O presidente Nicolas Sarkozy apresentará à cúpula do Grupo dos 20 (G-20) a proposta que a França já está adotando de fazer negócios apenas com os bancos que aceitarem os limites de remuneração para seus altos executivos. O sistema financeiro já declarou guerra à proposta de Sarkozy, que deve ser endossada pelo Brasil. Veja abaixo matéria da Bloomberg News publicada nesta quinta-feira 27 pelo Valor Econômico.
Pressão de Sarkozy contra bônus alarma executivos
Bloomberg News, de Nova York e de Paris
Michael J. Moore e Mark Deen,
O plano do presidente francês, Nicolas Sarkozy, de não fazer negócios com os bancos que não aceitarem os limites de remuneração para seus altos executivos, foi recebido com alarme por analistas e investidores dos Estados Unidos, onde o Citigroup e seis outras empresas socorridas pelo governo estão sendo questionadas pelas autoridades sobre como remuneram seus mais bem pagos executivos.
“Considero as declarações de Sarkozy ameaçadoras”, disse Bruce Foerster, presidente da South Beach Capital Markets, de Miami, e ex-executivo do Lehman Brothers.
O governo francês só contratará as empresas financeiras que aceitarem aplicar as regras aceitas pelos executivos bancários franceses, que incluem um adiamento, por três anos, de dois terços dos pagamentos de bônus, segundo disse terça-feira Sarkozy. Ele pretende levar suas propostas para a reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20) a ser realizada em Pittsburgh (EUA), da qual participará o presidente Barack Obama.
Sarkozy “vem a Pittsburgh e vai cochichar na orelha do presidente, que já mostrou uma certa disposição para dar ouvidos a esse tipo de pensamento”, disse Foerster. “O presidente Obama fez muitos comentários ferinos sobre os bancos e a remuneração nos bancos.”
Obama pediu que o seu “mestre especial” sobre remuneração, Kenneth Feinberg, crie diretrizes sobre os vencimentos dos executivos das empresas socorridas pelo dinheiro público americano, que também incluem o Bank of America e a General Motors. As medidas têm como meta reduzir os incentivos que levaram os executivos a assumir riscos excessivos e acalmar o clamor político contra os bônus pagos pela American International Group (AIG), cujas práticas de remuneração também estão sendo revistas por Feinberg. O porta-voz da Casa Branca Tommy Vietor recusou-se a comentar o assunto.
A expectativa das diretrizes de Feinberg, que tem cerca de dois meses para responder às propostas de remuneração, levou algumas empresas, como Bank of America e o Citigroup, a acrescentarem cláusulas em novos contratos de emprego, que dizem que parte da remuneração pode depender de aprovação ou limitações por parte do governo, segundo uma pessoa familiarizada com os contratos.
Na França, instituições como BNP Paribas e Société Générale concordaram com o adiamento e prometeram pagar um terço dos bônus em ações. Os bancos também se comprometeram a parar de oferecer desembolsos garantidos para os novos contratados.
Sarkozy quer que o G-20 estude a possibilidade de limitar a quantia total paga pelos bancos em bônus e de estabelecer limites à magnitude dos bônus individuais. Na de abril, em Londres, o G-20 comprometeu-se a estabelecer regras mais rígidas para remuneração de executivos de bancos.
“Vou lutar em Pittsburgh para ampliar os compromissos assumidos em Londres”´, disse Sarkozy. “O problema é mundial e tem que ser tratado mundialmente. A França não vai aceitar uma posição mínima nem esperar para agir.”
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que apoia o plano de Sarkozy de adiar o pagamento de bônus e a sua posição favorável a limites mais rígidos. Ela disse que os dois líderes vão discutir a questão antes da reunião do G-20.
Sarkozy diz que quer que a França “sirva de exemplo” quanto ao pagamento dos executivos de bancos. Isso equivale a fazer pressão política sobre líderes como o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e Obama.
“Se eles se recusarem a fazer o mesmo que nós, terão que explicar isso a seus cidadãos”, disse René Ricol, a quem Sarkozy nomeou ombudsman no ano passado, para garantir que os bancos continuassem a conceder crédito.
O governo de Sarkozy, que tem planos de realizar a venda recorde de ? 155 bilhões (US$ 216 bilhões) em títulos este ano, regularmente contrata bancos estrangeiros para vender bônus e fazer outras transações.
O governo francês contratou o Barclays e o HSBC para participarem da gestão da única emissão consorciada de bônus realizada este ano, uma oferta de ? 6 bilhões de bônus de 30 anos, em 23 de junho. O negócio também foi administrado pelo BNP Paribas, o Credit Suisse e a Société Générale.
“Isso é um ataque maluco de demagogia”, disse Michael Holland, gestor de mais de US$ 4 bilhões na Holland & Co. de Nova York. “Os melhores e mais qualificados executivos de bancos vão para os lugares onde são remunerados pelo seu trabalho, o que significa que Sarkozy vai fazer negócios apenas com aqueles que não têm os mais altos graus de excelência.”