Sindicalistas defendem Estado firme contra abusos do sistema financeiro

Seminário destaca papel dos trabalhadores no enfrentamento da crise

Com a presença de lideranças de mais de uma dúzia de países, o Seminário Internacional “O Movimento Sindical e os desafios globais”, realizado nesta quarta-feira (28), em São Bernardo do Campo, reiterou a necessidade de uma ação firme do Estado contra os abusos do sistema financeiro e em defesa da taxação das grandes fortunas.

Esta foi a tônica das manifestações da secretária-geral da Confederação Sindical Internacional (CSI), Sharan Burrow; do diretor do Departamento de Políticas Econômicas da DGB (Central Sindical Alemã), Mehrdad Payandeh; do professor doutor da PUC-SP, Ladislau Dowbor; do presidente da CUT, Vagner Freitas; e do secretário de Relações Internacionais da CUT, João Antonio Felício, no evento que integra as comemorações dos 30 anos da Central Única dos Trabalhadores.

“Neste momento em que o capital busca consolidar e ampliar a lucratividade avançando sobre nossos direitos, reafirmamos o papel da nossa unidade de ação para impedir retrocessos”, declarou João Felício, agradecendo a participação das cerca de 140 lideranças presentes.

Na avaliação de Sharan, feita durante vídeo conferência, a forma como a crise vem sendo enfrentada pelos governos europeus “nos mostra o que nós não devemos fazer”, pois “estão aprofundando a injustiça e a desigualdade”.

“É inaceitável que para garantir o interesse dos banqueiros, governos abram guerra contra os direitos, os empregos e salários dos trabalhadores. O que existe hoje em países como Espanha e Irlanda é uma ditadura, com uma lógica em favor do sistema financeiro que contagia toda a Europa”, acrescentou. Nesse momento, frisou, a Comunidade Europeia e o FMI estão minando a democracia ao atacarem direitos de uma forma sem precedentes em nossa história, o que vitima , principalmente “jovens, mulheres e migrantes”.

Conforme o professor Ladislau Dowbor, há uma fratura entre as áreas produtivas e o sistema financeiro, que se apropria da maior parte das riquezas e gera o caos por meio da desmedida especulação a que vem submetendo o conjunto da sociedade.

“Há uma reconcentração dramática da renda com a perda de controle sobre os processos, com Estados completamente fragilizados diante de poucas empresas. Atualmente, 147 grupos – 75% deles financeiros – controlam diretamente 40% da economia global. Eles se conhecem pessoalmente, estão juntos nos campos de golfe”, condenou.

Com base em inúmeros estudos dos próprios organismos internacionais, apontou Dowbor, fica claro que a economia real está sucumbindo cada dia mais à intermediação financeira, com o “enriquecimento fraudulento” de banqueiros e especuladores que “mamam o nosso dinheiro tirando do Orçamento dos governos os recursos que faltam para a sociedade”. No Brasil, citou, o cartão de crédito cobra juros de 238% ao ano. “E quem não paga, vai para o Serasa, que é uma multinacional. Quem não paga fica com o nome sujo e o que dizer do nome de quem cobra esses 238%?”, questionou.

Segundo o alemão Mehrdad Payandeh, “os efeitos colaterais da política neoliberal mostram que ela não é solução, mas uma catástrofe, pois em muitos dos países europeus já não há consumo”. “Temos 26 milhões de desempregados na Europa. Na Espanha e na Grécia, um em cada dois jovens, apesar da boa formação, não tem emprego. A economia grega hoje está 20% abaixo do nível de 2008 com o desemprego na juventude alcançando 56%. Dois entre três pequenos comércios fecharam. Inúmeras famílias estão tendo que entregar seus filhos para adoção”, alertou.

Diante desta verdadeira catástrofe, lembrou o dirigente da DGB, “é inaceitável que países se endividem para salvar bancos”. Para ele, “a primeira ministra alemã, Ângela Merkel, fortalece o lado patronal e adota ações para que os trabalhadores paguem a crise dos especuladores”, denunciou. Contra essa irracionalidade, ressaltou, a DGB propõe que seja adotado na Alemanha e nos 28 países da zona europeia um imposto sobre transações financeiras, a fim de que os especuladores sejam taxados, e os recursos arrecadados sejam utilizados para financiar a economia real.

“Só na Alemanha temos 53 mil pessoas ultra ricas, com mais de 30 milhões de dólares. Se taxarmos 3% desta riqueza teremos bilhões de dólares adicionais no Orçamento para obras, geração de emprego, fortalecimento da Previdência, colocando na economia real um dinheiro que está esterilizado na especulação”, defendeu. Payandeh acredita que este seria um “novo Plano Marshall”, transferindo recursos dos mais ricos para os mais pobres.

Para Vagner Freitas, o grande desafio do momento é justamente o de afirmar um projeto nacional de desenvolvimento inclusivo, com geração de emprego e distribuição de renda, para o que é imprescindível a ampliação dos investimentos públicos. “Nesse contexto, aumentar a taxa de juros para combater a inflação é criminoso. O governo não pode ceder aos banqueiros e rentistas, pois isso vai contra o Brasil”, destacou.

De acordo com o presidente cutista, a possibilidade de que a crise internacional viesse a impactar o país fez o presidente Lula convocar a população em 2008 a aumentar o consumo, “a não ficar ajoelhada e com medo”. “O crescimento do mercado interno precisa de políticas públicas”, enfatizou.

PRESIDÊNCIA DA CSI

Nos 30 anos da CUT, acrescentou Vagner, a Central retribui o imenso apoio recebido pelo sindicalismo internacional desde a sua fundação, colocando à disposição da CSI a indicação do companheiro João Felício, ex-presidente da CUT por duas gestões, atual secretário de Relações Internacionais e ex-presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) para presidir a maior entidade dos trabalhadores a nível mundial.

“João Felício é o companheiro mais preparado para levar a contribuição das Américas e fortalecer o trabalho da CSI. Contamos com a colaboração e os votos de todos vocês”, frisou Vagner, sob aplausos do plenário.

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