Financial Times
Brooke Masters, de Londres
Desde a prisão de Bernard Madoff em 2008, o HSBC vem se destacando na lista de bancos que tinham ligações com o investidor que bolou um gigantesco esquema fraudulento de pirâmide (também conhecido como esquema Ponzi). Quando o escândalo veio à tona, o banco revelou que havia emprestado até US$ 1 bilhão a investidores que queriam aumentar suas exposições às operações de investimentos do financista de Nova York. Ele admitiu haver atuado como negociador, custodiante e administrador de um punhado de fundos alimentadores, que injetavam dinheiro no esquema.
A autoridade reguladora do mercado financeiro na Irlanda, onde muitos dos fundos estavam baseados, vem investigando a participação do HSBC há mais de um ano e vários processos movidos por investidores aguardam decisões na Irlanda e França.
Agora, o interventor encarregado de recuperar o dinheiro investido pelas vítimas de Madoff aumentou a pressão pública com um processo em que tenta conseguir US$ 6,6 bilhões do banco britânico. A petição de 165 páginas apresentada por Irving Picard destaca o papel central exercido pelo HSBC na enorme operação, alegando que 33% de todos os recursos encaminhados para Madoff passavam por subsidiárias do HSBC.
O processo, que deu entrada sexta-feira mas foi tornado público na segunda-feira, alega que o HSBC ignorou repetidamente alertas feitos não só por seu próprio staff, como também por auditores externos, a KPMG, de que Madoff representava um risco de fraude. “Se o HSBC e os demais réus tivessem reagido adequadamente a esses alertas e outros sinais de fraude delineados na petição, o esquema de pirâmide de Madoff teria entrado em colapso muito antes, poupando bilhões de dólares e incontáveis vítimas”, disse Picard.
A petição também afirma que o HSBC violou as práticas do setor para bancos custodiantes, ao delegar sua responsabilidade de salvaguardar os ativos dos clientes para o próprio Madoff.
O banco também teria falhado ao não detectar problemas óbvios nas demonstrações contábeis produzidas por Madoff, como datas de liquidação de negócios que caíam aos sábados, ou preços de transações que não se enquadravam na faixa média de preços divulgada diariamente.
A petição também alega que os fundos do HSBC receberam informações mostrando que os volumes que Madoff dizia ter negociado entre 2001 e 2008 eram milhares de vezes maiores que o número total de opções de compra e venda executadas na Chicago Board of Exchange. Madoff declarou-se culpado de fraude e está cumprindo uma sentença de 150 anos de prisão. Picard disse que não fez nenhum investimento, usando em vez disso o dinheiro de clientes novos para pagar retiradas.
As alegações contra o HSBC são parecidas com ações anteriores movidas por Picard contra uma série de fundos de hedge dos Estados Unidos que enviaram dinheiro para Madoff. Essas ações alegaram que os gestores de fundos possibilitaram as fraudes por Madoff, ao não agirem ante suspeitas de que os retornos eram bons demais.
A maioria dos gestores dos fundos está se defendendo das alegações, embora o Santander, patrocinador de um dos maiores fundos alimentadores, tenha concordado no ano passado em pagar uma multa de US$ 235 milhões para pôr um fim na alegação de Picard de que o banco retirou dinheiro do esquema pouco antes da prisão de Madoff.
Entretanto, o tamanho recorde da ação contra o HSBC e as alegações detalhadas contra o banco tornam esta mais nova ação excepcional. A equipe de Picard afirma que “o nível de percepção sobre a operação de Madoff era sem igual”. A petição afirma que os responsáveis pelas devidas diligências no HSBC alertaram anualmente para a decisão do banco de permitir que Madoff mantivesse controle sobre os ativos dos fundos entre 2003 e 2008, e alega que um executivo do private bank do HSBC na Suíça alertou em 2007 que “as coisas não acrescentam nada em termos da estrutura de compensação de Madoff”. O banco também usou a KPMG duas vezes para analisar a estrutura das operações de Madoff, em 2005 e 2008.
Nas duas ocasiões ele recebeu relatórios que destacavam potenciais perigos, incluindo um alerta específico de que permitir que Madoff cuidasse de todos os ativos dos fundos criava um risco de transações “falsas”. A KPMG não quis comentar o assunto. O interventor também alega que o HSBC não investigou quando, segundo relatos de investidores, Madoff alegou que estava colocando dinheiro no “Spartan US Treasury Money Market Fund” mesmo depois do fundo ter mudado de nome em 2005.
A ação cita documento do HSBC em que executivos do banco se referem à “mágica de Madoff”. Outros comentários e nomes de indivíduos do HSBC mencionados na petição foram desconsiderados pela corte a pedido do banco.
Grupos que representam os investidores de Madoff disseram que as alegações do interventor dão suporte a muitas de suas alegações sobre a culpa dos bancos custodiantes. O HSBC disse que está se defendendo vigorosamente contra ações relacionadas ao caso Madoff em várias jurisdições espalhadas pelo mundo, incluindo ações coletivas nos EUA. O banco disse acreditar que as alegações de irregularidades feitas pela justiça nos Estados Unidos são infundadas.