Valor Econômico
Maria Christina Carvalho, de São Paulo
A sequência de três grandes fusões ocorridas no segundo semestre de 2008 aumentou em mais de 50% a concentração dos ativos bancários no Brasil. Novas consolidações são previstas como resposta dos bancos que perderam espaço, como o Bradesco.
“O processo de consolidação veio para ficar. Não vai parar”, afirmou o gerente de análise da Serasa, Márcio Torres.
A própria crise financeira deverá acentuar a concentração na medida que houve uma fuga dos depósitos para os maiores bancos e as instituições públicas estão com as torneiras do crédito abertas, até sob pressão do governo.
No fim de 2007, os cinco maiores bancos brasileiros – Banco do Brasil (BB), Itaú, Bradesco, Real e Caixa Econômica Federal – concentravam 52,32% dos ativos bancários, o equivalente a R$ 1,3 trilhão, de acordo com dados do Banco Central (BC).
De lá para cá, o Banco do Brasil comprou a Nossa Caixa; o Itaú se fundiu ao Unibanco; e o Santander adquiriu o Real. Com isso, esses bancos mais o Bradesco e a Caixa, que continuam nesse primeiro pelotão, passaram a concentrar 65,72% dos ativos bancários, o equivalente a R$ 2,04 trilhões, de acordo com os dados dos balanços de setembro divulgados pelo BC. Entre os dois períodos, o volume de ativos concentrado nos cinco maiores cresceu 53,85%.
Os analistas acreditam que os movimentos dos principais bancos vão desencadear novas consolidação. Em relatório sobre as instituições financeiras divulgado pouco antes do Natal, os analistas do Banco Fator, Lika Takahashi e Fernando Salazar, afirmam que “os próximos três anos serão de concorrência bastante acirrada no setor financeiro, principalmente entre os maiores bancos, portanto. Ainda existe espaço para consolidação do sistema financeiro”. Os dois analistas acreditam que a movimento “continuará a ser liderado pelos grandes consolidadores do mercado, que deverão buscar potenciais sinergias e ganhos de escala para atuarem em um elevado nível de concorrência”.
Depois que o Itaú e Unibanco, BB e Nossa Caixa e Santander e Real lançaram seus movimentos, Lika e Salazar apostam que o Bradesco poderá aproveitar o fato de que esses gigantes estarão concentradores em seus respectivos processos de integração e “expandir organicamente suas operações ou realizar pequenas aquisições para ganhar participação de mercado”.
Mas, não dá mais para confiar inteiramente nisso. Quando perguntado se o Santander não levaria pelo menos um ano absorvendo o Real, que pertencia ao ABN AMRO, como estimavam os analistas, o presidente do grupo Santander Brasil, Fábio Barbosa, respondeu: “Quem dera. Não dá mais para esperar tudo isso”. Em apenas cinco meses, a partir da aprovação da compra do ABN AMRO pelo banco central holandês, o Santander já integrou o Real nos aspectos de direção e gestão. Falta só unificar os sistemas de tecnologia da informação, o que vai ocorrer em 2010, quando então será possível integrar a rede de 3,5 mil pontos de venda, a base de 8,5 milhões de clientes, a prateleira de produtos e a marca, que será Santander.
Além das fusões, a própria crise tende a acentuar a concentração. Os depositantes preferiram transferir seus depósitos para os grandes bancos brasileiros, transferindo recursos que estavam aplicados em instituições médias e pequenas. Os principais beneficiados foram os bancos públicos, que puderem manter as torneiras do crédito abertas até sob orientação do governo.
Os bancos públicos aumentaram a fatia nas operações de crédito. Enquanto o total de operações de crédito aumentou 8,9%, entre os R$ 1,110 trilhão de agosto, antes do acirramento da crise, para R$ 1,209 trilhão em novembro, os bancos públicos ampliaram em 13% as operações, de R$ 380,3 bilhões para R$ 429,7 bilhões no mesmo período, aumentando a participação no mercado em um ponto percentual, de 34,3% para 35,5%.
A expansão dos bancos públicos se deu às custas dos bancos privados, de capital nacional, que aumentaram as operações de crédito em 5,8% entre agosto e novembro, de R$ 494 bilhões para R$ 522,7 bilhões. A fatia de mercado dos bancos privados de capital nacional caiu de 44,5% para 43,2%. A participação restante está nas mãos dos bancos estrangeiros, que ficou praticamente inalterada.
No fim de 2007, os cinco maiores bancos concentravam 61,2% dos depósitos, percentual que subiu para 75,3% no fim de setembro, antes do pico da movimentação dos investidores e já incluindo o efeito das fusões. No mesmo período, a participação dos cinco maiores no crédito passou de 52,85% para 64,04% do mercado.
Torres afirmou que os bancos médios também estarão sob pressão na tendência de consolidação uma vez que seu retorno deve diminuir por causa do aumento dos custos de captação.