Medo de contágio da crise da dívida soberana abala bancos europeus

Uma tempestade de pânico atingiu os bancos europeus, ontem, fazendo despencar as ações de grandes instituições, numa ilustração de que os mercados financeiros esperam mais trepidações e, provavelmente, mais contágio da crise da dívida soberana que tomou conta de vários países da zona do euro.

A pressão sobre a França vem aumentando e os bancos franceses foram especialmente castigados, com o Société Générale chegando a ver suas ações caírem 14,74% ontem, 36,15% no mês de agosto e 50,79% nos últimos doze meses. As do BNP Paribas também perderam valor, com queda de quase 10% ontem, 21,68% no mês e 36,41% em doze meses.

Apesar das declarações das três principais agências de rating (Standard & Poor’s, Moody’s Investor Service e Fitch Ratings), reafirmando o grau de investimento ‘AAA’ da França e da garantia de que o país não perderá seu rating antes da eleição presidencial do ano que vem, a percepção entre investidores deteriorou-se.

O presidente Nicolas Sarkozy interrompeu as férias e fez reunião de crise em Paris com ministros e o presidente do Banco Central francês. As declarações oficiais se multiplicaram para garantir que o governo fará todo o necessário para reduzir seu déficit. No entanto, nenhuma medida concreta foi anunciada, fazendo o mercado manter a pressão.

Os spreads de 5 anos de CDS (contratos de credit-default swaps) da França subiram para 175 pontos-base (8,23%), mais do que o dobro do custo de proteção contra o risco de um default da dívida alemã, de 86 pontos-base.

Como os bancos são os maiores detentores dos títulos públicos dos países sob risco de default, o clima de temor se abateu duramente sobre eles, aliado a também a novas inquietações sobre a Grécia e o Chipre.

O Société Générale, segundo maior banco francês, no começo da noite pediu a autoridade de vigilância do mercado para investir a especulação que deflagrou o declínio de quase 15% em suas açôes. O banco reafirmou sua capacidade de “sólidos resultados no futuro'” e negou qualquer problema.

Vendas maçicas de ações atingiram também o BNP Paribas, o maior banco do país. O Credit Agricole perdeu 11,8%, a seguradora AXA, 10,6%, e o Credit Nationale 9%.

Ações de bancos da Itália e Espanha e de outros países europeus também afundaram, em meio ao ceticismo sobre a capacidade das autoridades europeias resolverem tão cedo a crise da divida, com o cenário negativo se ampliando com o atual nivel de desemprego e pouco consumo.

O mercado mostrou também sua desconfiança na capacidade dos bancos italianos se financiarem. As ações de Intesa Sanpaolo e Unicredit, muito volateis, chegaram a ser suspensas. UniCredit perdeu 9,37% e o preço de sua ação caiu abaixo de um euro pela primeira vez desde a crise de 2008. Intesa Sanpaolo teve pesada perda, de 13.7%, o Ubi Banca veio em seguida, com queda de 10,17% nas suas ações.

Em uma única sessão, os dois maiores bancos da Espanha foram os que mais perderam valor: Santander 8,3% e BBVA 7,8%.

“Claramente há o temor de que o contágio seja não apenas sobre os países, mas sobre o sistema financeiro”, afirmou Andreas Hoeferd, economista chefe do UBS, em Zurique. Se isso ocorrer, será um novo round das turbulências que até agora decorrem da percepção que as dívidas soberanas são impagáveis, mas que pode se transformar numa crise de crédito.

O mercado reage a cada rumor, mas o fato é que os analistas e investidores consideram que as ações do Banco Central Europeu (BCE), até agora, apenas compraram tempo para que as lideranças políticas da zona do euro tentem solucionar os problemas fiscais que resultaram das políticas de aumento do gasto público quando da crise de 2008.

Hoje, a principal pergunta que o mercado se faz é se essa situação vai ou não ser respondida com um novo Plano Brady, que na crise da dívida externa dos anos 80, que assolou as economias em desenvolvimento. O Plano Brady permitiu o desconto e a reestruturação das dívidas por 30 anos.

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