Valor Econômico
Maria Christina Carvalho, de São Paulo
Durou pouco a supremacia do Santander em agências no Estado de São Paulo. A compra do Real permitiu ao banco espanhol formar a maior rede no estado mais cobiçado do país, responsável por um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Mas, a fusão do Itaú com o Unibanco vai formar uma rede ainda maior no Estado.
Quando a compra do Real foi anunciada, há um ano, o Santander contabilizou uma rede de 1.190 agências no Estado de São Paulo, somando as suas 752 às 438 da filial do banco holandês. Com esses pontos, superou o Bradesco, então com 1.105 agências no Estado.
Agora, Santander e Real, juntos, já têm 1.206 agências. Mesmo sem aquisições, o Bradesco não perdeu tempo e chegou a encostar nesse número, com 1.201 agências, de acordo com dados de junho do Banco Central (BC). Ambos, porém, ficam atrás do novo banco que Itaú e Unibanco vão formar, com 1.285 agências. No Rio, Itaú com Unibanco também lideram de longe, com 629; depois vem o Bradesco com 286; e o Santander (com Real), com 256. No ranking nacional, porém, o Banco do Brasil (BB) continua à frente com 4.117 agências. Itaú com Unibanco, com 3.586 agências, deslocaram o Bradesco para o terceiro, lugar, com 3.205. Santander com Real vem em seguida, com 2.238 agências.
Rede de agências | São Paulo | Rio | Brasil |
Banco do Brasil | 781 | 276 | 4.117 |
Bradesco | 1.201 | 286 | 3.205 |
Itaú | 861 | 388 | 2.639 |
Unibanco | 424 | 241 | 947 |
Itaú+Unibanco | 1.285 | 629 | 3.586 |
Santander | 756 | 68 | 1.090 |
Real | 450 | 188 | 1.148 |
Real+Santander | 1.206 | 256 | 2.238 |
Fonte: Banco Central
Há uma década, os consultores decretaram o fim próximo das agências bancárias e sua substituição por bancos virtuais, com os quais os clientes operariam pela internet, telefone, couriers e máquinas de auto-atendimento (ATMs) dispersas pelas cidades. Alguns bancos exclusivamente com esse perfil chegaram a ser criados, inclusive no Brasil. Raros sobreviveram no exterior.
As agências continuam imperando, mais do nunca. Quando esteve há uma semana no Brasil para anunciar os planos de integração do Real ao Santander, o presidente mundial do banco espanhol, Emilio Botín, afirmou que não fecharia agências; pelo contrário, abrirá mais 400 nos próximos dois anos. “Para o Santander, a agência continua sendo o principal ponto de contato com os clientes, por isso continuamos abrindo agências ano após ano no mundo inteiro”, disse Botín.
O presidente executivo do banco espanhol, Alfredo Sáenz, acrescentou que a penetração dos produtos bancários ainda é baixa no Brasil e há espaço para aumentar a bancarização da população.
O presidente do Santander Brasil, Fábio Barbosa, detalhou que as novas agências serão abertas exatamente nas regiões onde o banco é mais forte, Sul e Sudeste, e nas grandes cidades. O Santander afirma deter uma participação de 16% do mercado da região Sudeste e de 10% da região Sul. Segundo Sáenz, está provado que um dos principais erros em uma fusão é o fechamento de agência.
A experiência do Unibanco confirma isso. O presidente do banco, Pedro Moreira Salles, afirmou que uma das coisas que mais se arrependeu foi ter fechado agências do Nacional, quando absorveu o banco, em 1995. “Acaba-se não conseguindo transferir todos os clientes de um espaço físico para outro”, lembrou.
“Já definimos que a rede será simplesmente somada. Todas são rentáveis. Há superposição, mas queremos crescer. Estamos fazendo um negócio olhando para frente”, resumiu Setubal. Ele acrescentou que as agências estão “repletas” de gente e não têm capacidade física de absorver mais clientes. O próprio Itaú tem aberto novas agências.
O consultor Rodrigo Dantas, diretor da Roland Berger, afirmou que, embora o discurso de manutenção das agências atuais tenha como objetivo evitar instabilidade em um momento delicado de transição, algumas deverão ser de fato fechadas, a médio e longo prazo. Em uma fusão, é natural que algumas agências sejam fechadas ou fundidas e outras abertas.
Ao dizer que agências não serão fechadas, a mensagem embutida, para Dantas, é que os ganhos de escala não serão obtidos prioritariamente na força comercial.
A realidade é que a decretação do fim das agências foi seguramente revista em troca de uma discussão “mais inteligente” a respeito de que tipo de agência o banco precisa.
Do lado do banco, a agência continua sendo o principal motor de relacionamento. Conforme explicou há diversos modelos de agências, desde a lotadas de baterias de caixas, mais destinadas à oferta de serviços, até as as menores com mais máquinas de auto-atendimento (ATMs) e mais gerentes.
Do lado dos clientes, “há a percepção de que a presença física é fator relevante para o cliente, mesmo que ele pouco vá à agência. Esse foi o aprendizado dos bancos virtuais. Um banco vive de credibilidade e a presença física demonstra força e solidez”, disse Dantas.