Valor Econômico
Alex Ribeiro, de Baltimore
Um pequeno banco comunitário de Baltimore, o primeiro a conceder empréstimos à população negra nessa cidade portuária da costa leste americana, foi fechado pelos reguladores americanos e se tornou uma das mais recentes vítimas da crise bancária que afeta os Estados Unidos. Agora, estão sucumbindo bancos quase desconhecidos que servem pequenas empresas e minorias étnicas, enquanto no começo os problemas eram com instituições financeiras de grande porte, como o Citibank e o Lehman Brothers.
Apenas neste ano, 94 bancos fecharam as portas ou foram absorvidos por outras instituições financeiras, e as coisas tendem a continuar ruins por um bom tempo. As falências vão atingir um novo pico em 2010, superando os 140 casos registrados no ano passado, segundo projeções feitas pelo FDIC, sigla pela qual é conhecida a agência que administra seguros de depósitos e exerce poderes de supervisor nos Estados Unidos.
“Meu pai me trouxe aqui para eu abrir a minha primeira conta bancária”, conta Joyce Hartluy, diante da única agência do Ideal Federal Savings Bank, o banco fechado em Baltimore há uma semana. “Ele era cliente desde os anos 1940.” Naquela época, o regime de segregação racial impedia que negros entrassem em agências de bancos administrados por brancos.
Os EUA têm cerca de 8 mil pequenos bancos, incentivados por legislações estaduais que, historicamente, continham avanço dos grandes, ao estabelecerem limites como números máximos de agências. Esse sistema, por anos a fio, foi considerado um dos mais importantes pilares do sistema financeiro americano, porque a forte base de bancos pequenos é o principal canal de financiamento das pequenas empresas.
Com apenas 800 clientes e US$ 6,3 milhões em depósitos, o Ideal Bank é a menor das instituições financeiras que quebraram desde 2007. Em média, as instituições financeiras que sofreram intervenção dos órgãos reguladores americanos são 125 vezes maiores, com ativos de US$ 783 milhões. “O Ideal faliu apenas porque era muito pequeno para sobreviver”, afirma Bert Ely, um consultor em temas bancários da Ely & Company. É caro para um banco muito pequeno fazer os investimentos necessários em tecnologia e arcar com as despesas para atender às exigências regulatórias. O Ideal não tinha ATM (caixa eletrônico) e não oferecia cartão de crédito.
O banco típico que vai à lona, diz Ely, é o New Frontier Bank de Greeley, localizado numa cidade no norte do Estado do Colorado, que faliu há um ano. Ao longo de anos, ele acumulou carteira de empréstimos de US$ 2 bilhões, dirigida sobretudo ao financiamento de produtores de laticínios, uma das atividades mais fortes daquela região. “Depois que o New Frontier de Greeley faliu, muitos agricultores não encontraram financiamento no mercado, e acabaram quebrando também”, afirma Ely. “Foi um impacto muito grande para a economia daquela região.”
Normalmente, os correntistas perdem pouco, pois têm direito a seguro depósito de até US$ 250 mil e costumam ser bem aceitos em outras instituições. No caso do banco do Colorado, porém, clientes tiveram um prejuízo de US$ 150 milhões em depósitos que não eram cobertos pelo seguro.
Alguns bancos quebraram porque fizeram maus empréstimos, mas a principal causa dos problemas é a crise econômica americana. A maior parte das falências bancárias ocorre nos Estados de Flórida, Geórgia, Nevada e Califórnia, justamente aqueles que mais sofreram com o estouro da bolha do mercado imobiliário. Na última sexta, foram fechados seis bancos, dos quais três sediados na Flórida.
“Estamos nos movendo para uma diferente fase dessa crise bancária”, afirma Greg McBride, analista financeiro sênior da Bankrate.com, uma empresa que coleta dados e analisa produtos financeiros de cerca de 5 mil bancos no país. “Agora, as falências bancárias são de pequenos bancos comunitários que estão sendo impactados pelas economias locais, enquanto antes quem estava sob risco de falência eram os grandes bancos.”
A sorte de um pequeno banco pode ser afetada se, por exemplo, a economia das comunidades que servem é muito dependente de uma outra grande empresa que fez demissões em massa de funcionários. “Continuaremos a ver essas falências bancárias, porque o desemprego e a inadimplência estão altos e não dão sinais de cair”, afirma Ely. Hoje, um em cada dez trabalhadores americanos está sem emprego.
As dificuldades enfrentadas pelos pequenos bancos, por outro lado, realimentam a crise econômica. Eles são o principal fornecedor de crédito para as pequenas empresas, que, por sua vez, são os maiores geradores de emprego. Dados do Federal Reserve, o banco central americano, mostram que os pequenos negócios estão pagando os maiores juros dos últimos 25 anos para levantar recursos nos bancos. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mandou para o Congresso um projeto que cria fundo de US$ 30 bilhões para sustentar empréstimos para pequenas empresas.
O FDIC incluiu 775 bancos na sua lista de bancos problemáticos, ou seja, que estão mais vulneráveis à quebra devido sobretudo a fragilidades financeiras. Nessa crise, grandes bancos, com exceção do Lehman Brothers, foram salvos com recursos públicos. Mas, por enquanto, não houve nenhum sinal de ajuda para os pequenos.
“O melhor que o governo pode fazer é resolver os problemas para limpar o sistema”, diz MacBride. “Se tentar resgatar esses bancos, acabará criando mais problemas.”
O mercado americano é fértil o suficiente para que os lugares vagos sejam ocupados, ainda que leve muitos anos para consertar o estrago causado pela crise. Todos anos, investidores levantam dinheiro no mercado para abrir novos bancos comunitários.