Valor Econômico
Fernando Travaglini, de São Paulo
Os bancos voltaram a competir por clientes no mercado de crédito para pessoas físicas. Com taxas menores e prazos mais longos, as instituições tentam recuperar terreno nesse segmento depois de um primeiro semestre bastante fraco. Mas nem todos estão com o mesmo apetite nos diferentes nichos de mercado. As estratégias dependem da faixa de risco, seja por conta da garantia, seja pela abordagem para classes de renda mais alta.
No crédito pessoal, por exemplo, os bancos públicos e estrangeiros se mostram mais dispostos a competir, com reduções mais agressivas dos juros. Até mesmo a publicidade pelo correio com taxas promocionais estão de volta. O Citibank, por exemplo, oferece empréstimo com juro mensal abaixo de 3% aos melhores clientes.
Em visita ao Brasil no mês passado, o presidente mundial do Citi, Vikram Pandit, afirmou que um dos objetivos no Brasil é crescer no segmento de consumo. Para isso, o banco realizou a unificação de todas as operações de serviços financeiros para o varejo na Credicard Financiamentos, transformando a empresa em uma “máquina” de fazer financiamentos, segundo palavras do presidente da instituição no Brasil, Gustavo Marin.
Outro estrangeiro, o Santander, também é um dos que mais reduziram as taxas do crédito pessoal. O nível médio caiu de 4,59% ao mês, para 3,71%. “Passado um pouco o impacto dos efeitos da crise, as pessoas entram de novo numa rotina de consumo. Estamos notando sinais positivos”, disse José Paiva Ferreira, vice-presidente sênior do Grupo Santander Brasil.
O executivo acredita, portanto, em melhora na segunda metade do ano, independentemente da sazonalidade intrínseca desse período, que garante economia mais aquecida. “Quando olhávamos o cenário no inicio do ano, já achávamos que haveria um viés de retomada no segundo semestre”, completou Ferreira.
Os estatais, por sua vez, seguem cortando os juros. Entre os grandes, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil são os de menores taxas no crédito pessoal, com 2,27% e 2,49% ao mês, respectivamente. Um pouco acima aparecem Itaú Unibanco (4,51%), HSBC (4,81%) e Bradesco (5,15%), de acordo com os níveis médios divulgados pelo site do Banco Central, referentes à segunda quinzena de junho.
Já os maiores privados parecem concentrar energias nos segmentos com maior garantia, como o financiamento de veículos e o crédito imobiliário. No nicho de automóveis, o Bradesco, por meio da Finasa, reduziu as taxas de 2,42% ao mês, no fim de janeiro, para 2% ao mês agora em junho, além de ter retomado os limites máximos de 84 meses. Itaú Unibanco e Santander também adotaram prazos mais longos e taxas mais baixas (1,97% e 1,78% ao mês, respectivamente).
“Viemos de um cenário muito negativo no quarto trimestre de 2008. Houve uma melhora no primeiro trimestre, mas ainda com PIB negativo. Agora está um pouco melhor, mas ainda não apareceu demanda por crédito. Achamos que no terceiro e quarto trimestres teremos melhora significativa, mas 2009 é um ano de transição”, avalia Silvio de Carvalho, diretor financeiro do Itaú Unibanco.
Segundo ele, a pessoa física ainda terá um crescimento baixo de crédito, com taxa de expansão entre 10% e 15% no segundo semestre. “O quarto trimestre será mais ativo, com economia mais forte, mas a base de comparação, o quarto trimestre do ano passado, é pequena”, completa, ressaltando que a linha que mais cresce é a de compra da casa própria.
Com diferentes estratégias e focos variados, este segmento é de fato a aposta dos bancos até o fim do ano. As instituições acreditam que os riscos estão mais claros no setor de consumo do que entre as pequenas e médias empresas.
A aceleração na queda dos juros indica essa tendência. Enquanto a Selic foi reduzida em 4,5 pontos percentuais desde janeiro, para 9,25% ao ano, as instituições financeiras já retiraram 11 pontos do juro bancário, em média, desde novembro, para 47,3% ao ano. O nível já é inferior aos patamares mínimos de 2008 e caminha para um dos menores da história recente.
Essa trajetória é distinta do que é visto nos empréstimos para empresa, onde o spread médio – diferença entre o custo do dinheiro para o banco e o quanto ele cobra efetivamente do clientes – já subiu quatro pontos percentuais desde o agravamento da crise no último trimestre de 2008.
Os prazos também apontam essa diferença. Enquanto as linhas para pessoas físicas já retornaram ao patamar pré-crise, com média de 495 dias, as concessões para empresas perderam, em média, 40 dias, caindo para 270 dias.
Apesar da melhora, um dos entraves continua sendo a inadimplência, que ainda apresenta elevação. A estabilidade, de acordo com o diretor do Itaú, só deve aparecer no fim do terceiro trimestre. Para Ferreira, do Santander, a inadimplência pode parar de crescer, mas não deve recuar tão cedo.