Financial Times
Miles Johnson
Os espanhóis que passaram diante de agências locais da CatalunyaCaixa, um pequeno banco de poupança, se depararam com uma proposta intrigante: deposite suas economias à taxa de 2,9% ao ano e receba um retorno extra toda vez que Marc Márquez, campeão espanhol do Grande Prêmio de Motociclismo, ganhar uma corrida.
Aqueles dispostos a apostar nas chances de Márquez na atual temporada poderão ganhara até 4,53% em juros quando os clientes de outros países da Europa estão recebendo um quarto disso.
O chamado “depósito Marc Márquez” é a maior invenção na corrida dos bancos da Espanha para captar poupanças para criar a base de financiamento para garantir empréstimos concedidos durante a bolha imobiliária que durou uma década e agora esvaziou.
Chamadas de “a guerra dos depósitos” desde seu início no ano passado, aos clientes espanhóis estão sendo oferecidas agora taxas de juros para contas de 12 meses de até 5,5%, níveis que estão sempre acima dos retornos que os bancos podem obter emprestando o dinheiro de volta.
As preocupações com a dívida soberana da Espanha e as dúvidas em relação a qualidade dos empréstimos bancários significam que os bancos espanhóis estão pagando significativamente mais para tomar emprestado nos mercados de capitais, que muitos outros bancos europeus.
Para os bônus cobertos, dívida normalmente tida como relativamente segura, muitos estão pagando cerca de 200 pontos-base, ou 2 pontos percentuais, acima do nível referencial pelo qual os bancos europeus emprestam uns aos outros.
Matteo Ramenghi, analista do UBS, diz: “A proporção dos empréstimos dos bancos espanhóis financiados com depósitos ainda está abaixo do nível que consideramos desejável. O principal motivo para a guerra dos depósitos é que os bancos espanhóis estão tentando reduzir sua dependência dos mercados financiadores atacadistas”.
No ano passado, os empréstimos do BBVA corresponderam a 217% dos depósitos em seus negócios na península ibérica, enquanto a relação de empréstimos sobre depósitos para os negócios do Banco Santander na Europa continental foi de 163%, segundo o banco de investimentos Espírito Santo.
O uso dos depósitos para tomar empréstimos a esses níveis, embora não esteja sendo capaz de repassar totalmente os custos para os clientes espertos, está afetando as margens de lucro em negócios como os financiamentos imobiliários.
Dados do Banco da Espanha mostram que o volume total de juros pagos aos poupadores individuais e companhia pelas instituições financeiras espanholas em 2010 foi de 25,7 bilhões de euros (US$ 37,3 bilhões), mais de 20% maior que em 2006, enquanto os juros recebidos aumentaram apenas 1,3% no mesmo período.
A corretora Evolution Securities acredita que as receitas das divisões domésticas dos bancos espanhóis cairão 10% este ano, com alguns bancos conseguindo compensar isso em parte com venda de seguros e produtos de cartão de crédito para clientes de depósitos.
Embora algumas instituições, como o Bankinter, tenham recentemente divulgado um esfriamento na batalha por depósitos, outras esperam uma escalada, na medida em que os negócios interessantes do ano passado começarem a expirar, o que significa que os bancos correm o risco de perder depósitos obtidos a duras penas, se os poupadores encontrarem ofertas melhores em outros lugares.
Alguns dos bancos de poupança de capital fechado, como o CatalunyaCaixa e o Novacaixagalicia, que estão oferecendo 3,76% ao ano, são aqueles que receberam ajuda do governo, fato que é particularmente irritante para seus concorrentes. Um banco de capital aberto afirma: “É uma guerra, mas não estamos competindo com as mesmas armas que essas cajas”.
A preocupação de que os bancos mais fracos estejam ficando cada vez mais dependentes de um modelo de negócios suicida levou recentemente o Ministério das Finanças espanhol a elaborar uma legislação contra as taxas de depósito excessivamente altas.
Segundo esse plano, que deverá ser ratificado pelo governo no terceiro trimestre, qualquer banco que pagar mais de 100 pontos-base em juro anual médio sobre a euribor, a taxa de empréstimo interbancária da zona do euro, será forçado a separar capital extra para se beneficiar do fundo de garantia de depósitos da Espanha.
Isso poderá ser suficiente para impedir os bancos de oferecer taxas muito altas, mas banqueiros e analistas afirmam que na prática será difícil impedi-los de compensar seus clientes de outras maneiras, mesmo que isso envolva o atrelamento dos retornos dos depósitos ao sucesso de seu time de futebol favorito ou um campeão de motociclismo.
Um analista diz: “Será difícil parar com isso. Já estamos começando a ver bancos oferecendo televisores de tela plana e iPads, e as autoridades reguladoras pouca coisa podem fazer a esse respeito”.