O Estado de São Paulo
Adriana Fernandes, Fernando Nakagawa
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, cobrou ontem, 24 de março, explicações dos presidentes do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, e da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Coelho, sobre reportagem do “Estado” publicada no último domingo que mostra aumento na taxa de juros média praticada pelos dois bancos públicos, de acordo com dados do Banco Central.
A reportagem mostrou que os bancos públicos lideram a alta dos juros em comparação aos bancos privados. Após encontro com o ministro, os dois dirigentes convocaram uma entrevista coletiva para declarar que as duas instituições financeiras não aumentaram as taxas mínimas e máximas de juros para os seus clientes.
Demonstrando desconforto, criticaram a metodologia usada pelo BC para fazer o ranking, o qual, segundo eles, acabou produzindo um dado “enviesado”.
Os dois executivos argumentam que a elevação da taxa média se deve ao fato de BB e Caixa terem aumentado sua carteira de crédito com clientes novos que têm avaliação de risco maior.
“Não houve mudança alguma nas taxas de juros por parte dos dois bancos”, afirmou Bendine. Segundo ele, é natural que, nesses casos, acabe ocorrendo, na média, uma elevação dos juros. Os dois executivos disseram que já pediram ao BC que mude a metodologia, que segundo eles é criticada também pelos bancos privados.
Segundo uma fonte do BC, não foi feito nenhum questionamento ou pedido recente para mudança da metodologia da pesquisa. No ano passado o Banco Central foi questionado e chegou a mudar a metodologia. Quando os bancos públicos apareciam na frente, eles cobraram alteração na metodologia. Depois, quando os bancos privados apareceram em situação pior, a Febraban reclamou.
A presidente da Caixa sugeriu que o ranking inclua as taxas mínimas e máximas cobradas pelos bancos, e não a média. Bendine enfatizou que não há mudança na estratégia do governo de manter baixas as taxas de juros dos bancos públicos.
Apesar da afirmação, Bendine admitiu que o Banco do Brasil poderá ter de ajustar os juros se houver eventual subida da taxa básica de juros, a Selic. Para a quase totalidade do mercado, a taxa sobe em abril.
Consignado
O presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, disse que ficou surpreso com a decisão dos bancos privados de entrar com ações na Justiça questionando a exclusividade que o BB tem obtido na concessão de crédito consignado em segmentos do mercado (folha de pagamento de funcionários de Estados e Prefeituras).
Na defesa do Banco do Brasil, Bendine afirmou que o mercado é livre, tem concorrência, e o banco está tendo sucesso por ser mais eficiente, “Todas as instituições que operam crédito consignado têm exclusividade. Se o BB está conseguindo angariar mais contratos de exclusividade, é porque está com melhor estratégia”, avaliou.
Segundo ele, o banco estatal tem custo de operação mais atraente, por isso consegue ganhar participação no mercado.
O dirigente do BB ressaltou que o banco não está ferindo a lei ao manter contratos de exclusividade. “Não há nenhum comportamento irregular da instituição em operar contratos de exclusividade. Isso não é uma prerrogativa do BB”, disse. Segundo ele, o mercado de crédito consignado trabalha sob as regras da livre negociação entre as partes.
Bendine informou que o BB não planeja nenhum tipo de reação na Justiça em relação às ações que questionam o tema. “A defesa do banco é o cumprimento da lei. Não estamos ferindo a lei em nada. É concorrencial. É praticado pelos bancos há tempos”, disse. As ações têm sido abertas principalmente pela Associação Brasileira de Bancos, que representa as instituições de pequeno e médio portes.
Reportagem publicada ontem pelo Estado informou que existem 11 ações na Justiça questionando a exclusividade que o BB conseguiu para operar o crédito consignado em lugares como a cidade de São Paulo e o Estado da Paraíba. Os bancos concorrentes reclamam que o BB acaba com a competição. Dos 11 processos, 8 foram abertos por instituições financeiras privadas ou por entidades do setor.