presença nacional e isso faz diferença porque o credenciamento é um negócio de escala, é essa musculatura que permite reduzir custos fixos”, afirma.

Banco vendeu participação de 7,2% na Cielo

Pouco antes da bilionária oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de ações, que movimentou R$ 13,2 bilhões, o Santander já dava sinais de que podia avançar no ramo de credenciamento. A instituição vendeu para a holding Santusa, integrante do Grupo Santander na Espanha, a participação de 7,2% na Cielo, remanescente da aquisição do Banco Real , um dos associados da empresa. Segundo a analista Mariana Taddeo, da Link Investimentos, a transação teve como objetivo evitar qualquer conflito de interesses nessa área.

Na mesma operação de reorganização societária, a subsidiária brasileira se desfez de fatias que detinha na Visa Vale, na Visa e na Tecnologia Bancária (TecBan), sem contudo dar uma razão para isso, conta Mariana.

A transação gerou um ganho de capital de R$ 2,1 bilhões, compensados no resultado do terceiro trimestre de 2008 com aumento de despesas de provisões de crédito, amortização de aquisição de folha de pagamento e para compor um fundo de restruturação, para fazer jus aos custos da incorporação do Banco Real.

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