Turista brasileiro usa menos cartão de crédito no exterior

Valor Econômico
Eduardo Campos e Felipe Marques

A participação do cartão de crédito nos gastos de turistas brasileiros no exterior em 2013 é a menor já registradas na série histórica do Banco Central (BC), que tem início em janeiro de 1995. A fatia média do meio de pagamento eletrônico no gasto recorde de US$ 25,3 bilhões foi de 49%, recuando de 55% vistos em 2012 e de 60% registrados em 2011. O indicador vem em queda desde março de 2011, quando o governo elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) das compras com cartão de crédito fora do país de 2,38% para 6,38%.

As maiores participações médias do cartão de crédito foram vistas em 1995 e 1996, quando o meio de pagamento respondeu por 67% das despesas dos brasileiros. Naqueles anos, foram gastos no exterior US$ 3,4 bilhões e US$ 4,44 bilhões, respectivamente. Em março de 2011, registrava 65% de participação, nível que nunca se repetiu.

Além da tributação, o vice-presidente sênior de produtos da Visa, Percival Jatobá, afirma que o comportamento da taxa câmbio também pesou para turistas usarem menos o cartão de crédito. Do começo de 2011 para cá, o preço do dólar subiu cerca de 40%. “É óbvio que esse aumento de preço faz com que os consumidores tenham uma preocupação maior, especialmente com um produto no qual não se tem a certeza sobre o fechamento do câmbio”, diz Jatobá. No cartão de crédito, o câmbio só é decidido na data de fechamento da fatura, que pode ser quase 40 dias depois da compra.

Ao mesmo tempo em que brasileiros estão usando cada vez menos cartão de crédito lá fora, para os turistas estrangeiros que visitam o país o dinheiro de plástico tem preferência de uso folgada. No começo da série histórica, em 1995, as despesas com cartão eram apenas 10% do que os estrangeiros gastavam no Brasil. Em 2013, esse percentual foi de impressionantes 75%, repetindo patamar dos últimos três anos.

Analistas do Credit Suisse veem uma relação entre o avanço da rede de captura de pagamentos eletrônicos no comércio brasileiro e o aumento do percentual de gastos de turistas estrangeiros com cartão nos últimos 18 anos. Em relatório recente, o banco defendeu que a forte preferência de turistas estrangeiros pelo uso do cartão de crédito no Brasil tende a estimular a indústria no ano da Copa do Mundo. O Ministério do Turismo espera que algo em torno de 600 mil turistas estrangeiros visitem o país na Copa.

Apenas para fins de comparação, do total gasto por turistas estrangeiros que visitaram a África do Sul na última Copa, 47% foi pago com cartão.

Em valores absolutos, o BC trabalha com um aumento dos gastos de turistas estrangeiros agora em 2014, reflexo da Copa do Mundo. Em 2013, os estrangeiros deixaram por aqui US$ 6,71 bilhões. A autoridade monetária prevê um déficit líquido na conta de viagens internacionais de US$ 19 bilhões em 2014, ante os US$ 18,632 bilhões de 2013, mas não detalha a sua composição, ou seja, de quanto seriam os gastos dos brasileiros lá fora e dos estrangeiros por aqui.

Estudo feito pela Visa, em 2013, com 12,6 mil viajantes de 25 países, mostra que no total de despesas com uma viagem (em média US$ 2,4 mil), 41% são gastos antes da partida e o restante depois. Na fatia desembolsada antes, grande parte é feita no cartão – como pagamento de passagens e reservas de hotel. Já na parcela despendida durante a viagem, os turistas preferem usar mais o dinheiro, dada a baixa aceitação do cartão em regiões como África e Oriente Médio, segundo diagnóstico da bandeira de cartões.

O impacto do aumento do IOF nos gastos com cartão de crédito no exterior pode servir como indício do que virá para os pré-pagos, quando forem divulgados os dados de janeiro. Em dezembro, o governo elevou a alíquota do cartão pré-pago no exterior para 6,38%, de 0,38%, deixando o dinheiro em espécie como o meio de pagamento mais barato para quem viaja para fora.

Cruzando os dados disponibilizados pelo BC, é possível chegar a uma participação aproximada do cartão pré-pago no total de gastos. Esse meio de pagamento começou a ganhar popularidade no fim de 2012, na esteira do aumento de imposto no cartão de crédito. A participação saltou a 13% do total, vindo de apenas 3% em agosto.

Ao longo de 2013, a fatia do pré-pago chegou a registrar máxima de 16%, mas fechou o ano com fatia média de 13%. Já o uso de moedas em espécie parece manter uma partição média de 30%, sem grandes oscilações ao longo do período de dados disponíveis, entre agosto de 2012 e novembro de 2013.

Pelas contas feitas pelas corretoras de câmbio a queda no uso do pré-pago ficou ao redor de 65% desde a elevação do IOF, e tal crescimento foi transferido para o uso do dinheiro em espécie.

De acordo com Jatobá, apesar da taxação, o pré-pago voltará em breve a registrar aumento de participação. “Acho que a escolha do consumidor será baseada não necessariamente no IOF e na taxa de dólar. Outras variáveis são consideradas como segurança e praticidade. Ele vai ponderar outros benefícios e facilidades além daqueles puramente financeiros”, diz o executivo, citando viagens de menores desacompanhados ou de funcionários de empresas como segmentos onde o pré-pago continuará a ter espaço.

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