O 13 de maio do retrocesso

O Brasil viveu durante mais de uma década, a partir da eleição de um operário, em 2002, não só um período de desenvolvimento econômico em todos os setores da economia, como também de avanços importantes no campo social. Os brasileiros retomaram a esperança roubada pela ditadura militar. O projeto dos trabalhadores trouxe melhorias consideráveis para a população negra, maioria absoluta que ainda se encontra na base de uma das mais desiguais pirâmides sociais do mundo. Esta inclusão, longe de representar a igualdade de oportunidades por nós sonhada, promoveu avanços na qualidade de vida das pessoas que vivem nas regiões mais pobres do Brasil.

Utopia roubada

Programas de distribuição de renda, ganhos reais do salário mínimo, acesso às universidades através da política de cotas ou de fundos de financiamento do ensino, ampliação das vagas na educação infantil e escolas técnicas, foram algumas das medidas que desenharam, pela primeira vez na história de nosso país, um cenário que representou os primeiros passos para o resgate da utopia popular, de vivermos numa sociedade justa e de contínuo combate ao preconceito racial e a toda a forma de discriminação. Entretanto, este processo histórico foi rompido por um golpe de estado. Derrubado o governo democrático de Dilma Rousseff, os golpistas começaram, com uma pressa sem precedentes, e sem debater com a sociedade, a impor um projeto de desarticulação das políticas afirmativas, da retirada de direitos dos trabalhadores e da implementação de uma proposta econômica de subserviência ao grande capital e aos interesses de mercado, aumentando a concentração de renda, a desigualdade, o desemprego, a miséria e a injustiça social. Este projeto pratica os maiores ataques aos direitos trabalhistas de toda a história e afeta ainda mais negros e mestiços, que já sofrem historicamente com a imensa dívida social brasileira e o racismo de nosso processo civilizatório.

Retrocesso social

Negros e negras, ainda excluídos em favelas e periferias ou nas ruas das grandes cidades, voltam a ter suas esperanças castradas por uma elite racista e desumana. O governo Temer desmonta toda a estrutura da legislação trabalhista garantida pela CLT, pela Justiça do Trabalho e pela estrutura sindical e impõe uma política uma agenda neoliberal para aprofundar a miséria e as desigualdades.

Se antes, a população negra, livre da escravidão literal a partir da assinatura da Lei Áurea, em 1888, mas mantida inteiramente à margem da sociedade, já não tinha muito o que comemorar, que dirá agora, diante de tamanho retrocesso social. As oligarquias brancas, racistas, chegam ao ponto de apresentar, no Congresso Nacional, um projeto que substitui o salário por acesso à alimentação e moradia. Se o projeto das elites derrotar a reação popular, vamos retroceder às relações sociais e de trabalho do século XIX. Não é exagero afirmar que, além da simbologia, o retrocesso reafirma a figura do senhor da casa grande e do escravo da senzala. É o triunfo da visão etnocêntrica do colonizador, que vê o Brasil com o olhar de fora para dentro, de desprezo absoluto p elo Brasil e por seu povo.

A saída está no povo

Como nas revoltas dos negros que garantiram o fim da escravatura, novamente o povo brasileiro se vê diante de mais um desafio histórico, onde ele, negro e pobre, precisa ser o protagonista e sujeito histórico para derrubar este governo e este projeto que espolia todos os trabalhadores brasileiros. Precisamos, trabalhadores negros e brancos, lutar para derrotar este projeto racista e perverso, que torna o país ainda mais injusto e desigual, envergonhando o Brasil diante de uma opinião pública internacional perplexa e apreensiva com a nação que tem tudo, mas não consegue realizar a emancipação de sua gente. A solução, a saída para nossos impasses está mais uma vez, não nas elites, que patrocinam o projeto do governo Temer, mas no povo brasileiro, que precisa retomar as rédeas do processo histórico e social em busca da igualdade de oportunidades e da justiça social.  

“Vamos abolir a discriminação e promover a inclusão por mais contratação de negros e negras nos bancos”

*Almir Aguiar é o Secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro – CONTRAF-CUT

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