Sem perder identidade, BNB quer atuar também como banco comercial

Fabiana Lopes
Valor Econômico | De São Paulo

Depois de reformar seu modelo de governança e de reforçar a estrutura de recuperação e concessão de crédito, o Banco do Nordeste quer extrapolar suas fronteiras atuais de atuação. A instituição, que tem como principal objetivo financiamentos para o desenvolvimento da região Nordeste, quer ganhar maior espaço também como banco comercial, com foco em linhas de crédito a micro e pequena e empresa e capital de giro, além de crédito consignado.

Desde abril no comando do Banco do Nordeste, Nelson Antônio de Souza chegou à instituição junto com o antigo presidente, Ary Joel Lanzarin, e participou das reestruturações, que começaram em julho de 2012, ainda como diretor da instituição. Neste período, além de investir na abertura de agências, a diretoria reforçou a estrutura de concessão e recuperação de crédito e extinguiu as alçadas de decisão individuais, criando um novo modelo de governança.

As mudanças que ocorreram nesse período devem ser mantidas por Souza, mas o executivo quer, agora, levar a atuação do banco para além do que o mercado está habituado a ver.

“Não vamos perder nossa identidade de banco de desenvolvimento, mas queremos incomodar a concorrência na área comercial”, disse, em entrevista ao Valor, em São Paulo.

Se a estratégia se sustentar, o Banco do Nordeste deve ter como seus principais concorrentes dois outros bancos federais: a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, que hoje são parceiros da instituição. Recentemente, o banco de desenvolvimento firmou um acordo com o Banco do Brasil para que seus clientes pudessem sacar e checar o saldo em 1000 agências da instituição. Com a Caixa, o Banco do Nordeste desenha um convênio para atender os clientes nas casas lotéricas da região.

Os acordos são parte dos esforços da instituição para ampliar a presença na região Nordeste, o que inclui também a abertura de novas agências – estratégia que só passou a ser considerada, segundo Souza, com a chegada do antigo presidente em julho de 2012. “Estávamos há mais de 10 anos sem abrir agências. Não era uma política priorizada dentro das administrações anteriores. Até hoje não entendi porque. Nós entendemos que um banco tem que ter capilaridade”, disse. Em julho de 2012, o banco tinha 186 agências, ao fim do primeiro semestre de 2014 eram 278 e a expectativa é fechar 2014 com 308 unidades.

Essa expansão deve ser a base para o plano de crescimento do microcrédito. Hoje, o banco tem dois programas neste sentido, o CrediAmigo – com foco em empréstimos para capital de giro e pequenos investimentos – e o Agroamigo – que auxilia o custeio de pequenos investimentos rurais. “Somos o maior banco de microcrédito da América latina e os clientes precisam ter locais para receber os créditos concedidos”, diz Souza. No primeiro semestre, o banco reportou R$ 3,972 bilhões em contratações de crédito no segmento de microfinanças, com aumento de 25,7% em comparação ao mesmo período de 2013. A meta é terminar o ano com R$ 7,450 bilhões contratados neste segmento, o que representaria um avanço tímido, de apenas 6,2%, em relação ao ano passado.

O banco também espera utilizar a sua estrutura comercial para gerar crédito consignado, que pode, por exemplo, ser destinado a funcionários das grandes empresas com quem mantém relacionamento.

O executivo garante que a atual estrutura de funding do banco é suficiente para abranger essa estratégia mais ampla de atuação. Hoje, grande parte dos recursos da instituição vem do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) – instrumento de política pública federal operado pelo banco. Esse funding, porém, só pode ser utilizado exclusivamente pelo braço de desenvolvimento.

No primeiro semestre de 2014, foram concedidos R$ 9 bilhões em financiamentos, sendo que um total de R$ 4 bilhões foi feito com recursos do FNE. Para sustentar as operações na área comercial, segundo o executivo, o banco vai se valer de recursos já em tesouraria, emissão de títulos e depósitos – operações que já constam no balanço da instituição.

A nova atuação foi, segundo Souza, aprovada pela atual diretoria do banco, e se apoia na expectativa de ampliar o relacionamento com os clientes do braço de desenvolvimento, oferecendo serviços e produtos complementares. Também prevê colaborar para processo de bancarização da região e sustentar o atendimento ao microcrédito. Segundo o executivo, hoje, uma fatia importante dos recursos disponibilizados pelo banco acaba, no final das contas, sendo depositada em outros bancos concorrentes exatamente porque a instituição não tem uma estrutura comercial sólida.

O executivo critica as gestões anteriores do Banco do Nordeste por não terem explorado a área comercial e diz não entender porque recuaram nessa atuação. “Nos ano 90, houve uma decisão de diretoria de ‘desinvestir’ nessa área comercial. Pra mim, isso foi um erro, que nós temos que reparar agora.”

Mas mesmo com o plano aprovado pela nova diretoria, Souza admite que, para se consolidar no terreno comercial e expandir a operação de desenvolvimento, o banco ainda precisa tornar a concessão de empréstimos mais célere e consolidar o movimento de recuperação de crédito. Em 2013, uma equipe voltada para cobrança recuperou R$ 2,4 bilhões em crédito. Neste ano, foram recuperados R$ 800 milhões. A expectativa é também ampliar o portfólio de produtos e serviços, investindo em seguros e previdência.

Outro objetivo é ganhar maior eficiência no atendimento. A instituição investiu cerca de R$ 500 milhões em tecnologia nos últimos dois anos para melhorar, entre outros pontos, os terminais de autoatendimento e os canais na internet e no celular. Mesmo assim, novos avanços precisam ser feitos.

“Não fazemos, por exemplo, uma contratação de cheque especial, de uma conta garantida ou um financiamento de veículos nos nossos canais. Queremos ter uma tecnologia de ponta e um portfólio adequado”, diz o executivo, indicando que essa estrutura operacional já estará disponível para 2015.

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