Bloomberg
James G. Neuger
Os governos europeus estão avaliando uma ajuda a Portugal, recompras de dívidas, taxas de juros mais baixas para empréstimos emergenciais e garantias contra o endividamento excessivo, tudo como parte de um pacote para combater a crise financeira, segundo quatro pessoas com conhecimento direto das negociações.
O plano, que poderá incluir um empréstimo de cerca de ? 60 bilhões (US$ 78 bilhões) para Portugal e recompras de dívida grega no mercado, assinalaria uma tentativa de conter uma crise que tem frustrado os esforços sem precedentes das autoridades econômicas para acalmar os mercados e levantou dúvidas sobre a saúde da economia do euro, cuja região é formada por 17 países.
Ministros das Finanças da zona euro vão discutir os componentes do pacote na próxima semana, mas o debate é tão crítico, na Alemanha, que as decisões poderão ter de esperar até a realização de uma reunião de cúpula dos líderes políticos programada para 4 de fevereiro, segundo as fontes que não quiseram ser identificadas porque as deliberações são reservadas.
“Precisamos rever todas as opções referentes ao tamanho e aos limites de cobertura de nossa ajuda financeira de última instância”, afirmou Olli Rehn, comissário para Questões Econômicas e Monetárias na União Europeia, em uma conferência ontem em Bruxelas. Não passar a limpo a desordem fiscal colocaria a Europa “à mercê das forças do mercado”, disse.
O custo da cobertura de seguros para a dívida soberana europeia subiu até um recorde, depois que a crise que no ano passado motivou uma ajuda de ? 178 bilhões da UE e do Fundo Monetário Internacional à Grécia e à Irlanda ameaçou envolver Portugal como sua próxima vítima.
O euro, que caiu aproximadamente 10% em relação ao dólar no ano passado, voltou a subir depois do crescimento das expectativas de uma intensificação dos esforços de socorro e após Portugal ter realizado com sucesso um leilão de títulos. A moeda subiu 0,5%, para US$ 1,3037.
“Faremos o que for necessário e tudo será discutido passo a passo”, afirmou ontem a chanceler alemã, Angela Merkel, a jornalistas em Berlim. “A Alemanha fará tudo o que for necessário para que o euro se mantenha estável”.
Durante meses, o Banco Central Europeu (BCE) tem suportado o fardo do combate à crise, flexibilizando sua missão original, ao comprar ? 74 bilhões em títulos dos países em dificuldades, enquanto as lideranças políticas discordavam sobre os recursos de ajuda.
O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, defendeu a criação de uma blindagem mais resistente a contágios, tendo dito a um grupo de parlamentares alemães em 7 de janeiro que a responsabilidade na “política monetária não pode substituir irresponsabilidade do governamental. A Europa não se pode dar ao luxo de descansar a meio caminho, precisamos ser mais ambiciosos”.
Portugal captou ontem ? 599 milhões com a venda de títulos de 10 anos com um rendimento médio de 6,72%, contra um rendimento de 6,81% numa venda em 10 de novembro.
A redução dos custos do país de tomada de empréstimos instalou uma trégua nas especulações de que Portugal seria em breve forçado a aceitar um pacote de ajuda.
Portugal descartou sugestões de que terá de recorrer à ajuda da UE, ressaltando que o déficit no ano passado foi inferior à meta de 7,3% do PIB. O primeiro-ministro José Sócrates qualificou ontem a venda de títulos como “um sucesso sob qualquer ponto de vista” e disse que Portugal não precisa de um amortecedor financeiro.