Valor Econômico
Maria Christina Carvalho, de São Paulo
“Como competir sendo um banco médio no mercado local e grande no mundo?” pergunta-se o novo presidente do HSBC Bank Brasil, Conrado Engel, que assumiu há uma semana. Ele mesmo responde: “A saída é explorar a capacidade de fazer negócios globalmente”. Com operações em 86 países, o HSBC é o banco mais internacional no Brasil e quer tirar proveito desse poder de fogo global, especialmente importante agora que outros estrangeiros estão enfraquecidos pela crise.
A estratégia se traduz, na prática, em investir na expansão do segmento de alta renda, atendido em agências especiais espalhadas pelo mundo todo, chamadas Premier, e no apoio às empresas que atuam no comércio exterior ou têm investimentos internacionais.
Os negócios com empresas vêm mostrando maior dinamismo neste ano. Nos doze meses terminados em março, a carteira de crédito para pessoas jurídicas cresceu 29% no HSBC e a previsão é de terminar o ano mantendo esse ritmo.
Um dos alvos do banco é estreitar o relacionamento com as 15 mil lojas cujas vendas são financiadas pela Losango. “Essas lojas importam muitos produtos da Ásia. Cada vez mais as empresas médias brasileiras estão se internacionalizando”, disse Engel.
A Losango também é campo de prospecção de clientes afluentes. A financeira, que foi comandada por Engel, tem 6 milhões de clientes dos quais 30% têm potencial para serem correntistas do HSBC. Para atraí-los, o banco oferece inicialmente cartão de crédito, alguns produtos como seguros e, então, a conta corrente.
Engel aposta que uma parcela desses clientes pode ir para o segmento Premier – principal alvo do banco -, que engloba os correntistas com renda mensal acima de R$ 4 mil e com R$ 50 milhões em investimento ou com renda mensal superior a R$ 8 mil.
Para essa clientela, o HSBC vai abrir 30 novas agências neste ano, com o investimento de R$ 70 milhões, e terminar o ano com 98 unidades do tipo. As agências Premier têm o mesmo padrão no mundo todo. Seu objetivo é atender o cliente de alta renda como se estivesse na sua agência local. “Esse cliente pode gerenciar sua conta a partir de qualquer país onde o HSBC opera”, disse Engel.
A carteira de crédito para pessoas físicas cresceu cerca de 7% nos doze meses terminados em março e a previsão do banco é fechar o ano com 15% de expansão nessas linhas.
O HSBC tem 900 agências no Brasil e 1 mil postos de atendimento. O banco teve lucro líquido de R$ 1,35 bilhão em 2008, o maior resultado desde o início das operações no país, em março de 1997, e 9% superior ao de 2007. Desse total, 65% vieram das operações com empresas e o restante do varejo. O retorno sobre o patrimônio líquido foi de 24,34%.
O ativo total aumentou 58% para R$ 112,1 bilhões. As operações de crédito tiveram papel preponderante no resultado recorde do ano passado.
O crédito cresceu 27% em 2008 para R$ 32,9 bilhões. Ao final de março estava em R$ 31,7 bilhões.
Com esses números, o HSBC tem 5% a 7% do mercado brasileiro. Para Engel, é um percentual que dá condições de competir.
O Brasil, a China, Índia, Rússia, África do Sul e Oriente Médio, acabam de ser definidos como os mercados que mais investimentos devem receber do HSBC por causa das perspectivas de crescimento no cenário pós-crise internacional, disse Engel. No início do mês, a cúpula do HSBC decidiu que esses mercados emergentes devem responder por 60% dos resultados do banco e não mais pelos 50% anteriores. Com a crise, a participação dos países desenvolvidos vai cair de 50% para 40%.
O HSBC tem operações nessas regiões emergentes e quer explorar o fluxo de mercadorias, investimentos e negócios entre elas, com ênfase especial na Ásia, a origem do banco, fundado há 144 anos em Hong Kong. O fluxo de exportações do Brasil para esses mercados somou US$ 197,9 bilhões no ano passado, mais de três vezes e meia o volume de 2007; e as importações atingiram US$ 173,2 bilhões, três vezes mais. O principal destaque é a China, que se tornou o maior parceiro comercial do Brasil em abril.
Doze anos depois de ter desembarcado no país com a compra do Bamerindus, o HSBC passou de 12 º para sexto maior banco brasileiro, com ativos totais de R$ 104,8 bilhões em março, atrás do Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal. Vários de seus maiores concorrentes públicos e privados turbinaram os músculos com recentes fusões.
O HSBC Bank Brasil, que no início da década absorveu as operações locais do CCF e do Lloyds Bank, inclusive a poderosa financeira Losango, agora tem uma estratégia de crescimento eminentemente orgânico, disse Engel, embora possa examinar alguma oportunidade irresistível.
Engel parece ser bem talhado para a tarefa de comandar o banco nesse período. Catarinense, 52 anos, formando em Engenharia pelo ITA, Engel começou a trabalhar no HSBC há seis anos, quando foi comprada a Losango, da qual era presidente. Ele acaba de voltar de Hong Kong, onde esteve nos últimos dois anos e meio, como responsável pela área de varejo do HSBC na Ásia e Oceania.
Em Hong Kong, Engel viveu de perto a condição global do HSBC, ao comandar o varejo de 19 países e territórios. Nessa região administrativa, o banco tem 4 milhões de clientes com grande mobilidade geográfica, 500 agências, 22 mil funcionários e US$ 140 bilhões em depósitos.
Engel pretende trazer para o Brasil as técnicas usadas em Hong Kong para tratar os investidores de um modo integral, respeitando seus fluxos de caixa.