Estadão: BB eleva spread em mais de 500%

O Estado de São Paulo
Fernando Nakagawa, BRASÍLIA

O Banco do Brasil é líder na concessão de empréstimos nas duas linhas em que houve maior aumento, neste ano, dos chamados spreads bancários – a diferença entre custo de captação de recursos e taxa cobrada dos clientes. Desde o início do ano, a alta foi generalizada entre as várias operações, mas dados do Banco Central mostram que duas linhas lideraram com folga: a dos repasses de dólar captados no exterior e a dos financiamentos para o comércio exterior.

No decorrer de 2008, a margem cobrada nos empréstimos que usam dinheiro captado no exterior, o chamado repasse externo, saltou 502%, chegando a 9,4 pontos em outubro. Os dados se referem à média praticada em todos os bancos. Geralmente, essa operação é usada por empresas que têm dívidas no exterior ou compromissos que seguem a variação do dólar.

Já no Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), a margem dos bancos cresceu 268%, para 7,4 pontos. Esse é o principal instrumento para financiar exportadores. Apesar de o spread cobrado nessas operações não ser tão alto como em outras linhas, foram elas que apresentaram o maior crescimento proporcional no período.

Para efeito de comparação: na média, a margem cobrada em todos os empréstimos aumentou 26,8% no ano e atingiu 28,3 pontos em outubro. Até mesmo no famigerado cheque especial, a alta não foi tão grande assim. No ano, crescimento foi de 23,6%, para 157,8 pontos.

Nas duas linhas em que o spread mais subiu, o BB tem forte participação de mercado. Em relatório aos investidores, a instituição diz, por exemplo, que é líder isolada no crédito para exportação e também nas operações para importação. Procurado, o banco informou que não comenta a formação dos juros e que, por isso, não poderia dar mais informações.

Analistas explicam que o medo do calote é o principal motivo da disparada dos spreads. “Isso mostra o temor generalizado de inadimplência”, diz o professor de economia da USP, Fábio Kanczuk. Ele explica que, no início do ano, o risco poderia estar relacionado à queda dos preços das commodities e à expectativa de desaceleração das economias desenvolvidas, o que diminui a demanda global.

André Luiz Sacconato, professor da Fundação Getúlio Vargas e analista da Tendências Consultoria, completa ao afirmar que a volatilidade cambial vista nos últimos meses agravou ainda mais o quadro ao aumentar a chance de que dívidas em dólar passem a ficar “impagáveis” em reais.

Além disso, a oferta de recursos no exterior diminuiu drasticamente, o que torna as operações muito mais caras.

Para ele, só a oferta de mais dólares no mercado brasileiro vai derrubar o spread nessas linhas de crédito. Uma iniciativa nesse sentido foi dada ontem com o anúncio feito pelo governo que vai ofertar até US$ 20 bilhões para empresas com dívida no exterior.

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