A figura do caixa de banco conferindo dinheiro, carimbando cheques e autenticando boletos, parece estar com os dias contados. Basta ver o avanço vertiginoso do uso dos meios digitais nas operações bancárias. Pelos dados da última pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária, em 2012 os canais internet e mobile bank superaram pela primeira vez na história as operações via agências, caixas eletrônicos e call centers.
No ano passado os canais digitais foram responsáveis por 35,7 bilhões de transações (42% do total), enquanto os meios tradicionais ficaram com 41% da preferência dos usuários. As demais transações foram realizadas por meio dos terminais POS (máquinas de pagamentos por cartões em pontos de venda ou de serviços) e correspondentes (prestadores de serviços bancários, como Correios e supermercados).
A tendência é que em 2017 os canais digitais cheguem a 54% de participação, os meios tradicionais fiquem com 24% das transações e os terminais POS e correspondentes respondam por 22%.
Segundo Maurício Minas, diretor executivo do Bradesco, as operações móveis são as que crescem de forma mais explosiva. “Nos últimos 12 meses o canal mobile registrou 155% de expansão no Bradesco em relação ao período anterior, com 555 milhões de operações”, informa, acrescentando que 11% das transações do banco como um todo já estão sendo feitas por esse canal. A internet, sozinha, responde por 48% do total, enquanto o celular, com 10%, já passou o call center (6%).
O diretor do Bradesco explica que os meios digitais, reunindo internet, mobile, call centers e caixas eletrônicos, já perfazem 85% do volume mensal de transações do Bradesco. Em 2013 os investimentos voltados para tecnologia da informação do conglomerado chegaram a R$ 5,5 bilhões. “Se a gente considerar só o banco, sem as empresas coligadas, o investimento este ano ultrapassa os R$ 4,4 bilhões.”
Para Minas, o avanço do Bradesco no segmento celular deve-se em boa parte à utilização do recurso SMS, um protocolo simples que entra em qualquer tipo de dispositivo móvel. A ideia foi incluir parcelas maiores da população brasileira na modalidade, de olho na ascensão das classes D e E para a classe C. “Nosso cliente já pode pagar contas simplesmente respondendo a uma mensagem de SMS”, diz.
Pesquisa da Febraban revela também que em 2012 os meios eletrônicos tiveram um papel relevante no processo de inclusão financeira no país. Motivo de sobra para que o universo dos bancos aumente suas apostas no celular como alavanca para expansão do volume geral das transações.
Os gastos dos bancos com tecnologia cresceram em média 12,4% entre 2008 e 2012, ano em que atingiram R$ 20,1 bilhões, uma expansão de 9,5% em comparação a 2011. Segundo o estudo da Febraban, só com software o avanço no ano passado foi de 37% para acesso a diferentes canais de atendimento e novas funcionalidades.
Em face da mudança de paradigma, uma das mais tradicionais empresas fornecedoras de tecnologia para o sistema bancário – a Itautec – está investindo num novo conceito: “Tudo em todo o lugar”. Segundo Wilton Ruas, vice-presidente de automação da companhia, esse modelo leva à integração dos diversos canais. “A ideia é permitir ao usuário iniciar uma transação – saque, por exemplo – via smartphone e concluí-la em um dos muitos terminais de autoatendimento, os ATMs”, diz.
Entre os vários focos da Itautec está a biometria, pela qual o cliente cadastra suas digitais em qualquer agência e depois pode fazer saque nos caixas eletrônicos usando apenas os dados de agência e da conta, validando a transação sem necessidade de cartão ou senha. “Além da segurança física, temos soluções de software que incrementam a segurança lógica dos terminais, como o uso da criptografia na comunicação entre os diversos periféricos desses equipamentos, evitando fraudes e ataques de controle externo”, diz Ruas.
Também para Ricardo Guerra, diretor de canais do Itaú Unibanco, o mobile banking é um canal cada vez mais relevante. “Acreditamos que ele vá ser o segundo canal com maior movimentação em alguns anos”, diz, explicando que o Itaú oferece aplicativos específicos para vários tipos de sistemas, que permitem realizar consultas, transferências, pagamentos, monitorar a posição consolidada de fundos e realizar aplicações e resgates.
Dos R$ 10,4 bilhões de investimentos programados pelo Itaú Unibanco no período 2012/2015, uma parcela de R$ 2,3 bilhões está reservada para a construção e ativação de um novo data center em Mogi Mirim (SP). Trata-se de um dos maiores centros tecnológicos do mundo, com capacidade para suportar a expansão das operações do banco nas próximas décadas. Outros R$ 2,7 bilhões vão para a renovação da infraestrutura e telecomunicações, além de R$ 800 milhões para aquisição de softwares.