Valor: venda da VisaNet reforça caixa de bancos. Bradesco lucra R$ 2 bilhões

Valor Econômico
Maria Christina Carvalho, de São Paulo

Dois dos maiores bancos brasileiros dimensionaram, ontem, quanto ganharam com a venda de ações que possuíam na VisaNet. Os recursos engordaram o caixa dos bancos e reforçaram as provisões. Alguns bancos como o Rural preferem irrigar o crédito.

A credenciadora de estabelecimentos comerciais que aceitam os cartões Visa concluiu na semana passada a maior oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) do mercado brasileiro. Considerando a colocação parcial dos lotes extraordinários, a operação garantiu R$ 8,397 bilhões para o bolso dos acionistas vendedores.

O maior ganhador foi o Bradesco que obteve um lucro bruto de R$ 2 bilhões com a venda das ações da VisaNet, já descontados custos da distribuição. O Bradesco tinha 39,26% do capital da empresa, equivalente a 535,8 milhões de ações; e, depois do IPO, ficou com 28,786%, ou 392,5 milhões de papéis. Cada ação saiu a R$ 15.

De acordo com fato relevante divulgado ontem, os recursos vão compor “o resultado deste segundo trimestre”. No mesmo fato relevante, o banco disse que o resultado do trimestre também será afetado por reforço adicional na provisão para devedores duvidosos de R$ 1,3 bilhão, “calculado a partir de modelos estatísticos próprios, com o propósito de suportar eventuais cenários cíclicos, com aumento dos índices de inadimplência e/ou alterações no perfil de risco da carteira de crédito”.

Ganho semelhante obteve a Visa International, que vendeu os 10% que possuía, amealhando pouco mais de R$ 2 bilhões.

Já o Banco do Brasil (BB) divulgou fato relevante em que informa ter contabilizado R$ 1,415 bilhão em receita antes dos impostos com a venda de 7,05% do capital da VisaNet. O banco reforçou as provisões em R$ 676 milhões.

O quarto maior ganhador com a operação foi o grupo Santander, que tinha perto de 15% da VisaNet e ficou com pouco menos de 10%, arrecadando R$ 1,2 bilhão.

Outro acionista relativamente importante era o grupo Itaú Unibanco, que zerou a posição de 1,26% do capital e levantou perto de R$ 260 milhões.

Além desses acionistas mais significativos, participaram da oferta cinco bancos: Alfa, BRB, HSBC, Panamericano e o Rural, além do Banco Santos, em liquidação.

O Banco Rural, contou o presidente João Heraldo Lima, tinha uma participação de apenas 0,10% do capital da VisaNet, que rendeu nada menos do que R$ 21 milhões no IPO – belo resultado considerando que o preço de contabilização dos papéis era de R$ 600 mil.

O banco também tem uma participação na Visa International que não foi vendida no IPO da empresa, feito em 2008.

Mas João Heraldo, ex-diretor do Banco Central e ex-secretário de Fazenda de Belo Horizonte, que preside o Rural desde o fim de setembro, prefere não contar com esse tipo de ganho.

Já em 2008 o Rural teve o melhor resultado em quatro anos. O lucro líquido saltou 90% para cerca de R$ 50 milhões, favorecido pela reversão de provisão devido a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) favorável ao banco em uma discussão sobre a respeito da base de incidência da Cofins. Ganhos extraordinários com a venda das ações da Bolsa Mercantil e de Futuros (BM& F) também ajudaram os números de 2007.

João Heraldo está empenhado em levar o Rural a registrar um bom resultado operacional. Seu objetivo começou a se materializar depois da criação do novo depósito a prazo com garantia especial (DPGE) do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). “Foi uma ação magistral do Banco Central. A medida teve uma eficácia extraordinária. A vida é outra”, disse João Heraldo.

O presidente do Rural contou que a simples criação do novo papel, com garantia até o valor máximo de R$ 20 milhões, contagiou positivamente também os CDBs emitidos sem garantia. “A percepção de risco diminuiu e desafogou o mercado como um todo”. A captação do Rural cresceu R$ 400 milhões, depois da criação do novo título, em abril, sendo que a emissão de CDB normal superou a do papel com garantia. No fim do primeiro trimestre, o Rural tinha R$ 1,5 bilhão em depósitos totais, de acordo com dados do Banco Central.

Isso permitiu a expansão do crédito. No segundo trimestre, a carteira cresceu R$ 360 milhões e deve fechar o semestre ao redor de R$ 1,3 bilhão. “Todo nosso dinheiro está indo para o crédito. Estamos recuperando clientes antigos e conquistando novos”, disse, lembrando que o Rural chegou a ter R$ 4,5 bilhões em crédito.

A carteira é composta por 80% de crédito para empresas médias e 20% de consignado, o inverso do mix anterior. As operações são de curto prazo, lastreadas em garantias, como recebíveis.

João Heraldo está entusiasmado com o lançamento do fundo de aval para crédito a pequenas e médias empresas. “A perspectiva para o crédito em geral é das melhores, com o ciclo de juros baixos”.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram