Protesto na Espanha onde desemprego foi de 7,9% a 25,9% em sete anos
As centrais sindicais espanholas CCOO e UGT realizaram nesta quinta-feira manifestações em cerca de 70 cidades para celebrar o 1º de Maio com o mote “Sem emprego de qualidade não há recuperação”. Os sindicalistas condenam as medidas de austeridade que vêm sendo adotadas pelo governo desde o estouro da crise de 2009. Cortes de gastos sociais, contenção de políticas públicas, adoção de medidas recessivas que contêm o crescimento têm sido as exigências da Comissão Europeia para assegurar empréstimos aos países endividados.
A redução da taxa de desemprego no país de 27% para 25,9%, comemorada pelo governo, é contestada pelas centrais – “estamos diante de um imensa operação de propaganda”, alertou o secretário-geral da CCOO, Ignacio Fernández Toxo, ao final da manifestação na cidade de Bilbao.
Há sete anos, antes da crise, a Espanha tinha 1,7 milhão de desempregados (7,9% da população economicamente ativa); a taxa atual representa um contingente de 6 milhões de pessoas. Os sindicatos denunciam ainda a precarização do trabalho e a queda brutal na renda dos salários, o aumento da pobreza e da concentração de renda.
Na Alemanha, um dos países menos afetados pela crise, os sindicatos promoveram dezenas de protestos nas ruas das principais cidades do país, reunindo milhares de manifestantes. A temática é semelhante: “Um bom trabalho. Uma Europa social”. As manifestações pedem o fim das políticas de austeridade e ajuda para combater o desemprego no sul da União Europeia (UE).
A principal manifestação da Federação de Sindicatos Alemães (DGB) ocorreu em Bremen, onde o líder da organização, Michael Sommer, alertou para o impacto das polícias de “cortes” em países como Espanha, Itália e Grécia, e defendeu novamente a aplicação de um “Plano Marshall” – que representou ações sistemáticas do Estado voltadas a dirigir os países devastados pela guerra à recuperação econômica.
Sommer apoiou “investimentos milionários” em infraestrutura, energia e serviços sociais para criar emprego, e convocou os cidadãos a votarem nas próximas eleições europeia, em 25 de maio, para se obter uma UE mais justa e social. Os organizadores reclamam da política alemã, mas não esconderam sua satisfação diante de dois projetos aprovados nas últimas semanas pelo governo de coalizão formado pelos conservadores de Angela Merkel e os sociais-democratas: a reforma da previdência e a implementação de um salário mínimo interprofissional.
Na França, por outro lado, a clima de intatisfação social tende a se agravar. Apelando para valores como à “responsabilidade e a credibilidade internacional” da segunda maior potência da zona do euro, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, defendeu na terça-feira os maiores cortes de gastos públicos na história moderna da França.
Às véspera do 1º de Maio, o Parlamento francês acabou as medidas de austeridade com 265 votos pelo sim, contra 232 nãos. Houve 41 abstenções do Partido Socialista, o partido do governo, que em nada contribuirão para recompor a credibilidade da legenda, triturada pela adesão à cartilha da Comissão Europeia.
Nos Estados Unidos, o movimento sindical cada vez mais abalado, sobretudo no setor privado, tenta reagir aos ataques empresariais ao direito de organização. Um dos maiores sindicatos do país, o United Auto Workers (UAW), que representa os trabalhadores do setor automotivo, trava há dez anos batalha emblemática contra a fábrica da montadora Nissan instalada na cidade Canton, estado do Missippi.
A conduta da empresa na região reúne uma série de práticas que contrariam normas internacionais de direito do trabalho à organização – que vão desde a intimidação dos funcionários para que não deem vazão à campanha de sindicalização do UAW até ameaças de se retirar da cidade.
O presidente da entidade, Bob King, visitou na terça-feira (29) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sede do Instituo Lula. Ambos conversaram sobre a preocupação com a situação do movimento sindical e dos trabalhadores no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e na África. “Nos Estados Unidos, como a força do movimento caiu muito, uma melhora da economia não é transferida para os trabalhadores”, diz Bob King, que veio ao Brasil para participar dos eventos das centrais sindicais no 1º de maio.
O ex-presidente já chegou a enviar uma carta para o CEO da empresa, o brasileiro Carlos Goshn, sobre a luta dos trabalhadores locais pelo direito à organização sindical. Na mensagem, Lula comunica preocupação as dificuldades impostas à filiação sindical pela montadora e lembra que direito o de sindicalização é um direito humano universalmente reconhecido e uma exigência taxativa da Organização Internacional do Trabalho.
“Chega a ser difícil de acreditar – e me causa um sentimento de indignação – que a Nissan mantenha essa atitude de intransigência e intolerância em uma planta norte-americana”, escreveu.