Patrões usam terceirizados para tentar confundir deputados na CCJC da Câmara
A resistência da CUT e das demais centrais sindicais impediu a aprovação do PL 4330 na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados. O pequeno espaço do plenário, onde acontecem as reuniões no Congresso, tem sido tomado pelos trabalhadores para protestar contra a terceirização sem limites e a precarização do trabalho que o projeto representa, além de outros riscos para o emprego decente.
Entretanto, na manhã da última quarta-feira (14), o clima ficou tenso quando inúmeros militantes da CUT foram barrados de acompanhar a reunião da CCJC. Apesar do acordo dos líderes partidários no dia anterior garantir que o texto voltaria à pauta somente no próximo dia 3 de setembro, os trabalhadores queriam assegurar que nenhum deputado apresentasse um requerimento para antecipar a votação.
A indignação aumentou ainda mais quando “militantes” arrastados por empresários de empresas terceirizadas da segurança privada, atuando como se fossem trabalhadores interessados em se manifestar a favor do projeto, conseguiram ingressar no recinto para tentar confundir os deputados.
Quem comandava o bloco patronal era o presidente da Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist), Odair Conceição, junto com o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Vigilância, José Jacobson Neto.
Os “militantes” usavam camisetas brancas da Fenavist, enquanto donos de empresas estendiam faixas e cartazes e puxavam palavras-de-ordem em defesa da terceirização, dizendo que geravam empregos e pagavam impostos.
Os poucos manifestantes da CUT, Força Sindical e Nova Central que haviam conseguido entrar no plenário rebateram de pronto e abafaram as palavras-de-ordem dos patrões. “Terceirização é precarização”, “terceirização é sonegação” e “terceirização é escravidão” foram algumas das respostas dos trabalhadores às provocações dos empresários.
Patrões querem levar vantagem
O presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, salientou que a mobilização das centrais não é contra o trabalhador terceirizado e sim contra a precarização do trabalho. Ele explicou que “todo terceirizado sonha em ser contratado pela empresa onde presta serviço, mas nenhum contratado quer virar terceirizado”. O dirigente sindical alertou que, “se o PL 4330 for aprovado, o Brasil vai virar um país de trabalhadores terceirizados”.
O secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr, viu e criticou o movimento patronal. “Empresários da segurança privada, muitos contratados pelos bancos, estão apoiando o PL 4330 de olho na ampliação de seus próprios negócios e fazendo a defesa dos banqueiros, grandes interessados na aprovação do projeto por que poderão terceirizar até caixas e gerentes, aumentando ainda mais os seus lucros astronômicos”, apontou.
CUT ocupa CCJC e denuncia precarização
Os manifestantes da CUT que tinham sido barrados cansaram de esperar na porta pela autorização e forçaram a entrada na Câmara. “A CUT vai entrar”, gritaram mesmo agredidos por seguranças da Casa. “A CUT já entrou”, entoaram depois nos corredores a caminho da CCJC.
Apesar da truculência, os representantes da CUT ocuparam a CCJC e paralisam por 15 minutos o andamento da reunião, protestando contra a precarização e mostrando aos deputados que estão atentos a qualquer tentativa de manobra.
Eles deixaram o plenário dando o recado em coro aos parlamentares: “Terceirização é coisa de ladrão”, “arquivamento, já” e “ô, deputado, pode esperar, 2014 tem eleição”.
Projeto só interessa aos patrões
O presidente da CUT, Vagner Freitas, avaliou que essa situação mostra a necessidade de modificar a relação entre o Legislativo e a sociedade e aponta também a fragilidade do PL 4330.
“A Casa é do povo e podemos fazer uma manifestação pacífica, como todas as outras que fizemos, denunciando os prejuízos que esse projeto traz à classe trabalhadora. O que aconteceu merece nosso repúdio. Por que quem é contratado pelo patrão pode entrar e quem faz a legítima defesa da classe trabalhadora, não? Se os empresários precisam contratar pessoas para tentar fingir que os trabalhadores são a favor da proposta, esse texto só pode mesmo interessar aos patrões”, disse.
O secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, Miguel Pereira, também citou a necessidade de maior transparência na discussão sobre a proposta. “Quando você chega democraticamente para acompanhar uma comissão da Câmara e é impedido, há problemas com o cumprimento das regras democráticas. Ninguém estava agredindo ninguém e nem quebrando nada. O que estavam querendo esconder? O debate deve ser transparente”, disse.
O diretor do Sindicato dos Bancários de Guarulhos, João Cardoso, disse que conversou com alguns “militantes” dos empresários que passaram pela mobilização da CUT e ouviu deles que tiveram o ponto abonado e foram incentivados pelos patrões a irem à Câmara.
“Falamos com aqueles que passavam timidamente por nossa manifestação e, depois que entenderam o processo, disseram que estavam conosco. Explicamos que queremos dignidade e igualdade de direitos e isso não é ser contra o trabalhador terceirizado, ao contrário, é ser contra a precarização que a terceirização representa”, salientou Cardoso.
Mesa quadripartite retoma discussões nesta terça
A CUT e as demais centrais sindicais voltam à mesa de negociação com representantes de empresários, do governo federal e do Congresso para discutir o PL 4330 na manhã desta terça-feira (20), em Brasília.
A secretária de Relações do Trabalho da CUT, Maria das Graças Costa, alertou que a mobilização das centrais sindicais foi apenas um sinal do que a classe trabalhadora fará, se o projeto for aprovado como está.
“A CUT tem 30 anos de história e isso deve ser respeitado. Não vamos nos intimidar, continuaremos com nossa mobilização e a palavra de ordem é que se tire da pauta de vez o PL 4330 para fazermos a negociação. Dia 30 vamos parar o Brasil e os deputados que se preparem para 2014. Quem votar contra nós, quem for a favor de escancarar a terceirização em nome do lucro, para ter mais morte, mais adoecimento dos trabalhadores, será lembrado”, destacou.