O Banco do Brasil, presidido hoje pelo banqueiro Ademir Bendine, é o maior banco do país e um dos maiores do continente americano e investe parte de sua receita bilionária em investimentos como fusões, patrocínios e publicidade. Até aí, tudo certo dentro de suas prerrogativas. O que não dá para entender é o porquê de o banco não querer investir também nos seus trabalhadores.
“O banco vem investindo sistematicamente em diversas áreas, mas não olha para a sua própria casa. Lá, tem milhares de trabalhadores que dão duro o ano inteiro e também precisam ser ‘público alvo’ das ações de investimento sério da direção do banco”, afirma Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e integrante do Comando Nacional dos Bancários que negocia com a federação dos bancos (Fenaban).
Patrocínio
Para cumprir seu papel de instituição pública, o Banco do Brasil investe em diversas atividades, como esporte, cultura, meio-ambiente, negócios. “Entendemos a importância de investir no país, nas ações de brasileiros para o crescimento. Apenas não sabemos porque nada vem para os bancários, homens e mulheres responsáveis por os bancos terem condições de atuar”, diz Marcolino.
Atualmente, o banco investe no multicampeão vôlei brasileiro, nos times masculino e feminino, no não menos campeão futebol de salão, no ciclismo, tênis e também no iatismo. No lado cultural, mantém três Centros Culturais Banco do Brasil (CCBB), em São Paulo, Rio e em Brasília, com infra-estrutura e arquitetura privilegiadas.
Além de quarto centro cultural, itinerante. Há ainda a Fundação Banco do Brasil, que investe na educação, produção no campo, geração de empregos, meio-ambiente, dentre outros. Segundo a própria fundação, os investimento no início do século saltaram de R$ 25 milhões no ano 2000 para R$ 100 milhões, anuais, em 2006. No campo empresarial, patrocina também feiras, seminários e encontros de trabalho.
“Se é esse o princípio do banco público, e acreditamos que é, o banco tem de investir também em seus trabalhadores, incentivando a criação de empregos, valorizando a renda dos funcionários, as condições de trabalho”, acrescenta Luiz.
Incorporação – Aquisições também estão na parte alta da pauta da diretoria do banco, seja com Bendine ou com o presidente anterior, Antônio Francisco de Lima Neto. Só na compra da Nossa Caixa foram R$ 5,3 bilhões. Pouco depois, mais R$ 4,2 bilhões por metade do Banco Votorantim. Em menos de dois meses, quase R$ 10 bilhões despachados só para recuperar a liderança perdida após a compra do Unibanco pelo Itaú. Teve ainda a compra do Besc, R$ 685 milhões.
O Banco do Brasil só voltou à liderança no país com a inclusão dos ativos da Nossa Caixa no balanço do banco a partir de abril, mas desconsiderou no planejamento orçamentário a previsão de PLR os funcionários da Nossa Caixa. Além do custo da incorporação – exemplo a compra de todo o parque de informática – saiu dos cofres da Nossa Caixa e ao conversar com a representação dos trabalhadores afirma que não vai pagar a PLR para os bancários porque ela apresentou resultado negativo.
Por isso, desde o ano passado, quando se iniciaram os três processos de fusões no setor bancário brasileiro, o Sindicato vem cobrando transparência nos balanços e mudanças nas regras da PLR, para torná-la mais justa. A greve dos bancários tem de crescer a cada dia, para que essa situação seja mudada. Ademir Bendine está, ou deveria estar, analisando as simulações de PLR que os sindicatos apresentaram com o objetivo de elevar um pouco mais e dividir de forma mais justa o montante a ser distribuído aos trabalhadores.
Os sindicatos têm o maior interesse em encerrar a greve, mas isso só vai acontecer quando terminar a economia que os banqueiros querem fazer com os bancários. A responsabilidade está nas mãos dos donos dos bancos. Aos bancários cabe a indignação. Quanto maior a greve, maiores serão as conquistas dos trabalhadores.