Valor Econômico
Alex Ribeiro, de Brasília
23/10/2008
A medida provisória (MP) editada ontem pelo governo tem dois efeitos favoráveis imediatos para o Banco do Brasil (BB). De um lado, deverá facilitar a compra da Nossa Caixa e do Banco de Brasília (BRB), ainda em fase de negociação. De outro, ajuda na reorganização das empresas do segmento de seguros, em especial da Aliança do Brasil.
Davilym Dourado / Valor
Lima Neto, presidente do BB: “Uma postura ativa na compra de bancos, mas sempre como uma atitude empresarial”
Também permite que o banco público atue em pé de igualdade com seus concorrentes privados caso a crise financeira leve a um movimento de consolidação bancária no Brasil, a exemplo do que ocorre no exterior. Segundo o BB, não está descartada a caça de bancos que podem ser comprados.
“Podemos sim ter uma postura ativa na compra de bancos, mas sempre como uma atitude empresarial”, disse o presidente do BB, Antonio Francisco de Lima Neto.
O vice-presidente de finanças do BB, Aldo Mendes, afirma que a MP resolve uma das questões que impedem um desfecho mais rápido das negociações para a compra da Nossa Caixa. O governo de São Paulo, que controla a instituição, tem deixado claro que quer dinheiro vivo, para reforçar o caixa.
Como o BB estava impedido de comprar instituições financeiras com dinheiro, a solução que vinha sendo montada era uma troca de ações. A transação seria amarrada com uma série de operações financeiras envolvendo derivativos que garantiriam a venda das ações pelo Estado no futuro a um preço fixo, mesmo que o mercado caísse.
A crise internacional, porém, eliminou o espaço que havia no mercado para esse tipo de operação. A MP resolve o problema porque permite ao BB pagar em dinheiro pela Nossa Caixa.
Mendes disse que a MP, em tese, aumenta o valor da Nossa Caixa porque o BB poderá usar créditos tributários do banco paulista, o que seria vedado no caso de incorporação. No caso do BRB, disse, a operação está apenas nas avaliações preliminares.
Outro problema que a MP resolve é a reestruturação do segmento de seguridade. Em meados deste ano, o BB comprou as ações da Aliança da Bahia, que detinha a maior parte do capital votante da Aliança do Brasil, a empresa de seguro de vida. Mas a legislação proibia, até a edição da MP, a existência de seguradoras controladas por bancos públicos. O banco tinha 12 meses para achar um novo sócio privado. “Ainda não decidimos se vamos ter um sócio privado”, afirmou Mendes. “De qualquer forma, estamos numa situação mais favorável numa eventual negociação com parceiros privados, porque agora podemos tocar a seguradora sozinhos.”
Ontem pela manhã, quando a MP foi anunciada, analistas econômicos expressaram receios do uso de bancos públicos para um eventual resgate do sistema financeiro, como ocorreu até a década de 1980. “Não tem a menor chance de isso acontecer”, disse Lima Neto, lembrando que as regras de supervisão bancária estão mais rígidas.
O presidente do BB disse que, no momento, não tem nenhum negócio em vista. Para ele, a MP é apenas um instrumento preventivo, similar a outras medidas recentes, como a injeção de liquidez no mercado e a criação de uma nova linha de redesconto. “É fato que existe uma onda de fusões e aquisições no sistema financeiro mundial e essa onda pode chegar aqui.”
As operações, neste momento, disse Mendes, limitam-se à compra de carteira de crédito de bancos pequenos e médios. Segundo ele, o BB já fechou R$ 3 bilhões em operações, dos quais 80% são compras de carteira. O resto são são empréstimos em que as garantias equivalem a 200% ou mais dos valores liberados. O BB dá como certo usar em breve a totalidade dos R$ 6 bilhões liberados dos depósitos compulsórios para comprar carteiras de crédito.