Santander vai compensar as vítimas de Madoff

Joanna Chung e Victor Mallet
Financial Times, de Nova York e Madri

O banco espanhol Santander, cujos clientes perderam 2,33 bilhões de euros na suposta fraude do administrador de fundos americano Bernard Madoff, tornou-se ontem a primeira instituição financeira a oferecer compensação às vítimas em uma tentativa de antecipar-se a disputas judiciais e preservar sua reputação.

O banco disse que pagaria 100% do investimento feito no fundo Optimal Strategic US Equity, que foi totalmente investido com Madoff a clientes pessoas físicas do private banking mas não a investidores institucionais. Em troca, os clientes terão que concordar em não acionar o banco e deverão mantê-lo como fornecedor de serviços financeiros.

O acordo envolve 1,38 bilhão de euros. Os clientes receberão ações preferenciais do Santander, que pagam 2% de dividendos anualmente e poderão ser recompradas em 10 anos.

O custo real do Santander com a operação é estimado em 500 milhões de euros e será absorvido nos resultados de 2008, que serão anunciados na próxima semana. A diferença entre a quantia oferecida e as perdas de 2,33 bilhões de euros anunciadas cabe aos clientes institucionais, aos quais nenhuma oferta foi feita.

O Santander é o banco cujos clientes foram mais afetados pelo escândalo Madoff, atingindo pessoas na Espanha e América Latina. US$ 300 milhões eram de brasileiros. Apenas as administradoras de investimentos americanas Fairfield Greenwich e Tremont revelaram perdas maiores.

A oferta do Santander surgiu um dia depois de algumas vítimas do esquema de pirâmide de Madoff entrarem com a primeira ação contra o Santander e o fundo Optimal. A ação deu entrada na Flórida e acusa o banco de negligência grave.

A firma de advocacia espanhola que trabalhando para centenas de investidores que perderam dinheiro no esquema está tentando juntar um grupo multinacional de advogados para buscar compensações dos bancos que venderam fundos relacionados a Madoff em pelo menos 17 países.

“Acreditamos que esta é a primeira fraude global a afetar a confiança entre os clientes e as instituições financeiras, os bancos”, disse ao “Financial Times” Javier Cremades, da Cremades & Calvo-Sotelo. “Estamos selecionando firmas de advocacia em todas as jurisdições para que possamos fornecer uma resposta global a esta fraude global.”

Cremades disse que sua firma está representando cerca de 600 clientes – 400 indivíduos e 200 instituições como fundos de hedge e fundações universitárias – da Espanha, Suíça, Israel e América Latina. A maioria era cliente do Santander ou sua subsidiária Banesto, mas outros bancos envolvidos incluem o Fortis, UBS, Caja Madrid e o Banco Espírito Santo.

O litígio que está sendo preparado por Cremades e seus colegas, incluindo a ação civil pública na Flórida, vai argumentar que os bancos adulteraram os produtos como se eles apresentassem riscos baixos e não realizaram as devidas diligências.

“Eles querem seu dinheiro de volta”, disse Cremades sobre seus clientes. “Eles não querem litígio…Mas se não chegarmos a um acordo, vamos entrar em disputas legais em todas as jurisdições, incluindo os Estados Unidos.”

Ele propôs uma reunião de cerca de 50 advogados em Madri em 5 de fevereiro, o mesmo dia em que o Santander deverá anunciar um lucro líquido de cerca de 9 bilhões de euros para 2008.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram