Valor Econômico
Vanessa Adachi e Tatiana Bautzer, de São Paulo
O Bradesco e a Porto Seguro estão em negociações para uma associação. As conversas têm ocorrido há meses, pelo menos desde o início do ano, mas agora encontram-se em estágio mais avançado e há perspectiva de acordo, segundo apurou o Valor. Os dois lados até mesmo já teriam trocado versões preliminares de contrato, mas não há nada fechado e a transação pode até mesmo não se concretizar.
O que está em discussão não é a transferência do controle da Porto Seguro. O empresário Jayme Garfinkel, que controla a seguradora, sempre foi taxativo diante das ofertas que recebeu ao afirmar que a empresa não estava à venda. Mas, se a negociação prosperar, o Bradesco assumiria uma posição acionária minoritária relevante na Porto Seguro, que continuaria sob o comando de Garfinkel.
Para um analista, um modelo de negócio que faria sentido seria transferir a carteira de automóveis da Bradesco Seguros para a Porto. O Bradesco poderia receber ações da Porto Seguro em troca. Garfinkel nunca escondeu seu interesse por essa área de negócios do concorrente. A Porto é líder desse mercado, com 2 milhões de veículos segurados e prêmios de mais de R$ 3 bilhões em 2008. A Bradesco é a terceira do ranking em veículos (atrás também da Sul América), com prêmios de R$ 2 bilhões no ano passado.
A união de forças criaria um gigante e faria bem aos negócios, pois a escala é fundamental para bons resultados no setor segurador. Bradesco e Porto Seguro não comentaram.
Depois da abertura de capital, em novembro de 2004, a família Garfinkel ficou com quase 57% do capital da seguradora, que só tem ações ordinárias. Os papéis negociados em bolsa correspondem a 43% do capital (e há uma fatia inferior a 1% nas mãos de conselheiros e administradores). O IPO (sigla em inglês para abertura de capital) serviu para dar saída ao cunhado de Garfinkel, Jaime Blay (marido de sua irmã Stela) e encerrar uma disputa societária dentro da empresa.
A Porto Seguro vale R$ 3,4 bilhões em bolsa, é a quinta maior seguradora do mercado brasileiro e a única entre as líderes que continua independente de um conglomerado financeiro (a SulAmérica, que não pertence a nenhum banco do país tem como acionista relevante o grupo holandês ING).
O Bradesco, acostumado a adquirir o controle das empresas que negocia estaria disposto a assumir um papel minoritário porque sabe que estaria dando um importante passo estratégico. Fecharia a porta para que um concorrente ingressasse no capital da Porto Seguro e se posicionaria para, no futuro, quem sabe, até mesmo assumir a empresa.
A operação teria um significado especial para o novo presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, que presidia a Bradesco Seguros até assumir o posto em março passado. Ele substituiu Marcio Cypriano na presidência com a difícil missão de dar uma resposta de peso aos acionistas diante da junção de Itaú e Unibanco. Há poucas semanas o Bradesco fechou a compra do Banco ibi, que pertencia à rede de varejo C&A, por R$ 1,45 bilhão. A perda da primeira posição no ranking de bancos privados parece ter mudado a estratégia do banco. Em abril, a Bradesco Seguros adquiriu uma fatia também minoritária, de 20%, no Laboratório Fleury, de análises clínicas.