O ato promovido pelos movimentos sindical e social na terça-feira (8), no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), em São Paulo, deixou claro que o Dia Internacional da Mulher não é uma data festiva, mas de luta contra a desigualdade social entre os gêneros e pelo avanço rumo a igualdade de oportunidades. Milhares de pessoas com bandeiras e camisetas na cor lilás partiram da Avenida Paulista e desceram a Rua Augusta, rumo à Praça da República, gritando palavras de ordem e reivindicações. A pauta feminista dividiu espaço com manifestações contra o ajuste fiscal, a reforma de Previdência e a Lei Antiterror.
“A marcha foi para enaltecer a luta das mulheres pela igualdade de oportunidades e com um desafio ainda maior, que é o de se organizar, de resistir e o de não permitir retrocessos nos projetos que estão sendo pautados em no congresso conservador e no cenário político que fere a democracia brasileira e os avanços já conquistados”, ressaltou Elaine Cutis, secretária da Mulher da Contraf-CUT.
Segundo a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, as mulheres trabalhadores têm que estar atentas e em constante vigília, pois se a ordem democrática for quebrada, como pretendem setores do judiciário e da mídia, as atuais conquistas estarão sob sério risco. “A democracia está em jogo no país, querem tomar o poder de qualquer jeito e um golpe está em curso”, completou.
A frase mais ouvida entre os presentes foi "não vai ter golpe”. “Estamos nas ruas por autonomia, por liberdade, por democracia, mas, ao mesmo tempo, falando de questões que estão na conjuntura, como o ajuste fiscal e a reforma da Previdência. Estamos trabalhando com força o tema da legalização do aborto e, claro, o tema da violência”, disse a coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres, Nalu Faria.
Entre as principais bandeiras, a defesa da democracia, descriminalização e legalização do aborto, ratificação das convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho) 189, destinada a melhorar as condições de vida de pessoas empregadas no trabalho doméstico, e 156, sobre a igualdade de oportunidades e de tratamento para trabalhadores e trabalhadoras com responsabilidades familiares, além do fim da violência.
Preconceito também está no mercado de trabalho
No mercado de trabalho, a desigualdade não é diferente. Segundo um estudo recente da OIT, seriam necessários 70 anos para que essa diferença salarial entre os gêneros fosse eliminada. Um tempo de espera muito grande, segundo a presidente do UNI Finanças Mundial, Rita Berlofa. “Queremos essa igualdade já! Somos metade da população mundial, em alguns setores financeiros somos a maioria e nada justifica um salário diferenciado”, cobrou a dirigente.
Rita disse ainda que é preciso aumentar a representatividade feminina nos espaços de poder, inclusive nos sindicatos. “Contamos com o apoio de todos os companheiros para isso, porque a responsabilidade não é apenas do gênero feminino, mas de toda a sociedade”, acrescentou.
“Apesar de recebermos flores e parabéns, hoje é um dia de resistência, um dia de reflexão sobre tudo o que já foi conquistado e o quanto falta para avançar. Por exemplo, as mulheres recebem, em média, 30% menos que os homens em cargos semelhantes. Entre as bancárias, essa diferença é de 22%”, lembrou a secretária de Formação do Sindicato dos bancários de São Paulo, Neiva Maria Ribeiro.
A saída do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que enfrenta processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. As ativistas protestaram ainda contra a onda de pautas conservadoras que tramitaram nos últimos meses pelo Congresso Nacional. “Mesmo com todas as dificuldades colocadas para nós, que somos mulheres, pretas, lésbicas, bissexuais ou transexuais, hoje sofremos uma ameaça que compromete o próprio direito de continuar vindo para as ruas com as nossas legítimas manifestações. Refiro-me à Lei Antiterrorismo, que vai criminalizar os movimentos sociais e organizações políticas de luta”, disse Larissa Ana, do coletivo Ana Montenegro.
Minutos antes de os manifestantes saírem em passeata, uma mulher subiu no carro de som e pediu, ao microfone, a saída da presidenta Dilma Rousseff. Ela foi vaiada pelos presentes, que passaram a gritar “não vai ter golpe”. Ocorreu um princípio de tumulto, e a manifestação voltou a seu curso normal quando a mulher deixou o local.
Manifestações ocorreram em outras regiões do país, como parte de uma agenda de atividades programadas para todo o mês pela Frente Brasil Popular. O clima de tensão política no país se agravou, depois da ação da Lava Jato contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última sexta. A operação da Polícia Federal, fartamente explorada pela imprensa comercial, serviu de combustível para as manifestações marcadas para domingo, contra Dilma e Lula. Os movimentos contrários ao impeachment, mesmo com críticas à condução da política econômica, prometem reação.
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, disse temer conflitos entre manifestantes pró e anti-impeachment. Não há manifestações da Frente Brasil Popular programadas para o dia 13. A organização o prevê novos atos em defesa da democracia nossa dias 18 e 31 deste mês.