Dados foram apresentados na mesa temática de Igualdade de Oportunidades
Quase seis meses depois, a Fenaban apresentou finalmente à Contraf-CUT, federações e sindicatos o resultado do II Censo da Diversidade, realizado entre 17 de março e 9 de maio, durante a reunião da mesa temática de Igualdade de Oportunidades ocorrida na segunda-feira (3), em São Paulo. Os números foram também disponibilizados no site da Febraban, sem nenhuma citação à participação das entidades sindicais no processo.
“A realização do II Censo foi uma importante conquista da Campanha Nacional dos Bancários 2012. Tanto o primeiro censo, ocorrido em 2008, como o segundo, agora em 2014, são frutos da ousadia e da mobilização da categoria, após negociações com os bancos, trazendo informações valiosas para combater as discriminações e fortalecer a luta por igualdade de oportunidades”, afirma o presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários, Carlos Cordeiro.
Ele critica, no entanto, o fato de a Fenaban ter divulgado os números sem mencionar o protagonismo do movimento sindical e sem apresentar um plano de ação para corrigir as distorções verificadas na pesquisa como tinha sido feito ao final do I Censo. “Cobramos ações concretas e efetivas dos bancos para mudar esse quadro de desigualdades no setor financeiro e alcançar igualdade de oportunidades, tratamento e resultados nas relações de gênero, raça, orientação sexual e com as pessoas com deficiência”, salienta o dirigente sindical.
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Dados incompletos
Segundo análise preliminar da Comissão de Gênero, Raça e Orientação Sexual (CGROS) da Contraf-CUT, com a assessoria do Dieese, apesar de tanta espera, os dados exibidos estão incompletos. A Fenaban não separou os indicadores por bancos públicos e privados, impedindo a identificação das desigualdades, pois há diferenças no setor.
“Assim não é possível observar, por exemplo, qual é a verdadeira situação da população negra ou das mulheres em cada segmento do sistema financeiro”, explica Andréa Vasconcelos, secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT.
População LGBT
O II Censo foi respondido por 187.411 bancários, de 18 instituições financeiras, o que representa 41% da categoria. Uma novidade positiva foi a inclusão de perguntas voltadas para a população LGBT, reivindicadas pelo movimento sindical, buscando verificar a orientação sexual e a identidade de gênero. “Os representantes dos bancos eram contrários, mas diante da nossa insistência o tema foi incluído, mediante preenchimento opcional”, enfatiza Andréa.
De acordo com os dados apresentados, 1,9% dos entrevistados se declararam homossexuais e 0,6%, bissexuais. O II Censo mostra que 85% dos bancários são heterossexuais. Apenas 12,4% não responderam, o que significa baixa rejeição ao tema.
Em relação ao estado conjugal, 61,6% disseram que estão casados ou em união estável com uma pessoa do sexo diferente e 1,1% dos bancários disseram que estão casados ou em união estável com uma pessoa do mesmo sexo.
“Precisamos romper com as barreiras da indiferença, do silêncio e também dos insultos que perpetuam a homofobia. Democratizar o local de trabalho é o primeiro passo”, ressalta a diretora da Contraf-CUT.
População Negra
Conforme os dados do II Censo, houve avanço no número de negros no setor bancário. Eram 19% de negros na primeira pesquisa. Agora os funcionários que se auto definiram foram 24,7% dos entrevistados.
Os funcionários negros com curso superior e acima subiram de 59% para 74,5% entre os dois levantamentos. A grande falha, no entanto, é que não há um indicador voltado para a situação das mulheres negras nas instituições bancárias.
Mulheres ainda ganham menos
As mulheres apresentam melhor qualificação educacional em comparação aos homens nos bancos. No I Censo, 71,2% das bancárias tinham curso superior completo e acima. No levantamento de 2014, as bancárias com essa formação subiram para 82,5%. Para os homens, esse aumento foi de 64,4% para 76,9%.
Os dados apontam, porém, que as mulheres continuam ganhando menos que os homens. Nos seis anos que separam os dois censos, a diferença entre o rendimento médio das mulheres e dos homens caiu somente 1,5 ponto percentual. O rendimento médio mensal delas em relação ao deles era de 76,4% em 2008 e agora é de 77,9%.
“Quando olhamos para os dados relativos a gênero e renda, nós verificamos que, se o setor financeiro continuar neste ritmo, levaremos 88 anos para conquistar a igualdade salarial entre homens e mulheres nos bancos, segundo projeção do Dieese. Há também baixa presença de mulheres nas direções dos bancos, o que comprova a discriminação de gênero”, critica a diretora da Contraf-CUT.
Para Andréa, “essa diferença de remuneração e ascensão profissional é fruto da ausência de planos de cargos e salários com regras transparentes em todos os bancos”.
Pessoas com deficiência
Apesar de a Fenaban divulgar que ampliou as contratações de pessoas com deficiência, passando de 1,8% para 3,6% nos últimos seis anos, o número de bancários com deficiência motora caiu de 61,4% em 2008 para 60,7% em 2014.
No entanto, os dados do II Censo mostram que houve crescimento na admissão de pessoas com deficiência auditiva, a qual subiu de 12,2% para 22,8% e com deficiência visual de 3,9% para 11,8%.
“Contudo, vale ressaltar que a maioria dos bancos não cumpre a lei da cota de 5% de pessoas com deficiência, o que é inaceitável”, salienta Andréa.
Faixa etária e escolaridade
Entre 2008 e 2014, o número de funcionários e funcionárias do setor bancário com mais de 25 anos de trabalho passou de 10,4% para 14,5%. Na faixa de 45 a 54 anos, o percentual passou de 19,6% para 23,3% e na faixa de 55 anos ou mais, a oscilação foi de 1,3% para 6,9%.
Os bancários com curso superior completo e acima (mestrado, doutorado, pós-graduação), que representavam 67,7% em 2008, passaram a 79,6% em 2014. Se forem somados os que têm curso superior incompleto, incluindo os que ainda estão estudando em faculdades, a participação passa para 95,8%.
Análise dos dados
A Contraf-CUT, juntamente com a assessoria do Dieese, analisará todos os dados divulgados pela Fenaban e apresentará posteriormente uma reflexão crítica para o Comando Nacional.