Valor: crise põe bancos da América Latina em pé de igualdade com gigantes

Valor Econômico
Alex Ribeiro, da Cidade do Panamá

A crise mundial criou uma dinâmica diferente na tradicional reunião da Federação Latino-Americana de Bancos (Felaban), cuja edição de 2008 acontece no Panamá: desta vez, os bancos da região não estão apenas dando informações aos seus parceiros de países desenvolvidos, mas também pedindo explicações sobre a saúde financeira de grandes instituições que outrora davam as cartas no jogo.

“Vivemos uma crise atrás da outra na América Latina, e boa parte do meu trabalho era explicar como nosso banco iria sobreviver em situações extremas”, disse um banqueiro brasileiro que cumpre uma agenda intensa de reuniões. “Agora, nós estamos tentando nos informar sobre a situação dos grandes bancos estrangeiros para saber como vão sobreviver à crise.”

A parte mais visível de encontros como o da Felaban são as mesas de debates, onde economistas renomados discutem o futuro dos mercados financeiros (a estrela na reunião da Felaban é Noriel Roubini, da Universidade de Nova York, que ganhou visibilidade ao prever a atual crise mundial). A atividade mais importante, porém, acontece nas salas privadas montadas por bancos para fechar negócios, sobretudo novas linhas de financiamento para o comércio exterior.

No Panamá, estão reunidos 1.200 executivos de bancos de 44 países, dos quais a maior delegação é de brasileiros, com 132 representantes. Foram montados 56 escritórios para fechar negócios. Há, de um lado, os grandes bancos internacionais, como o Deutsche Bank, o JP Morgan, o Standard Chartered Bank e o UBS, que em anos recentes estavam abarrotados de dinheiro e procuravam oportunidades para aplicá-lo. De outro lado estão os bancos latino-americanos, região tipicamente importadora de capitais. Estão presentes instituições financeiras de grande porte, como Banco do Brasil, Itaú e Bradesco, além de bancos menores, cuja presença engrossou bastante depois que eles abriram o capital na Bolsa, aproveitando a então forte liquidez internacional para levantar recursos para bancar a expansão de suas carteiras de crédito.

Banqueiros relatam que, na reunião da Felaban deste ano, estão sendo fechados alguns negócios, mas o volume é pequeno. Alguns grandes bancos, com histórico mais longo de solidez, conseguem renovar ou abrir novas linhas, em parte beneficiados pela busca de segurança por bancos estrangeiros que têm orçamentos para serem emprestados na região. Bancos médios e pequenos estão basicamente munindo os bancos estrangeiros com informações para, no futuro, retomarem as linhas de crédito ou ampliarem volumes.

“É basicamente uma busca de informações. Eles querem saber como estamos operando com a crise de liquidez que afetou o nosso mercado”, diz o executivo de um banco médio que foi relativamente pouco afetado pela turbulência. “Eles vão levar essas informações para digerir em casa e, no balanço do fim de ano, vão conferir se o cenário que traçamos para os nossos negócios vai mesmo se confirmar. Daí, lá para o início de 2009, podem ser retomados os empréstimos.”

Até o ano passado, os grandes bancos estrangeiros, que tinham dinheiro, eram basicamente os únicos a fazer perguntas para avaliar a capacidade de pagamento dos bancos tomadores. Neste ano, porém, instituições financeiras de países desenvolvidos estão sendo impelidas a descrever em detalhes como a crise financeira afetou cada um deles e quais são as perspectivas de recuperação das linhas.

“Os bancos estrangeiros estabeleceram relações com bancos latino-americanos ao longo de anos de trabalho e eles, de certa forma, querem preservar esse relacionamento, principalmente porque a América Latina foi menos afetada pela crise do que outras partes do mundo”, explica um banqueiro de uma grande instituição. “Eles estão se esforçando para explicar com detalhes porque cortaram linhas e também para sinalizar quando poderão retomar o relacionamento que tínhamos antes.”

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