O Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro promoveu nesta sexta-feira (13), no centro da capital fluminense, um ato público para protestar contra o racismo nos bancos. A manifestação marca os 123 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, ocorrida em 13 de maio de 1888.
Além de levar cartazes e faixas contra a discriminação, o grupo distribuiu panfletos, destacando que o problema ainda não foi superado e que muitos negros encontram resistência em diversos meios sociais e profissionais.
De acordo com o presidente do Sindicato, Almir Aguiar, o objetivo do movimento, programado para ocorrer também em outros estados, é denunciar que, apesar dos avanços conquistados pelos trabalhadores desde a abolição, persistem o preconceito e a discriminação racial.
Ele destacou que os dados do Mapa da Diversidade, levantamento desenvolvido pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) em 2009, confirmam o que a categoria – que conta com 450 mil profissionais em todo o país – percebe no dia a dia.
“A população negra representa cerca de 36% da população economicamente ativa no Brasil. No setor bancário, essa discrepância é ainda maior: eles são apenas 19% do total. Além disso, somente 4,8% dos bancários que ocupam cargo de chefia são negros. Com isso, a gente percebe que a cor é um obstáculo para a contratação e a ascensão profissional nos bancos”, afirmou.
O economista Marcelo Paixão, coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destacou que esse cenário não se limita ao setor bancário, mas se estende a outros segmentos produtivos.
“O que acontece no setor bancário é que, em geral, os empregos são proporcionalmente mais bem prestigiados socialmente. Então, a presença negra lá acaba sendo inferior porque isso é o que ocorre na sociedade como um todo. Há maior probabilidade de uma pessoa negra trabalhar em funções menos prestigiadas ou com remunerações menores”, ponderou.
Segundo Paixão, a situação descrita é produto de um modelo de relações raciais que desvaloriza pessoas com formas físicas diferentes do que se vê na classe dominante, como pele escura e traços físicos típicos da população negra.
Ele ressaltou que uma das ações para vencer esse obstáculo é a promoção de políticas de ação afirmativa no mercado de trabalho. Paixão acredita que, dessa forma, as categorias profissionais podem corresponder de forma mais equilibrada ao nível de diversidade do povo brasileiro.
“Hoje, 50,7% dos brasileiros se declaram pretos ou pardos. Esse seria o ideal, no mínimo, para a [representação dos negros e pardos na] categoria bancária e para outras categorias também”, concluiu.