Valor Econômico
Paulo de Tarso Lyra, de Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, José Serra, reúnem-se na tarde de hoje no Planalto. O encontro, pedido pelo governador, tratará, entre outros assuntos, da compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, numa negociação que vem se desenvolvendo há meses e cujo preço da Nossa Caixa está sendo calculado em cerca de R$ 7 bilhões. Ontem, após almoço no Itamaraty, Lula disse que o governo está interessado em devolver ao BB o posto de maior banco do país. “O Banco do Brasil era o principal banco do Brasil. Com a fusão do Itaú e do Unibanco, o Banco do Brasil passou a ser o segundo banco e nós queremos que o Banco do Brasil seja muito maior do que qualquer outro banco no Brasil”, enfatizou.
Lula reconheceu que existem interesse de todas as partes para que o negócio se concretize. “Nós vamos fazer uma avaliação se é importante, se não é importante, o que ganha, o que perde com isso. Não tenho uma avaliação ainda porque eu tenho que ouvir primeiro o ministro Guido Mantega, depois eu tenho que ouvir o presidente do Banco do Brasil, depois eu quero ouvir também os interesses do governador José Serra. Aí eu formarei uma opinião e tomarei a decisão”, afirmou o presidente. A assinatura do ato de compra e venda, porém, não deverá ocorrer no encontro de hoje, até porque ele cabe aos presidentes das duas instituições, que não estarão presentes. Para Serra, será uma forma de levantar recursos com a venda da instituição sem privatizá-la.
Lula reuniu-se ontem por quatro horas com os presidentes dos bancos públicos – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES – além do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Mais uma vez, Lula cobrou eficiência das medidas anunciadas pelo governo para evitar o empoçamento do crédito nas instituições bancárias. Para o presidente, existe dinheiro, mas as pessoas estão com medo. Esse temor está preocupando o presidente. “O que pode gerar uma crise na economia real? Na medida em que a gente fala todo dia de crise, o que vai acontecendo? As pessoas que estão trabalhando vão ficando com medo de perder o emprego. Por conta do medo de perder o emprego, as pessoas não fazem compras, não fazendo compras, o que pode acontecer? O desemprego de que elas tanto têm medo”, disse Lula.
Mesmo mantendo o discurso otimista, conclamando as pessoas a não temer ir às compras nesse final de ano, Lula fez uma distinção clara entre aqueles que podem e aqueles que não podem extravasar seus desejos consumistas. “Quem está endividado tem que pagar as dívidas e não fazer novas despesas, mas quem não está endividado pode comprar normalmente e aproveitar as oportunidades”, justificou o presidente.
Para Lula, esse é o momento ideal para aqueles que buscam boas oportunidades de negócio. “Essa é a hora de as pessoas aprenderem a comprar o carro mais barato, a comprar televisão mais barata. Ou seja, sempre com o cuidado de que nenhum ser humano pode gastar mais do que aquilo que ele ganha”, ensinou.
Lula também voltou a atacar os países ricos e os especuladores e se disse animado após a reunião do G-20 do último final de semana. Para o presidente, é inconcebível o modelo econômico atual, no qual “pessoas ficam ricas sem produzirem um botão. Porque cada centavo criado no mundo tem que gerar um produto, e esse produto gera um emprego, que gera uma renda, que gera melhoria”, afirmou o presidente.