Os bancários e os vigilantes estão questionando a parceria entre os bancos e a Polícia Militar de São Paulo, que teve início na quarta-feira, dia 25, em diversas agências da capital paulista. O começo da operação Saque Seguro, como foi batizada pela Febraban, foi anunciado no site da entidade nesta quinta-feira, dia 26.
Segundo a Febraban, a operação reuniu no primeiro dia 32 policiais do Comando de Policiamento da Capital (CPC) e agentes da PM que já atuam nos bairros, e visitou 208 agências em São Paulo. Os PMs, diz nota no site, “realizaram patrulhas no entorno dos bancos, nos estacionamentos e foram recebidos pelos gerentes e funcionários das agências”.
A Febraban afirma que a operação visa combater o chamado golpe da saidinha, mas segundo reportagem do Jornal da Tarde, publicada nesta quinta-feira, a parceria “faz parte de uma estratégia montada pela corporação para combater crimes como ‘saidinha de banco’, sequestro de gerentes e roubos” e também para “evitar os ataques a caixas eletrônicos, que cresceram muito neste ano.”
A reportagem cita ainda informação da PM de que teriam sido visitadas 400 agências na quarta-feira, e que a corporação teria recebido dos bancos uma lista com endereços das agências com maior número de crimes, entre elas, diz o jornal, unidades no Morumbi, Jabaquara (zona sul), Santana (norte) e Butantã (oeste), onde “os gerentes assinam uma espécie de lista de presença trazida pelos PMs para comprovar que a ronda passou pelo local”.
Bancários exigem mais investimentos dos bancos
O diretor executivo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Daniel Reis, destaca que a entidade está preocupada com os riscos que a presença da PM nas agências podem representar à segurança dos trabalhadores e clientes.
“Os bancos podem e devem pagar pela própria segurança. Retirar efetivo das ruas, numa cidade tão necessitada de mais segurança como São Paulo, não se justifica”, diz Daniel, que participa da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada (Ccasp) da Polícia Federal para a qual o Sindicato levará o debate na próxima reunião no mês de junho.
O secretário de imprensa da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária, Ademir Wiederkehr, afirma que “não se pode confundir segurança pública e privada”. Para ele, os bancos precisam fazer a sua parte, investindo pesado na ampliação de equipamentos de prevenção para combater a “saidinha de banco”.
Ademir, que também participa da Ccasp, defende “a instalação das portas giratórias em todos os acessos destinados ao público, câmeras de vídeo para monitorar em tempo real os espaços de circulação de clientes dentro das unidades e nas calçadas e áreas de estacionamento, além de biombos entre a fila de espera e a bateria de caixas, bem como divisórias entre os caixas eletrônicos, dentre outras medidas”.
Vigilantes cobram responsabilidade dos bancos
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Vigilantes (CNTV) e participante da Ccasp, José Boaventura Santos, também ataca a parceria.
“É lamentável uma situação como essa, os responsáveis pela segurança nas agências são os bancos. O cidadão paga a polícia para protegê-lo e não para ficar a serviço dos bancos”, afirma o dirigente, destacando que em João Pessoa, na Paraíba, a adoção de medidas de segurança nas agências, como os biombos, conforme lei municipal, diminuiu em 90% os casos de “saidinha de banco”, segundo avaliação do Sindicato dos Bancários da Paraíba.
“A colocação de biombos, separando os caixas dos clientes, por exemplo, trouxe mais tranquilidade para todos os bancários, os clientes e os vigilantes que monitoram tudo por câmeras de segurança.”
Boaventura afirma ainda que as instituições financeiras sempre buscam subterfúgios para fugir de sua responsabilidade, que é dar total segurança a quem trabalha e frequenta as unidades bancárias.
“Quando eles estão com a imagem afetada, dizem que o problema é de segurança pública. Mas agora estão recorrendo à segurança pública para lidar com um problema que só compete a eles resolver, pois as agências são dos bancos”, conclui, afirmando que está a lado dos bancários nessa luta.